Jornalista de A Gazeta. Há 10 anos acompanha a cobertura de Economia. É colunista desde 2018 e traz neste espaço informações e análises sobre a cena econômica.

Crise do petróleo: copo meio cheio ou meio vazio?

Os efeitos positivos e negativos dos ataques a refinarias na Arábia Saudita

Publicado em 17/09/2019 às 17h06
Atualizado em 18/09/2019 às 02h58
Preço do petróleo disparou desde o ataque a refinarias na Arábia Saudita. Crédito: Divulgação
Preço do petróleo disparou desde o ataque a refinarias na Arábia Saudita. Crédito: Divulgação

O mercado é muito dinâmico e sempre vai ter espaço para perdas e ganhos. No caso dos últimos dias, com os ataques a unidades petrolíferas na Arábia Saudita e os seus respectivos reflexos, ficou claro que até numa situação como essa existe o lado cheio do copo, embora o vazio seja motivo de muitas apreensões.

Do ponto de vista global e das relações entre os países, conflitos deste tipo nunca são bons e sempre trazem a insegurança do que pode vir como resposta e quais serão os efeitos geopolíticos práticos que passam a figurar sobre a mesa.

Se no curto prazo, entretanto, não há clareza sobre os desdobramentos da diplomacia mundial, de imediato é possível constatar o aumento do preço do barril de petróleo como a principal consequência. Os ataques às refinarias acertaram em cheio a cotação da commodity, que chegou a subir 20% na segunda e, no fechamento de ontem, estava cotada na casa dos US$ 64.

Se olharmos para o nosso umbigo, os respingos mais óbvios seriam a alta dos preços da gasolina e do diesel nas bombas dos postos de combustíveis. Mas isso não aconteceu por aqui como se imaginava, uma vez que a Petrobras decidiu segurar os preços e aguardar como será o comportamento do valor do barril nos próximos dias.

O lado bom dessa decisão claramente é o impacto não ter recaído sobre o consumidor, evitando até mesmo uma possível pressão sobre a inflação. Mas há o lado negativo da política de preços ter se mantido inalterada. Permanece a dúvida do que esperar do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e da equipe econômica comandada pelo ministro Paulo Guedes quando o assunto é interferência na estatal.

Desde o início do governo de Jair Bolsonaro (PSL) paira a dúvida sobre o liberalismo de conveniência que é praticado por essa gestão. O episódio com os caminhoneiros em abril, quando após pressões da categoria o governo cancelou o reajuste do diesel, deixou um fantasma sobre a ingerência governamental na companhia.

Como o Brasil sofreu, há pouco tempo, com a mão pesada do governo sobre as decisões da Petrobras – por exemplo, quando a ex-presidente Dilma Rousseff segurou o preço da gasolina para evitar o avanço da inflação, prejudicando severamente as contas da estatal e maquiando os dados reais – qualquer decisão que demonstre semelhança com as práticas passadas é uma ameaça para a independência desejada na Petrobras.

 

Outro aspecto negativo veio do lado empresarial. Alguns donos de postos do país aumentaram os preços nas bombas imediatamente, mesmo sem ter havido qualquer alteração dos custos nas refinarias. Pagar alguns centavos a mais pelo litro da gasolina vira questão secundária. O ponto aqui é outro: o oportunismo existente entre algumas empresas do setor produtivo.

Felizmente, essa não foi uma prática em série. No Espírito Santo, se houve algo nesse sentido, foi pontual, mas em outros Estados brasileiros aconteceram denúncias de que alguns postos estavam usando os ataques na Arábia Saudita como pretexto para reajustar os preços para os clientes. Situação que foi criticada, inclusive, pelo presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Décio Oddone.

Voltando para o que há de positivo, o Brasil tem a oportunidade, com essa crise internacional do petróleo, de atrair ainda mais olhares e interesse das empresas estrangeiras nos leilões do pré-sal que estão previstos para acontecer neste ano. Diferentemente do exterior, o Brasil não lida com os conflitos históricos do Oriente Médio. Então, de certa forma aqui pode se tornar um porto seguro para esses players.

Fora isso, os Estados produtores, incluindo o Espírito Santo, têm potencial de aumentar a arrecadação com royalties e participações especiais, uma vez que o preço do barril é um dos fatores na composição das compensações financeiras pagas pelas petroleiras. Mas vale destacar que, por mais positivo que seja o incremento de receita, ele é perene, dada a perspectiva de estabilização da produção e dos preços.

Em meio ao que há de bom e ruim nesse contexto, o que os entes produtores, como nós do Estado, devem ter muito claro é que não dá para depositar na receita do petróleo todas as fichas para o crescimento. Como a história vem provando, esse é um segmento instável e vulnerável.

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