Publicado em 18 de novembro de 2021 às 19:34
O dólar emendou nesta quinta-feira, 18, a quarta sessão seguida de alta, em dia marcado por fortalecimento da moeda americana frente a emergentes, sobretudo por conta do aumento das apostas em alta dos juros nos EUA no primeiro semestre de 2022, e recrudescimento dos riscos fiscais domésticos. Teme-se que a apresentação de um novo texto da PEC dos Precatórios no Senado atrase a aprovação definitiva da proposta e faça o governo lançar mão de créditos extraordinários para bancar o Auxílio Brasil. >
Operadores ressaltam que o clima de incerteza diminui a liquidez e aumenta a demanda por posições defensivas. O contrato futuro de dólar futuro para dezembro - termômetro do apetite por negócios - movimentou menos de US$ 10 bilhões, bem aquém da faixa tradicional, entre US$ 13 bilhões e US$ 15 bilhões.>
Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar rompeu o nível R$ 5,55 ainda pela manhã e, ao longo da tarde, correu até a linha de R$ 5,57. A despeito da pressão altista, a faixa de oscilação foi estreita, com pouco mais de cinco centavos entre a mínima (R$ 5,5259) e a máxima (R$ 5,5776). No fim da sessão, o dólar era cotado a R$ 5,5699, em alta de 0,83%. Com isso, a moeda já avança 2,07% nesta semana. No mês, contudo, ainda apresenta queda de 1,35%.>
Ontem à noite, senadores do PSDB, Podemos e Cidadania apresentaram uma proposta alternativa para a PEC dos Precatórios O texto mantém a mudança na fórmula de correção do teto de gastos, mas retira R$ 89 bilhões em pagamentos de precatórios de 2022 do guarda-chuva do teto. A nova versão abre um espaço de R$ 64 bilhões no orçamento, que seriam destinados ao Auxílio Brasil Prevê também o fim das emendas do relator, principal moeda de troca do Planalto com parlamentares aliados.>
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Se a proposta alternativa vingar no Senado, a PEC terá que ser novamente apreciada na Câmara dos Deputados, o que atrasaria ainda o desenlace da questão, fundamental para uma definição do Orçamento de 2022. Ontem à noite, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que seria um erro grave tirar os precatórios do teto, em alusão à proposta de senadores. Fontes ouvidas hoje pelo Broadcast afirmaram que a bancada do PSD no Senado deve se posicionar e apoiar mudanças na PEC para evitar uma "farra fiscal".>
Na avaliação do operador Hideaki Iha, da Fair Corretora, era de se esperar uma correção do dólar como a observada nos últimos dias, já que a queda recente foi fruto, em especial, de zeragem de posições na esteira de uma "euforia inexplicável" do mercado com a aprovação da PEC dos Precatórios em segundo turno na Câmara. "Com toda essa incerteza fiscal, crescimento baixo e inflação elevada, não dá para imaginar o dólar para baixo", diz Iha, ressaltando que, apesar da taxa Selic mais elevada, não se vê apetite grande por operações para arbitrar diferencial entre taxa de juros interna e externa.>
Para Iha, com o impasse em torno da PEC dos Precatórios e o pendor populista do presidente Jair Bolsonaro, que já mira a eleição de 2022, é possível que o governo adote algum expediente, como extensão do auxílio emergencial via crédito extraordinário, para bancar transferências de renda à população. "Com esse quadro, o dólar deve continuar pressionado e pode buscar novamente R$ 5,60", afirma.>
Diferentemente de outras ocasiões, o real não liderou o ranking das perdas entre as divisas emergentes, papel que coube à lira turca - na esteira da decisão do BC da Turquia de reduzir os juros -, seguida pelo rand sul-africano. O índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em leve queda, sobretudo por conta da valorização do euro, mas ainda em níveis elevados, na casa dos 95,500 pontos.>
As pressões inflacionárias nas economias desenvolvidas, em especial nos Estados Unidos, aumentam as chances de uma antecipação do movimento de normalização da política monetária, o que diminui o apelo dos ativos de risco e respinga nas moedas emergentes. Nos EUA, é grande a expectativa pela decisão do presidente Joe Biden sobre a permanência de Jerome Powell à frente do Fed, já que o mandato do dirigente expira em fevereiro do ano que vem.>
Hoje, o presidente do Fed de Nova York, John Willians, afirmou que o núcleo da inflação americana aumentou mesmo excluindo os efeitos de base e que é necessário equilibrar o choque de demanda com o de oferta. O presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, disse que a alta de juros pode vir após o fim do 'tapering', em meados de 2022 ou em 2023, mas ressaltou que, se as expectativas de inflação aumentarem, a política monetária terá que ser mais restritiva.>
Em relatório, o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, ressalta que dados positivos de indústria e emprego nos EUA mantêm pressão sobre as taxas futuras americanas, que espelham mais de 30% de chance de que o Fed promova uma alta de juros já em maio do ano que vem. A aposta em elevação dos Fed Funds em junho de 2022 já é majoritária, com mais de 60%.>
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