Publicado em 9 de julho de 2019 às 00:45
A 13ª Vara Cível Especializada Empresarial, de Recuperação Judicial e Falência de Vitória agora é só uma Vara cível comum. Anseio por agilidade e qualidade nas decisões de uma área sensível caiu por terra>
O objetivo de uma Vara especializada, com um juiz que atua apenas em determinada área, é dar mais qualidade e agilidade a decisões em meio a um Judiciário que, via de regra, é lento. A 13ª Vara Cível Especializada Empresarial, de Recuperação Judicial e Falência de Vitória passou a concentrar, assim, não somente os casos descritos no próprio nome, mas todos os processos envolvendo empresas de todos os municípios da região metropolitana.>
Era para ser uma coisa boa. Não foi. Desde esta segunda-feira (08), com a publicação da Resolução 019/2019, ela agora é 13ª Vara Cível. Mas é o apelido de Vara do PIB Capixaba que se destaca no relatório da inspeção que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) realizou no Espírito Santo este ano. E foi do Conselho que partiu a recomendação, não de nova nomenclatura, mas de reestruturação da Vara, que acabou desmembrada pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES).>
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A proposta de restringir a atuação já havia sido levantada pelo corregedor-geral de Justiça, desembargador Samuel Meira Brasil Jr. Mas o Pleno do TJ foi além e decidiu transformar a unidade em uma Vara cível comum, que vai tratar de questões empresariais e variadas outras, até briga entre moradores de condomínio, como as demais.>
O fato é que pela Vara de Falência passaram ao menos dois juízes sobre os quais pesam suspeitas agora investigadas pelo TJES e eles até foram afastados das funções em meio à apuração. Entre as suspeitas, transações financeiras mal explicadas. Isso numa Vara por onde tramitam casos que movimentam altas cifras.>
Foi essa a situação destacada na sessão do Pleno da última quinta-feira, que selou o destino da unidade. Mas, a rigor, sem mencionar a possível prática de desvios funcionais, outro problema já despontava naquela que, como registrou o CNJ, é uma das Varas mais problemáticas detectadas na inspeção.>
"Do ponto de vista de funcionamento, um despacho que tinha urgência você aguardava por meses. A prestação jurisdicional já era precária. O volume dessa Vara nos últimos três anos aumentou muito porque as empresas começaram a pedir recuperação judicial em série. Advogo em (Direito) empresarial há mais de vinte anos e nunca vi nada parecido, tantas empresas quebrando ou pedindo recuperação", destaca o advogado Danilo Carneiro.>
Ele avalia que, emergencialmente, o desmembramento é positivo, e as suspeitas sobre os juízes que por lá passaram "um complicador", embora não faça juízo de valor quanto a isso. "A gente não pode ter superjuízes", pontua. Carneiro também espera que, futuramente, Vitória volte a ter uma Vara especializada, tamanha a complexidade dos casos e a necessidade de respostas rápidas. "Um mês ou dois para uma decisão pode ser decisivo para uma empresa sobreviver ou não".>
Já Carlos Augusto Mota Leal, também advogado, defende a especialização em busca de mais qualidade e agilidade. "Faz-se uma alteração porque em tese a área exclusiva traz mais corrupção. Problema de corrupção se resolve com ética. Desmembrar para reduzir corrupção é um retrocesso. Não se pode admitir corrupção em lugar nenhum".>
Para a Comissão de Direito Empresarial da OAB-ES, "a preocupação é como serão recepcionados os processos de falência e recuperação judicial pelas outras Varas, uma vez que são matérias e ritos muito específicos".>
O ótimo é inimigo do bom? Não necessariamente. O próprio CNJ já recomendou a criação de Varas especializadas no país e não é porque problemas ocorreram que a ideia deve ser sepultada. Mas não deixa de ser lamentável que fatores externos à organização judicial relações e transações suspeitas e até a crise econômica tenham contribuído para dar fim à iniciativa. O excesso de concentração também deu uma "força" para isso. Não precisava, talvez, deixar na Vara de Falência todos os casos envolvendo disputas societárias, por exemplo. Agora Inês é morta.>
Mas em relação a uma coisa não se pode tergiversar: faz bem o Tribunal de Justiça ao não deixar suspeitas sem resposta. O custo pode ser alto, mas o custo da omissão seria maior.>
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