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Publicado em 28 de fevereiro de 2024 às 10:04
Quem sempre gosta de ter chocolate no carrinho de compras deve ficar atento. No período que antecede a Páscoa e ao longo de 2024, a previsão é que o preço mais 'salgado' se contraponha ao doce sabor da guloseima. >
O motivo do chocolate ficar mais caro pode ser explicado pela alta no custo da amêndoa do cacau, principal matéria-prima, ao longo de 2023 e neste início de 2024. O custo da amêndoa está mais elevado devido a variações climáticas que ocorreram na África e reduziram a produtividade dos dois países protagonistas — Costa do Marfim e Gana — no fornecimento do produto para as fábricas de chocolate.>
Isso fez a commodity atingir alta recorde, a maior das últimas décadas, segundo analistas de mercado. A Bolsa de Valores de Nova York, que é a referência para precificação no Brasil, negocia o cacau atualmente em torno dos 6,5 mil dólares a tonelada, enquanto há um ano estava abaixo de 3 mil dólares, segundo explica Leonardo Rossetti, analista de inteligência de mercado da StoneX.>
Para Anna Paula Losi, presidente executiva da Associação das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), mesmo tendo produção de cacau, o Brasil acaba sendo impactado pelas variações internacionais por não ser autossuficiente na produção das amêndoas. A incerteza acaba trazendo a alta dos preços e isso impacta no Brasil e no mundo globalizado.>
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"Estamos batendo todos os recordes de preço dos últimos 40 anos. A perspectiva é que essa alta ainda perdure por um tempo. O que pode vir segurar a alta vai depender da questão climática e da retração da demanda. Se isso acontecer, aí o preço pode voltar a ter maior equilíbrio. Mas, por enquanto, a expectativa do mercado é de alta durante o ano de 2024", frisa. >
Rosetti explica que a alta no preço também tem impacto nos produtores derivados do cacau, como a manteiga e o cacau em pó, visto que os preços são vinculados ao valor que o fruto é negociado na bolsa. Dessa forma, a expectativa é de alta no preço do produto final — o chocolate. >
"Além do cacau e derivados, o açúcar também subiu bastante. Mas a alta nunca é repassada totalmente para o consumidor final; os preços são repassados aos poucos. Entre as alternativas está o aumento de preço ou diminuição do tamanho dos produtos", avalia o analista.>
Entre os motivos para a alta da commodity estão impactos climáticos na região dos maiores produtores de cacau, Costa do Marfim e Gana, que respondem por mais de 60% da produção mundial. Um deles é o harmatã, fenômenos de ventos secos e poeirentos que sopram do Saara deixando o clima mais seco nos países africanos. Isso acaba afetando a produtividade e os índices de umidade da planta. O El Niño também aumentou as temperatura e diminuiu a chuva em algumas regiões, o que também afeta a produtividade.>
Além disso, segundo Rossetti, doenças têm atingido os cacaueiros dos países africanos e há um quadro de trabalhadores migrando para outras culturas, como a borracha. A safra na Costa do Marfim começa em outubro e termina em setembro.>
Leonardo Rossetti
Analista de inteligência de mercado da StoneX
Uma das características desse momento de alta do cacau considerada curiosa por especialistas é a demanda resiliente dos chocolates. Historicamente, num momento de queda de renda das famílias, o consumo de chocolate costuma cair por não ser um item essencial. >
"A tendência histórica de queda no consumo não está se refletindo agora. Uma das explicações pode ser a mudança de hábitos que a pandemia trouxe. A população que ficou mais dentro de casa acabou optando por pequenos luxos, como o consumo de chocolate, o que acabou sendo mantido", explica Rosetti. >
As empresas não têm se pronunciado sobre o assunto. A Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab) foi procurada, mas afirma que não se manifesta sobre preços praticados por seus associados, no comércio ou no varejo. >
"Esse aumento do cacau ocorreu depois da seca provocada pelo El Niño, nos dois maiores produtores do mundo. Gana e Costa do Marfim respondem por 60% da produção. Além desse fenômeno climático, houve praga nas lavouras. A indústria do chocolate tem planos de longo prazo, análises mensais de comportamento do mercado, e absorve o impacto maior. Está, portanto, preparada para essas oscilações", diz a entidade, em nota. >
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