Publicado em 17 de setembro de 2020 às 18:59
O bom desempenho das ações de commodities e siderurgia colocou o Ibovespa em campo positivo a partir do meio da tarde, descolando a B3 do dia ruim no exterior, ainda refletindo a decepção pós-Fed. Assim, com o suporte proporcionado por Petrobras (PN +1,93% e ON +2,23%, esta na máxima do dia no fechamento) e Vale ON (+1,82%), bem como siderúrgicas (Usiminas +5,15% e CSN +2,58%), o Ibovespa encerrou em alta de 0,42%, aos 100.097,83 pontos, quase recuperando a perda de 0,62% do dia anterior, que havia sucedido uma terça virtualmente estável (+0,02%) e uma abertura de semana em alta (+1,94%). >
Na semana, o índice avança agora 1,76% e, no mês, 0,73% - as perdas no ano estão em 13,44%. O giro financeiro totalizou R$ 21,9 bilhões, enfraquecido como no dia anterior.>
O fiel da balança na sessão acabou sendo o que parcela dos participantes do mercado considera uma faca de dois gumes para a B3: o enorme peso de alguns setores, como commodities e bancos, na composição do índice. Em 2010, quando ainda se vivia o boom das commodities, a participação do Brasil no índice MSCI para mercados emergentes chegou a ser de 15%, e hoje é de apenas 5%, observa Roberto Attuch, CEO da Omininvest.>
"China, Coreia e Taiwan respondem hoje por 65% do índice de emergentes, e nele, 50% da composição corresponde à tecnologia, especialmente gigantes como Alibaba, Tencent, Samsung, e outras que despontaram mais recentemente de forma interessante, como a Ant Financial", diz Attuch, acrescentando que os investidores em empresas do segmento costumam aceitar compras de ações com múltiplos mais altos, diferentemente do que é o caso em setores tradicionais, amadurecidos.>
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"Esta concentração em commodities e bancos tem segurado o Ibovespa, limita o seu potencial", acrescenta o CEO da Omninvest Ele defende uma mudança estrutural, que dê espaço maior a empresas e segmentos com potencial de crescimento diferenciado, como o varejo eletrônico. "O problema é que ainda não temos uma gigante de tecnologia. Nossas maiores empresas são da economia tradicional.">
Para Scott Hodgson, gestor de renda variável na Galapagos Capital, embora haja oportunidades na B3 inclusive para estrangeiros, como no setor de construção e sua cadeia de suprimentos, que inclui materiais siderúrgicos, o câmbio, ainda instável e depreciado, é um fator a ser considerado. "É preciso que se estabilize mais o câmbio. O Ibovespa chegou a testar a faixa de 105-106 mil, mas tem se mantido nos 99-100 mil pontos, o que reflete também o grande peso dos bancos no índice", observa. Em 2020, considerando as ações das maiores instituições financeiras que compõem a carteira Ibovespa, as perdas acumuladas variam entre 33,90% (Itaú PN) e 40,11% (Unit Santander).>
Nesta quinta-feira, o desempenho do segmento foi majoritariamente positivo no fechamento, com variações modestas em ambas as direções (Bradesco PN +0,24% e Unit Santander -0,60%), ainda sem sinais de recuperação consistente.>
De forma geral, o enfraquecimento do dólar favoreceria uma migração de recursos para os emergentes, observa Hodgson, o que pode se materializar após a eleição de novembro nos EUA, com a superação deste grande fator de incerteza que prevalecerá nas próximas semanas. "Trump é um defensor do dólar forte e, apesar de os democratas serem mais identificados ao protecionismo - característica de toda forma partilhada por Trump, um republicano -, a disposição de Biden em relação aos emergentes tende a ser melhor, inclusive com relação à China", diz Hodgson.>
Além da definição sobre quem será o próximo presidente americano, outro fator que pode contribuir para um rali de fim de ano, nos EUA e também nos emergentes, é a possibilidade de surgir, entre outubro e novembro, uma vacina contra a covid-19 que esteja disponível ainda no primeiro trimestre de 2021, aponta o gestor. "Um rali de fim de ano criaria, por outro lado, uma dificuldade diferente para o início do próximo: encontrar ações que ainda não estejam esticadas".>
Considerando os ganhos do S&P 500 no ano, ele observa, contudo, que a maior parte do avanço está concentrado em um grupo muito restrito de empresas com elevadíssima capitalização de mercado, como as gigantes de tecnologia, o que favorece uma rotação de carteira, inclusive em direção a emergentes, se o câmbio contribuir para isso.>
Nesta quinta-feira, o dia no exterior foi de copo meio vazio. Os mercados globais ainda refletem a decepção ante a falta de novidades na reunião de quarta do Federal Reserve, no momento em que se preparam para um período tendencialmente mais volátil à medida que se aproxima a eleição americana de 3 de novembro, sem novos estímulos fiscais a caminho na maior economia em meio à disputa por hegemonia com a China.>
Assim, as perdas se estenderam nesta quinta da Ásia para Europa, EUA e Brasil na primeira metade da sessão, em geral moderadas, embora algo acentuadas em índices mais expostos ao risco, pela precificação atual e pelo grau de integração global, como o tecnológico Nasdaq (-1,27% no fechamento de desta quinta).>
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