Publicado em 21 de setembro de 2020 às 14:58
Sabe esse jeito novo de nos referirmos como "antes" e "depois" da pandemia? O padre Marcelo Rossi já tem usado os termos há algum tempo, mas em outro contexto. É que o sacerdote, que celebra 25 anos no ofício neste ano, diz que evoluiu ainda mais - no sentido espiritual da palavra - depois que foi vítima de um empurrão de cima do altar durante missa em Cachoeira Paulista, no dia 14 de julho de 2019. >
Após expor outros dramas pessoais até no "Fantástico", da TV Globo, e envolto sob a tese de que a fé o curou das doenças mais terríveis que já enfrentou - como a depressão -, o padre acredita que o atentado que sofreu foi mais um divisor de águas. E é essa reflexão que ele convida o leitor a fazer em "Batismo de Fogo", seu novo livro definido como "o mais pessoal já escrito" por ele próprio. >
Marcelo Rossi
Padre
Nas 144 páginas da obra, padre Marcelo escreve mais uma vez sobre como percebe e analisa a depressão, chega a tocar no tema do suicídio e faz novas revelações pessoais na tentativa de mostrar exemplos para os cristãos. Em algumas passagens, o sacerdote dá detalhes de quando lançou mão de anabolizantes na juventude para conquistar uma estética padrão. >
"Um adolescente no mundo da ginástica quer ter músculo. E você vai no grupo. As pessoas não sabem o encontro que tive com Deus e, depois de me perder na juventude, quero restaurar o que são os valores. Você não vale pelo que você tem, mas pelo que é", opina. >
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Durante o bate-papo, o religioso também falou de realizações e cuidados que tem tomado nas redes sociais e com a fama. >
Eu estava agora conversando com a pessoa e ela me falou sobre como fez bem o livro para ela. Esse livro é diferente de todos que eu fiz. Pelo empurrão, eu percebi que quero passar para as pessoas que a fé é um caminho de superação. São poucos capítulos, mas eu quis falar de coração para tocar as pessoas. Esse empurrão me levou a uma experiência de reviver minha vida e compreender alguns pontos. Eu achava que estava fazendo as coisas para Deus, mas quem faz é Deus. Não sou eu. Como é importante o que refleti...
Mostrar um mundo de diferença fazendo a diferença. Não tem satisfação maior que fazer a diferença. A realização de você levar a pessoa a compreender esse mundo de hoje. É como se fosse uma bússola para Deus. No julgamento final, o que vai contar é o amor. Em um mundo tão superficial, levar o essencial, que é o amor a Deus, é recompensador. Em um dos capítulos do livro, também falo da volta ao primeiro amor, que é esse de Deus. O livro é como se fosse uma autobiografia. Como eu conheci Deus, o que fez eu me tornar sacerdote...
Eu confesso a você que foi uma benção. Você vê no livro que eu quase não uso a palavra "atentado", porque não é. A primeira atitude que tomei quando levantei foi fazer o meu B.O., que é "bíblia e oração". Eu não sabia nem quem foi, o que era... Mas fiz isso, esse B.O.. E como foi importante! Esse empurrão me fez evangelizar mais ainda, mas tomando um cuidado grande nas redes sociais. Tem que ter cuidado nesse trabalho. A faca na mão do médico salva, na do padeiro corta o pão... Mas na mão do assassino, a faca mata.
Eu tinha o livro pronto antes da pandemia. O ideal era lançar em 14 de julho, um ano após o empurrão. Não é uma comemoração, porque a minha vida depois do empurrão não tem o que comemorar, não fiz nada. Quem fez foi Deus. Fiquei cinco meses sem presença de pessoas, pela pandemia, e volto agora de modo muito prudente. Mas isso tudo gera um problema grande, que é a depressão. Vários amigos psicólogos e médicos que leram o livro elogiaram e tocaram nesse ponto.
Marcelo Rossi
Padre
Esse livro é uma autobiografia como nunca fiz na minha vida. E tudo por causa do empurrão. Estamos em um momento de reflexão para mostrar para as pessoas, que te colocam lá em cima, que não é assim. Quero viver a santidade, mostrar de onde surgiu minha vocação... A vida é uma passagem. Estamos nesse mundo, mas não somos desse mundo.
Um adolescente no mundo da ginástica quer ter músculo. E você vai no grupo. Um ou outro faz piada, mas, no fundo, você percebe: 'meu Deus, o que está acontecendo?'. As pessoas não têm noção do encontro que tive com Deus depois de me perder na juventude, e quero buscar restaurar o que são valores. Você não vale pelo que você tem, mas pelo que é. O sucesso de uma pessoa agora é o número de seguidores que tem no Instagram, mas não é nada disso. As redes são uma benção, desde que usadas da forma correta.
Sabe que as redes sociais têm algo que gosto muito? Sempre gostei da palavra partilhar. O compartilhar, que está nas redes sociais, é mais forte ainda. É o que Jesus fazia. O que eu procuro é isso. Compartilhar de coração para coração. E esse livro é um modo de abrir meu coração para que as pessoas me conheçam. Por isso é um livro tão pessoal, por isso 'Batismo de Fogo'.
No livro, eu falo muito sobre isso. É tão difícil você falar qual é a causa. É uma somatória de muitas coisas. Mas vou te colocar um dado grande: quando Deus me deu a coragem de não esconder aquilo, quando eu coloquei esse problema a público, as pessoas se identificaram. O que teve de gente, de várias áreas profissionais, que foram se abrindo sobre casos similares... Porque tem aquela coisa: 'Como pode um padre passar por uma depressão?'. Mas foi justamente a fé que me fez superar a doença.
Eu sou Mariano. Maria sabe o lugar dela. Nunca pedi a Deus para ser o foco. Sempre trabalhei nos bastidores e fazia cada coisa. Deus me colocou "em evidência", entre aspas, sabendo que meu lugar é levá-lo. Eu uso as redes sociais para evangelizar, não ostentar. Quando você compreende isso, como sacerdote, é algo incrível. E quem me conhece sabe.
Claro! Em um mundo de tanta indiferença, você é chamado a fazer a diferença. Você, com sua esposa, o carinho com filhos, a família... São esses momentos que vão te preparar para o caminho eterno. É o novo. Nele, quero estar como Maria, como serviço. Não sendo servido, sendo serviço.
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