Se no futebol somos historicamente ferrenhos competidores, no campo da economia, ao contrário, temos complementaridades e interesses que na maioria das vezes são ou podem ser convergentes. Nem é necessário dizer que estou falando da nossa vizinha Argentina.
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Isso significa admitir que acontecimentos considerados relevantes de lado a lado tendem a provocar impactos cruzados. E nesse aspecto, o pior dos mundos é quando os dois países, de forma simultânea, entram em crise, seja na economia ou na política. Naturalmente, com a política surgindo quase sempre como principal fonte de desequilíbrios.
A crise cambial que vem acontecendo desde meados do ano passado - que devemos entendê-la como parte e consequência de uma crise mais geral da economia argentina -, vem afetando fortemente as exportações brasileiras para aquele país. A acelerada desvalorização da moeda local, o peso, associada a uma já combalida economia, refletida numa sequência de quedas do PIB, tem provocado fortes impactos negativos nas exportações brasileira para lá.
O Ibre, instituto ligado à FGV (Fundação Getúlio Vargas), em estudo bem recente, cujos resultados foram antecipados pelo jornal “Valor Econômico” nesta semana, estima que o efeito Argentina já fez o PIB brasileiro definhar algo em torno de 0,2 ponto percentual no ano passado. Para este ano, a perda poderá ser ainda maior, atingindo até o final do ano 0,5 ponto percentual. Isso principalmente pelo fato de o setor industrial representar cerca de 90% da nossa pauta de exportações.
A importância da economia argentina para o Brasil não decorre apenas das características qualitativas das nossas exportações a ela destinadas, mas também pela dimensão em valor do fluxo comercial. Em 2018, por exemplo, o Brasil exportou para lá mercadorias e serviços no valor de US$ 14,9 bilhões e importou US$ 11 bilhões. Ou seja, gerando um superávit de US$ 3,9 bilhões.
O cenário para 2019, ao que nos parece, também não se apresenta favorável. A turbulência no campo da política, principalmente pela volta do “peronismo” à moda Cristina Kirchner, deverá afetar negativamente as expectativas atuais, que já não são boas. Dados relativas às nossas exportações realizadas no primeiro trimestre do ano já apontam a direção: uma queda de 44%.
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O efeito Argentina atinge também o Espírito Santo. Em 2018, por exemplo, as exportações capixabas para lá caíram 23% em relação ao ano anterior, passando de US$ 438 milhões para US$ 336 milhões. Mas, diferentemente do Brasil, o perfil das nossas exportações apresenta maior carga de commodities, com o minério representando 80%, seguido pelo café, com 7%, e aço e derivados, com 5%. Ao todo, o Espírito Santo exporta anualmente cerca de 100 diferentes produtos, com os dez primeiros do ranking acumulando 97% de participação.
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