> >
Após 150 anos, identidade de modelo de obra escandalosa é descoberta

Após 150 anos, identidade de modelo de obra escandalosa é descoberta

Indícios revelam que dançarina Constance Queniaux seria a inspiração da pintura A origem do mundo, de Gustave Courbet

Publicado em 25 de setembro de 2018 às 14:01

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura

Um dos maiores mistérios da História da Arte parece ter sido solucionado, a identidade da modelo que posou para a mais escandalosa pintura do século XIX finalmente foi revelada. Segundo especialistas, o quadro “L’Origine du monde” (A origem do mundo), pintada por Gustave Courbet em 1866, mostra a vagina da dançarina parisiense Constance Queniaux.

Por décadas, historiadores foram convencidos de que o torso e a genitália ilustrados na obra pertenciam à modelo irlandesa Joanna Hiffernan, que foi amante de Courbet e também manteve relacionamento com seu amigo James Whistler, um artista americano. Mas a tese sempre levantou dúvidas, por causa dos pelos púbicos negros na pintura, que não correspondiam aos cabelos ruivos de Joanna.

Agora, cartas trocadas entre os escritores franceses Alexandre Dumas Filho — filho do autor de “Os três mosqueteiros” — e George Sand apontam para a ex-dançarina da Ópera de Paris. No verão de 1866, quando o quadro foi pintado, Constance era amante do diplomata otomano Halil erif Pasha — também conhecido como Khalil Bey —, que encomendou a obra a Courbet para sua coleção pessoal de arte erótica.

A descoberta foi feita pelo historiador francês Claude Schopp, que estava analisando as cartas de Dumas para um livro. Uma passagem específica chamou sua atenção: “Não se pinta a mais delicada e mais sonora entrevista da senhorita Queniault (sic) da Ópera”, dizia o texto. Ao procurar o manuscrito original, Schopp percebeu que houve um erro na transcrição. “Entrevista” era na verdade “interior”.

— Normalmente eu faço descobertas após trabalhar por anos — afirmou Schopp, que irá publicar o livro sobre a descoberta nesta semana, em entrevista à AFP. — Aqui foi direto. Me pareceu quase injusto.

O escritor consultou a diretora do departamento de impressos da Biblioteca Nacional da França, Sylvie Aubenas, que também ficou convencida que Constance era a modelo.

— Este testemunho da época me faz acreditar com 99% de certeza que a modelo de Courbet era Constance Queniaux — avaliou Sylvie.

Na época, Constance tinha 34 anos e, aposentada da Ópera, disputava a atenção de Halil Pasha com a famosa cortesã Marie-Anne Detourbay. Também conhecida como Jeanne de Tourbey, Marie-Anne era proprietária de um salão, que se tornaria a Condessa de Loyne. Por sua presença na sociedade francesa, também foi apontada como possível modelo para Courbet.

Na opinião de Sylvie, as cartas de Dumas revelam que a identidade da modelo de Courbet era conhecida na época, mas foi perdida ao longo do tempo, já que Constance se tornou uma senhora altamente respeitada conhecida pela filantropia.

A Origem do Mundo, pintura de Gustave Courbet. (Daniele Dalledonne / Flickr / Creative Commons)

Este vídeo pode te interessar

Uma outra descoberta de Schopp reforça a teoria. Quando Constance morreu, em 1908, ela deixou em seu testamento um quadro de Courbet com camélias, sendo que no centro há uma flor vermelha. Na época, essas flores eram associadas às cortesãs, por causa do romance “A dança das camélias”, escrito por Dumas e adaptado na ópera “La Traviata”, de Verdi.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais