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Mãe de ciclista morto em Vitória: 'Destruíram minha família por nada'

Mãe de ciclista morto em Vitória: "Destruíram minha família por nada"

O ciclista Carlos Renato Souza foi morto durante um assalto no dia 14 de maio, em cima da Cinco Pontes

Publicado em 18 de maio de 2019 às 02:59

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Enquanto beijava e acariciava a foto do filho, a dona Delma Luíza Ferreira, 70 anos, lembrava como os dois eram ligados. Com lágrimas nos olhos, ela contou que os últimos cinco dias foram os mais difíceis da sua vida.

 

Quais as lembranças que a senhora tem do Carlos Renato?

Eu só tenho boas lembranças dele. Ele era um filho muito especial, muito bom. Ele era boa pessoa para todo mundo. E hoje eu tenho ainda mais certeza disso porque todo mundo chega para falar bem dele. A igreja ficou lotada de gente, amigos. Ele foi nascido e criado aqui em Rio Marinho. Dá muito tristeza saber que nunca mais ele estará com a gente pessoalmente, só no pensamento. Tiraram um pedaço de nós. Ele era um paizão, um filhão. Colocava os filhos na bicicleta e saía. Eu mandava ele ter cuidado, ele dizia: “mainha, tô acostumado, pode deixar que eu vou devagar”. Era direto esse chamego. As crianças eram a vida dele. Ele também tinha um chamego danado com a avó. Até pensei: “como vou dar essa notícia para minha mãe, que vai fazer 90 anos?” Ela sentiu muito, até passou mal.

Carlos Renato Souza. (Reprodução | Facebook)

Vocês eram muito ligados?

Muito. Chegava dia de domingo ele me chamava: “mainha, vamos passear, vamos almoçar”. Eu dizia que não queria sair de casa e ele falava: “coloca sua roupa aí que nós vamos sair, sim”. E me levava para a casa da sogra dele, da cunhada, para passear... Ele nunca me deu desgosto. Eu estou arrasada porque nunca pensei em perder um filho. Isso nunca passou pela minha cabeça. A gente sabe que uma hora todo mundo vai embora, mas não passava pela minha cabeça que eu ia perder meu filho. Eu só pedia para Deus proteger ele, mas não pensava.

Desde criança ele gosta de esportes?

Ele ia jogar futebol e gente ia junto para torcer. Toda vida ele gostava de bicicleta. Como começou a se envolver com corridas e esportes, ele conseguiu uma bicicleta. Também falava de moto, mas eu tinha medo. Agora eu vejo que ter qualquer tipo de bem material é perigoso. Quando tem que acontecer não tem jeito. Meu filho estava vindo cansado do serviço e acontece isso... Coisa que eu nunca esperei. Ele gostava de fazer caminhada, montanhismo e agora em setembro ele ia realizar o sonho de pular de paraquedas. Era a única coisa que faltava fazer. Eu falei: “não vai, eu tenho medo”. Mas infelizmente ele foi embora de forma tão cruel. Tiraram um pedaço de mim. Tiraram o meu chão.

Como foi o último domingo juntos?

Foi a despedida. Ele chamou a gente para almoçar na casa dele. Fez almoço, chamou os irmãos, queria todo mundo lá. Eu disse que não ia sair, que queria que eles viessem para minha casa. Meu filhoe falou: “vem sim. Eu quero a senhora com a gente”. Chegando lá, ele estava todo feliz porque tinha mudado de casa e estava comemorando em família. Era a despedida, né?

Delma Souza, mãe do ciclista Carlos Renato Souza, vê foto de casamento do filho. (Carlos Alberto Silva)

Como vai ser agora?

Tem sido os dias mais difíceis da minha vida. Quando eu soube, não quis acreditar que era meu filho. Mesmo colocando a mão nele, no caixão, eu esperava não ser ele. Eu queria era ele comigo. Agora fica só a saudade. E os netos, herança que deixou pra mim. Deus vai abençoar a gente para cuidar das crianças. Ele tinha paixão por esses meninos. Vamos apoiar a mulher dele porque ela é nossa família também.

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A gente sempre falava da violência, para ele tomar cuidado. Mas a gente nunca espera. Ainda mais por conta de uma bicicleta, algo que não passa de um pedaço de ferro. Não dá pra entender o que eles ganharam com isso. Destruíram a minha família por nada. Agora a gente quer justiça. Que os assassinos fiquem presos por muito tempo.

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