Publicado em 22 de abril de 2019 às 00:06
Dificuldades dos mais diferentes níveis para começar ou dar sequência a negócios estão afastando empresários do Espírito Santo. A insegurança jurídica provocada por fatores como burocracia, demora e complexidade dos licenciamentos e fiscalizações excessivas têm feito empresas esperarem e até mesmo desistirem de realizar investimentos no Estado.>
Como se não bastasse a recessão vivida nos últimos anos a nível nacional, que por si forçou o engavetamento de projetos, entraves extras contribuem para uma piora da situação, além de amarrar a competitividade do Estado. Com isso, justamente em tempos de escassez de anúncios de grandes investimentos, essas dificuldades impedem a atração de novos negócios, o que impacta na geração de empregos, na arrecadação pública, e até na possibilidade de dinamizar a economia.>
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A burocracia, segundo empresários e entidades ouvidas por A GAZETA, é hoje o que mais emperra projetos no Estado. Isso em todas as esferas: federal, estadual e nos municípios, afetando pequenos e grandes empreendimentos. A papelada e a complexidade dos processos acaba fazendo com que as empresas percam tempo e dinheiro.>
Um dos maiores projetos que o Espírito Santo viu escorrer pelas mãos nos últimos anos foi o do C-Port, que seria um porto de suprimento a plataformas de petróleo que a norte-americana Edison Chouest queria erguer em Itapemirim. O investimento, que seria da ordem de US$ 600 milhões e geraria 1,8 mil empregos conforme anunciado no começo da década, desandou em meados de 2014 e a empresa o levou para o Porto do Açu, em São João da Barra, litoral norte do Rio de Janeiro.>
Tínhamos todas as licenças ambientais, títulos da terra e autorizações de todos os órgãos, mas houve uma ameaça de embargo da obra e não nos sentimentos confortáveis, então transferimos para o Rio. Foram problemas burocráticos, conta sem dar maiores detalhes o diretor-presidente da Edison Chouest, Ricardo Caldas, que diz ainda que o grupo chegou a investir US$ 30 milhões no Espírito Santo.>
LICENCIAMENTO>
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Se no Estado o projeto do porto demorou quase quatro anos para ter as licenças expedidas, no Rio em menos de um ano tudo estava resolvido e o porto já operava. Essa demora aqui, sobretudo no licenciamento ambiental, é a pior dificuldade do setor industrial capixaba hoje segundo o presidente da Findes, Léo de Castro.>
É uma área que tem demandado os maiores prazos para poder responder ao setor. E o maior ativo do empresário é o tempo. Não adianta falar demorou, mas licenciou. Em boa parte dos casos a demora faz o projeto perder a viabilidade, comenta Léo, ao ressaltar que o segmento da construção civil é um dos que mais sofre com isso.>
Do porto para cá, foram vários outros negócios no Estado que acabaram desandando. A maioria dos empreendedores prefere não se identificar, mas eles pontuam vários pontos que pesaram em suas decisões.>
Há cerca de dois anos, uma fábrica de tintas que havia se instalado na Grande Vitória fechou as portas. A empresa, que havia feito um recente investimento de R$ 5 milhões para vir para o Estado, ficou por poucos anos em terras capixabas quando fecharam para ir para o Rio de Janeiro. Foi por causa de burocracia e legislação, conta uma fonte ligada à marca. Com isso, cerca de mil postos de trabalho foram fechados.>
Nos dias atuais, outro projeto que está sendo deixado de lado é o de uma indústria da Europa que pretendia abrir uma unidade na Grande Vitória. A fábrica capixaba receberia investimentos da ordem de R$ 50 milhões e já deveria estar em obras, mas os executivos pausaram o empreendimento e atualmente avaliam levá-lo para outro país.>
A primeira dificuldade foi para tirar as licenças, porque a burocracia interna da gestão pública tem armadilhas já que o agente público, para se proteger, cria mais entraves. Depois tiveram dificuldades com a fiscalização de órgão federal. Tudo isso fez os europeus começaram a ter medo da insegurança jurídica daqui, conta um dos executivos do grupo.>
Além de projetos de infraestrutura e industriais, essas dificuldades também impactam o comércio, como pontua o presidente da CDL Vitória, Estanislau Ventorim. São muitas exigências legais, como normas para abertura de um negócio. E ainda falta mão de obra capacitada nos órgãos públicos para orientar e agilizar esse processo. Essa demora acaba se revertendo em prejuízo e faz com que muitos comerciantes quebrem, diz.>
ALGUMAS DIFICULDADES>
Burocracia para abrir empresas>
A via-crúcis que é para conseguir todas as autorizações e formalidades para poder abrir um negócio pode demorar dias, semanas ou até meses dependendo do porte do empreendimento. A extensa lista de exigências, como alvarás e fiscalizações, os processos analógicos e a falta de convergência entre órgãos públicos são os pontos que mais recebem críticas de empresários.>
Dificuldade e tempo para obter licenciamentos>
Os processos de licenciamento ambiental são outra dor de cabeça. São três: a Licença Prévia (LP), que aprova a localização e concepção do projeto; a Licença de Instalação (LI), que autoriza o início das obras; e a Licença de Operação (LO), para o empreendimento de fato começar a funcionar. O problema é que cada uma pode levar anos, além de extensas e complexas exigências.>
Fiscalização excessiva>
Para abrir um negócio, renovar alvará, exportar ou importar, entre outros pontos, são necessárias vistorias. Isso além das fiscalizações avulsas. Os empresários reclamam que dependendo do agente o trâmite é dificultado.>
Dificuldades da legislação>
Várias normas federais, estaduais e municipais, algumas bem antigas, acabam criando empecilhos e aumentando o tempo de espera. Investidores acreditam que muitas são dispensáveis.>
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