Publicado em 10 de março de 2018 às 01:48
O juiz Felipe Leitão Gomes, de Fundão, recebeu denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual contra o ex-prefeito de Fundão Anderson Pedroni (PSD), acusado de liderar uma organização criminosa para compra de votos de vereadores. O objetivo seria fazer os parlamentares aprovarem um decreto legislativo que pretendia tornar Pedroni elegível nas eleições de 2016.>
Pedroni havia tido as contas de prefeito rejeitadas pela Câmara, em 2012, e acabou cassado. Ele foi prefeito interino por cerca de sete meses, entre 2011 e 2012. Os revéses fizeram com que ele fosse pego pela Lei da Ficha Limpa. Mesmo sendo o mais votado de 2016, acabou barrado.>
Além das batalhas na seara jurídica, Pedroni lançou mão de uma série de atitudes criminosas, segundo o Ministério Público.>
Cada qual com seu envolvimento específico, constituíram e integraram organização criminosa, para o fim de obter a compra de votos de vereadores de Fundão, oferecendo dinheiro, cargos públicos e outras vantagens pessoais indevidas, em troca de apoio em todas as etapas dos procedimentos legislativos que visavam desconstituir as causas de inelegibilidade de Anderson Pedroni, diz a denúncia assinada pelo promotor Egino Rios.>
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O grupo pretendia aprovar um decreto que daria a Pedroni a chance de ter as contas novamente apreciadas na Câmara. Com uma maioria favorável, as contas seriam aprovadas com ressalvas e o político teria mais chance de reverter o indeferimento da candidatura.>
CENTRAIS>
De acordo com a denúncia, faziam parte do núcleo da organização criminosa, além do ex-prefeito, o presidente do PSD da Serra, Flávio Serri, e o empresário Marcos Antunes. Tinham inequívoco interesse pessoal no êxito da empreitada, uma vez que, dentro do esquema, em troca de apoio, seriam agraciados com promessas de cargos públicos, influência política e direcionamento de contratos administrativos no âmbito do Poder Executivo Municipal de Fundão, narra a denúncia.>
Em conversa telefônica com Flávio Serri, interceptada com autorização da Justiça, Pedroni refere-se a Marcos como seu patrocinador e que, com a vantagem, partiria para cima deles. Na interpretação do promotor, o político estava sugerindo que teria condições de oferecer vantagens indevidas em troca de apoio político.>
Na mesma conversa, Flávio, aparece como o responsável por elaborar a minuta do texto que deveria ser aprovado. Ele disse que o escreveria dentro da Câmara, mas foi desaconselhado por Pedroni, que alertou para a presença de opositores.>
DINHEIRO>
Além de cargos, houve oferta de dinheiro, segundo a denúncia. Cerca de 30 dias antes da eleição de 2016, houve uma reunião em uma empresa de Marcos Antunes. O empresário, Pedroni e Serri chamaram dois vereadores que estavam sendo pressionados a votar como os denunciados queriam.>
Pedroni orientou que todos os presentes desligassem os aparelhos celulares. Na sequência, falando em seu nome e de seu grupo, ofereceu a quantia de R$ 15 mil para cada um dos vereadores presentes, conta a denúncia.>
A outro vereador também foi oferecida ajuda em seus anseios políticos, com promessa de cargos comissionados na prefeitura e ajuda financeira para cobrir as despesas de campanha à reeleição como vereador. Os parlamentares negaram ofertas de dinheiro, conforme a denúncia.>
Os outros denunciados foram o vereador Janilton Carli (PDT) e o então presidente da Câmara, Carlos Augusto Tófoli (Rede). Eles são apontados como braço político-operacional da organização criminosa. Tófoli disse em depoimento ao MPES que a ele foi perguntado quando dinheiro ele queria para agilizar a tramitação do decreto. O último denunciado é o vendedor Wagner Poltronieri, acusado de dar apoio e suporte aos principais denunciados.>
Os crimes variam entre organização criminosa, corrupção ativa e usurpação de função pública.>
A promotoria chegou a pedir a prisão preventiva do grupo, por entender que eles continuam tendo influência na administração municipal. O juiz negou o pedido por não vislumbrar continuidade dos crimes apontados.>
Há uma linha tênue que divide o exercício da política partidária sadia com aquela fundada no fisiologismo, lembrou o juiz, na decisão de 6 de março.>
DEFESA REBATE E ALEGA "CONVERSA POLÍTICA">
O advogado de Anderson Pedroni e de Carlos Augusto Tófoli, Felipe Osório, afirmou que a denúncia não apresentou nenhum fato novo e destacou que não houve perícias em documentos nem quebra de sigilo bancário.>
Também sublinhou que as conversas interceptadas são diálogos políticos, sem ligação com crimes. Todos esses fatos já foram elencados. A polícia ficou mais de um ano com esse inquérito e não teve perícia, não teve quebra de sigilo bancário. O que teve foram conversas telefônicas de política, pontuou.>
Osório disse que Carlos Augusto não deveria estar respondendo ao processo. É um homem do interior, vive de agricultura. Algumas pessoas ligaram para ele porque ele é líder político de um lugar pequeno, frisou.>
NOTIFICAÇÃO>
Advogado de Flávio Serri, Fábio Modesto informou que ainda não havia sido notificado sobre os últimos andamentos do caso e, portanto, não teria condições de se manifestar.>
O empresário Marcos Antunes, procurado por meio de sua defesa, disse negar todas as acusações feitas sobre ele.>
Janilton Carli e Wagner Poltronieri não foram localizados para comentar o caso. Os advogados deles também não.>
REGISTROS FORAM DESTRUÍDOS>
A análise dos materiais apreendidos revelou, segundo o Ministério Público Estadual (MPES), que os denunciados tinham acesso a informações privilegiadas sobre a investigação contra eles. Eles ficaram sabendo de uma operação de busca e apreensão antecipadamente e tiveram tempo para apagar e destruir registros de contatos e provas mais relevantes acerca de atuação ilícita.>
A investigação foi iniciada pelo Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas (Nuroc) e pela Delegacia de Crimes Contra a Administração Pública. Segundo o MPES, a operação policial de busca e apreensão que confiscou o celular na casa de Pedroni, no dia 21 de fevereiro, mostrou que ele, de propósito, danificou o aparelho para ocultar provas dos crimes praticados pelo grupo.>
Quando foi questionado sobre o motivo do aparelho estar quebrado, surgiram contradições do ex-prefeito.>
De acordo com a denúncia do MPES, primeiro ele disse que a mulher dele, a atual vice-prefeita, Alexsandra Schunck Rodrigues (PSD), arremessou o telefone na parede durante uma briga do casal.>
Em outro momento, alegou que ele mesmo quebrou o telefone com as mãos na noite anterior à operação porque a mulher dele teria descoberto possível traição.>
Já no depoimento formal prestado aos investigadores, Anderson Pedroni disse que quebrou o telefone pela manhã, pouco antes da operação, por ter ficado nervoso durante uma briga conjugal.>
A polícia, então, colheu depoimento de Alexsandra. Ela contou que nem dormiu em casa na noite anterior à operação e que não houve nenhuma briga conjugal.>
A equipe de investigação apontou que Alexsandra não se encontrava no imóvel do casal no dia da diligência, sendo certo, diante das circunstâncias, que Anderson Pedroni, em atitude desesperada e intencional, destruiu o objeto assim que soube da chegada dos policiais à residência, escreveu o promotor Egino Rios.>
O advogado do ex-prefeito, Felipe Osório, informou que o telefone foi danificado porque o político estava nervoso, mas que os dados do aparelho não foram prejudicados.>
DESPACHO>
Mesmo sem vínculo formal com o município, Pedroni fazia reuniões políticas no gabinete do prefeito interino. Depois, o aliado dele, Pretinho Nunes (PDT), sagrou-se o vencedor da eleição suplementar. Em fevereiro, Pedroni foi nomeado enfermeiro da prefeitura.>
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