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Ferrovia Vitória-Minas: Hartung critica a Vale e cobra compensação

Ferrovia Vitória-Minas: Hartung critica a Vale e cobra compensação

"É uma coisa profundamente injusta, porque o impacto da presença da Vale é no Espírito Santo, e não é pequeno", afirmou o governador

Publicado em 9 de julho de 2018 às 01:17

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Locomotiva da Vale na Vitória-Minas: mineradora não se pronunciou publicamente sobre proposta da União. (Agência Vale/Divulgação)

Diante das reafirmações vindas de Brasília de que o Planalto pretende, como divulgado há uma semana, aplicar no Centro-Oeste o investimento que a Vale fará para renovar antecipadamente a concessão da Vitória-Minas, o governador Paulo Hartung subiu o tom contra o governo Michel Temer e a mineradora. Para ele, o novo ramal ferroviário de Vitória a Presidente Kennedy, que a própria Vale defendia inicialmente, seria a possibilidade de a empresa deixar um legado para o Estado após anos de impactos ambientais, como o pó preto.

“É uma coisa profundamente injusta, porque o impacto da presença da Vale é no Espírito Santo, e não é pequeno. A poluição da Vale não é de pequena monta no nosso Estado. A possibilidade de a Vale deixar um legado para o Espírito Santo, depois desses anos todos de escoamento de produção pelo nosso território, é agora. Nós temos o pó preto e numa hora de renovação dessas, que se pode receber um investimento estruturante para o nosso futuro, isso ser levado para o Brasil central é muito injusto”, afirmou Hartung em coletiva de imprensa na noite de ontem.

O governador ponderou que a grande interessada na renovação antecipada da concessão – que vence em 2027 – por mais 30 anos, é a própria Vale, por isso estranha o posicionamento da empresa, que havia manifestado publicamente em 2016 o desejo de fazer o investimento no Estado, mas ele diz não saber o motivo. A mineradora marcou audiência com Hartung para amanhã.

Também em tom incisivo, Hartung criticou a falta de diálogo e de comprometimento do governo Temer. “Uma antecipação de concessão de tal magnitude, penso eu, deveria ser tocada por um governo com legitimidade, o que não é o caso. Temos aí um governo que não tem legitimidade e que está chegando nos dias finais, que toca um projeto desses com baixo diálogo”.

Outra alfinetada foi ao silêncio de parte do empresariado capixaba, que historicamente defendeu o investimento. “O mundo empresarial do Estado está meio calado. E agora precisamos estar unidos, o universo político, do trabalho e o empresarial em torno dessa luta”, disse Hartung.

O governador voltou a afirmar que, como carta na manga, o Estado prepara uma ação para ir à Justiça Federal sob o argumento da ilegalidade de se investir, com o recurso da renovação da Vitória-Minas, em outra malha ferroviária. O questionamento deverá ser apresentado até quinta-feira, 12.

Ele também pediu mais clareza ao valor estipulado pela renovação da concessão da ferrovia e considerou pouco os R$ 4 bilhões de que fala o governo federal (junção das outorgas pela EFVM e da Estrada de Ferro Carajás, no Pará).

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A poluição da Vale não é de pequena monta no nosso Estado. A possibilidade de a Vale deixar um legado para o Espírito Santo, depois desses anos todos de escoamento de produção pelo nosso território, é agora

Paulo Hartung, governador
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Hartung considera uma “tentativa de enganar os capixabas” a proposta do Planalto de fazer o ramal com outro recurso que não seja da Vale, como pela renovação da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), de menor valor de mercado que a Vitória-Minas. “Nós sabemos que ou nós garantimos que parte da outorga da Vitória-Minas venha para a infraestrutura no Espírito Santo ou nós vamos ficar literalmente sem investimento”, ressaltou.

A reportagem não conseguiu contato com Tarcísio Freitas, secretário de Coordenação de Projetos do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que fala pelo governo federal.

A Vale foi questionada sobre as afirmações do governador e seu posicionamento no processo de renovação da concessão, mas não enviou resposta, mantando o comunicado enviado há uma semana de que ainda irá analisar contrapartidas requeridas pelo governo federal, oficializadas após audiências públicas.

BANCADA SUSPENDE REUNIÃO

Marcada para acontecer nesta segunda-feira (9) na sede do Sistema Findes, em Vitória, a reunião entre a bancada federal capixaba, o governo do Estado, o setor empresarial e produtivo e o governo federal para discutir sobre o ramal ferroviário no Espírito Santo foi suspensa.

A reunião, que seria realizada à portas fechadas para a imprensa e a sociedade, deveria apontar uma saída para o impasse. No domingo, em nota enviada à imprensa no início da tarde, o governador Paulo Hartung havia defendido que o evento fosse aberto. Já no meio da tarde, ele recebeu telefonema da Findes atendendo ao pedido.

No entanto, já no final da coletiva de imprensa realizada no início da noite de domingo, chegou o comunicado do deputado federal Marcus Vicente, coordenador da bancada capixaba, de que a reunião havia sido suspensa, pegando o governador de surpresa.

A nota do deputado explicava que a suspensão se deu “em razão das últimas manifestações da Secretaria da PPI”, sem dar mais explicações. O texto ainda dizia que a bancada vai “buscar o diálogo a nivel ministerial e de Presidência da República”.

Segundo o senador Ricardo Ferraço, o cancelamento foi pedido pela bancada por entender que o representante do governo federal, Tarcísio Fritas, do PPI, “não tem imparcialidade e tem muito mais compromisso com a Vale do que com desenvolvimento do Estado”.

“Achamos desnecessário porque ele viria defender o indefensável, que é essa proposta que está aí. Agora, vamos continuar dialogando e, se for o caso, ir na Justiça e no TCU”, disse Ferraço.

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A assessoria do Sistema Findes também foi questionada pelas razões da suspensão, mas não enviou resposta.

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