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Dólar recua 1,17% no dia com fala de Powell e acumula perda de 3,52% na semana

Dólar recua 1,17% no dia com fala de Powell e acumula perda de 3,52% na semana

Com máxima de R$ 5,2612, a moeda norte-americana fechou o dia com recuo de 1,17%, a R$ 5,1955 - menor valor desde 4 de agosto (R$ 5,1858)

Publicado em 27 de agosto de 2021 às 18:11

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Pelo acordo, os dólares comprados pela consumidora deveriam ser entregues na véspera da viagem
O dólar termina a semana com recuo de 3,52% e passa a perder 0,28% no acumulado do mês. (Agência Brasil)

O discurso ameno do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, afastou os temores de mudança na política monetária acomodatícia nos Estados Unidos e abriu espaço para uma rodada de recuperação dos ativos de risco em todo o mundo nesta sexta-feira (27). Em sintonia com o movimento global da moeda norte-americana, que caiu em bloco frente a divisas emergentes, o dólar perdeu força no mercado doméstico de câmbio, em meio à redução de posições defensivas que haviam sido montadas na quinta-feira justamente para uma eventual surpresa desagradável na fala de Powell.

Já em queda desde a manhã, o dólar acentuou as perdas ao longo da tarde e chegou a furar o limite de R$ 5,19, ao descer até a mínima de R$ 5,1880. Com máxima de R$ 5,2612, a moeda norte-americana fechou o dia com recuo de 1,17%, a R$ 5,1955 - menor valor desde 4 de agosto (R$ 5,1858). Com isso, o dólar termina a semana com recuo de 3,52% e passa a perder 0,28% no acumulado do mês.

Segundo operadores, além do apetite maior por emergentes, jogaram a favor do real ao longo desta semana a melhora da percepção do risco fiscal, em meio a busca de uma solução para o imbróglio dos precatórios, e a reiterada disposição do Banco Central de elevar a taxa Selic ao nível que for necessário para ancorar as expectativas de inflação.

Em evento promovido nesta sexta na Federação Brasileira de Bancos, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse que não haverá rompimento do teto "para auxílio e precatórios" e que confia em uma solução para o pagamento das dívidas judiciais costurada em parceria com o Judiciário. Presente no mesmo evento, o presidente do Banco Central, Roberto Campos, afirmou que existe muito ruído em relação à questão fiscal e voltou a dizer que vai usar todos "os instrumentos" para controlar a inflação.

Além da ofensiva de comunicação de autoridades em favor do teto de gastos terem contribuído para redução de "gordura" na taxa de câmbio, analistas ressaltam que os dados do fluxo cambial divulgados ao longo da semana foram positivos. O aumento do diferencial entre os juros interno e externo dá certa sustentação à moeda brasileira, ao atrair capitais de curto prazo para operações de arbitragem, embora ainda não sancione a aposta em uma rodada mais forte de apreciação do real.

O mercado ainda aguarda a solução definitiva para a compatibilização do pagamento de Precatórios com o reajuste do Auxílio Brasil (ex-Bolsa Família) dentro do teto de gastos, além de monitorar os embates entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal. A temperatura política pode esquentar com as preparações para as manifestações de 7 de setembro.

O operador da Fair Corretora Hideaki Iha atribui a queda do dólar ao longo da semana mais ao ambiente externo positivo e ao fluxo cambial positivo que a fatores domésticos. "Internamente, não estão nada resolvido, está tudo em 'stand-by'. A pressão por gastos por parte do Centrão e do presidente, que quer tentar recuperar a popularidade para tentar a reeleição, vai continuar", afirma.

Iha vê a taxa de câmbio rodando entre R$ 5,20 e R$ 5,40 e ressalta que a volatilidade pode aumentar na semana que vem, por conta da disputa pela formação da taxa Ptax de agosto. "Além disso, essa discussão da redução de estímulos nos Estados Unidos pode voltar a incomodar se saírem dados de trabalho fortes do mercado de trabalho", acrescenta.

Em sua fala no simpósio de Jackson Hole, Powell disse que a redução do volume de compra mensal de ativos pode começar neste ano, a depender da continuidade da melhora dos indicadores econômicos, em especial os relacionados ao emprego - processo que pode ser abalado pelos eventuais impactos da variante delta sobre a economia. Além disso, Powell afirmou que, mesmo com o fim das compras mensais, o Fed vai manter sua carteira elevada de ativos no longo prazo (leia-se: não vai enxugar a liquidez) e que o 'tapering' não é um prenúncio de aumento da taxa de juros.

Com a mensagem amena de Powell, o mercado deu pouca relevância ao tom um pouco mais duro de discursos de outros dirigentes regionais do Fed, como James Bullard (de St. Louis) e Loretta Mester (Cleveland). O vice-presidente do Fed, Richard Clarida, disse que se os progressos no mercado de trabalho prosseguirem, vai apoiar o início do 'tapering' neste ano.

Em relatório, o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, avaliou a fala de Powell como 'dovish', dada a reiteração da necessidade de "estimular o emprego até seu máximo, o que ainda permanece longe a despeito da inflação elevadíssima". Para Sanchez, os próximos relatórios de emprego nos Estados Unidos (payroll) deverão colocar "a autoridade em 'corner' muito em breve, forçando-a a tomar medidas relativamente mais enérgicas de política monetária".

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