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Reforma de Bolsonaro não é 'de coração', diz Guedes em Washington

Reforma de Bolsonaro não é 'de coração', diz Guedes em Washington

O ministro foi a Washington, participar de uma apresentação no centro de pesquisas Brookings Institute

Publicado em 12 de abril de 2019 às 00:04

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, após reunião. (Valter Campanato/Agência Brasil)

A defesa da reforma da Previdência mobilizou a agenda oficial ao longo da quinta-feira (11), no Brasil e no exterior. As falas, porém, tinham tons diferentes e, em alguns casos, divergentes.

Em Brasília, O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), afirmou que a análise em plenário pode ficar para o segundo semestre deste ano. O ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil), por sua vez, cravou que a votação ocorre até julho.

"Queremos que seja antes do término deste semestre ou início do semestre que vem", afirmou Vitor Hugo. Segundo o líder, "pode ser" que fique para agosto ou depois. Não queremos fazer nada açodado. Se for estudar quantos dias levou a proposta do Lula e do FHC, foram muitos dias, mais de cem dias", disse.

Onyx deu declaração diferente. "A aprovação da Nova Previdência seguramente acontecerá no primeiro semestre ainda, porque ela é a favor dos brasileiros, o Brasil entrará no portal da prosperidade", afirmou.

Nos Estados Unidos, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), traçou um cenário mais otimista. Disse esperar que a proposta de reforma da Previdência vá à votação no plenário entre maio e junho.

Nas previsões do deputado, feitas a investidores em Nova York, a tramitação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) deve engrenar após os feriados de Páscoa e 1º de Maio.

"Tem condição de aprovar, tirando o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e aposentadoria rural e garantir uma economia perto do trilhão estimada por Guedes. Para isso, precisa paciência. Na democracia, precisa paciência. Ouvir muito, falar pouco e dialogar muito."

Segundo o presidente da Câmara, esses dois pontos não são decisivos do ponto de vista fiscal, mas atrapalham muito a discussão política.

Da plateia, uma participante brasileira da conferência disse ao deputado que "time is money, as we know" (tempo é dinheiro, como sabemos) e que, "quanto mais demorar a reforma, mais dramática a situação fica".O deputado não chegou ao Parlamento com a agenda do Paulo Guedes, ao contrário, chegou com a agenda do interior do município, quer saber quando chega saneamento, saúde, professor e emprego lá", respondeu o congressista.

Maia teceu elogios ao ministro da Economia. "Se tem uma pessoa que me ajudou, foi o Paulo Guedes", afirmou. Mas alfinetou a capacidade de articulação política do Planalto.

Avaliou que o que aparenta ser uma falta de engajamento do presidente com o tema tem relação com a pouca intimidade de Bolsonaro com a discussão de mudanças no regime previdenciário.

No entanto, afirmou que os recentes encontros no Planalto com líderes partidários têm ajudado a desanuviar a articulação pela reforma.

"A agenda do presidente nunca foi a agenda liberal, sempre foi a agenda conservadora. Ele fez uma aliança em janeiro do ano passado com o Guedes. Daí o conforto de uma pessoa que nunca defendeu a agenda em três meses não é o mesmo como ele tem de defesa dos militares. Isso precisa de transição, que, acredito, esteja ocorrendo. Não sou pessimista", disse.

Guedes, que participava de uma apresentação no centro de pesquisas Brookings Institute, em Washington, também abordou essa questão.

O ministro disse que Bolsonaro "não está apaixonado" pela reforma da Previdência, mas sabe que a medida é necessária para o equilíbrio das contas públicas e vai apoiá-la.

"É de coração? Ele (Bolsonaro) está apaixonado pela reforma? Claro que não", afirmou.

"Mas o presidente tem algumas qualidades: é transparente, resiliente, dá suporte a coisas com as quais não concorda, mas sabe que são necessárias", completou o ministro ao lembrar que Bolsonaro, quando deputado, votou diversas vezes contra mudanças no sistema de aposentadoria.

Em projeção mais alinhada com a da Casa Civil, disse que a aprovação do texto deve acontecer até o início de julho.

Guedes falou a uma plateia de economistas, investidores e representantes de organizações internacionais e pediu que eles não sintam pena ou preocupação em relação ao Brasil.

"Não sintam preocupação, não sintam pena, não sintam tristeza [...] Não há perigo, não há ameaça à democracia. Temos um governo de centro-direita e estamos avançando."

Ele citou os processos de impeachment de Fernando Collor, em 1992, e Dilma Rousseff, em 2016, para dizer que as instituições brasileiras funcionaram em governos de direita e de esquerda.

Com dificuldade de articulação no Congresso para aprovar a reforma, Guedes afirmou esperar o aval do Legislativo para o texto no início de julho e admitiu cifras entre R$ 600 bilhões a R$ 800 bilhões de economia em 10 anos.

O projeto inicial previa economia de R$ 1 trilhão, e Guedes não cedia a qualquer tipo de flexibilização.

Mais tarde, em conversa com jornalistas, Guedes disse temer pela reforma.

"Ele [Maia] pode até estar, por um senso político superior qualquer que eu não esteja enxergando, falando assim: 'Vou lançar a reforma tributária também'. Tenho medo de começar a lançar uma, duas, três e perder o foco da principal, que é a previdenciária, e depois não sai nenhuma", disse Guedes.

No Twitter, o vice-presidente Hamilton Mourão também saiu em defesa da reforma. "Nova Previdência traz benefícios fiscais com justiça social. Economizaremos mais de R$ 1 trilhão fazendo, por exemplo, com que ricos passem a se aposentar na idade que os mais pobres já se aposentam", postou.

As falas desencontradas contribuíram para piorar o humor do mercado, em um dia com o exterior ruim.

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O Ibovespa caiu 1,25%, a 94.754 pontos. O dólar avançou 0,83%, a R$ 3,8570, após cair percentual equivalente na véspera. A moeda operou em linha com o exterior.

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