É professor de Economia

Empresa se apropria da cultura e religião para esconder débitos sociais

Conduzir a discussão sobre rumos da economia com faz de conta enfraquece a chance do país valorizar seu melhor

Publicado em 05/07/2019 às 16h33
Meio ambiente. Crédito: Divulgação
Meio ambiente. Crédito: Divulgação

Manhã ensolarada de domingo na orla de Camburi, em Vitória. Pessoa pouco afeita a exercícios pede a quem a acompanha que tire uma foto em que ela faz de conta estar correndo. “Para eu postar e impressionar.”

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O faz de conta também se dá em publicidade de empresa poluidora que busca atenuar o desgaste de sua imagem divulgando seu “apoio” a eventos que há muito fazem parte do calendário religioso/cultural do Estado. Apropriação indevida de quem acumula débitos ambientais, sociais, econômicos e culturais ao longo do Vale do Rio Doce e da costa capixaba.

Faz de conta que o equilíbrio fiscal via congelamento de gastos sociais colocará o Brasil de volta no rumo do crescimento. Para sustentar que a geração de empregos é prejudicada pela legislação trabalhista, basta fazer de conta.

O mais recente faz de conta é o promovido por financistas de plantão no governo, com apoio da mídia e da academia de mercado, no afã de aprovar uma reforma da Previdência direcionada para os interesses das finanças mundializadas. No dizer de um observador astuto, da forma como a situação busca apresentar a reforma pretendida, só falta fazer de conta que ela vai curar unha encravada...

De faz de conta em faz de conta, indivíduos adiam a cada semana o início de necessários exercícios em prol de uma vida saudável; empresas acumulam passivos ambientais, sociais e econômicos que colocam em risco a vida tanto em seu entorno quanto mundo afora. O Brasil desmonta de forma apressada e atabalhoada todo um sistema voltado para a diminuição de dívidas sociais acumuladas ao longo de sua história; suprime futuro e coloca em risco a seguridade social de mais idosos e dos que estão e entrarão em atividades produtivas.

O que pode ser um bom começo para estórias da carochinha vai se transformando em pesadelo para pessoas que precisam se cuidar melhor. Se torna um modo de atuação de empresa que privilegia o lucro acima de qualquer coisa e a coloca de forma cínica diante de compromissos sociais que precisam ir além do marquetismo enganoso.

Conduzir o processo de discussão sobre novos rumos e prumos para a economia brasileira na base do faz de conta e da pós-verdade enfraquece a possibilidade de o Brasil valorizar o que tem de melhor – sua gente e suas riquezas naturais e tecnológicas. Diminui a credibilidade do país em um mundo que precisa de atitudes que reflitam o reconhecimento que o futuro da humanidade depende de ações para além de individualismos de pessoas, de organizações e de governantes.

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