Publicado em 28 de outubro de 2019 às 07:47
Em missa do encerramento do Sínodo para a Amazônia, o papa Francisco afirmou neste domingo (27) que a violência e o saque continuam machucando a maior floresta tropical do mundo.>
"Os erros do passado não foram suficientes para deixarmos de saquear os outros e causar ferimentos aos nossos irmãos e a nossa irmã terra: vimos isso no rosto desfigurado da Amazônia", disse Francisco, em sua homilia.>
"Quantas vezes quem está à frente, como o fariseu relativamente ao publicano, levanta muros para aumentar as distâncias, tornando os outros ainda mais descartados. Ou então, considerando-os atrasados e de pouco valor, despreza as suas tradições, cancela suas histórias, ocupa os seus territórios e usurpa os seus bens", afirmou, em alusão aos povos indígenas.>
"Quanta superioridade presumida, que se transforma em opressão e exploração, ainda hoje! Vimos isso no Sínodo quando falamos sobre a exploração da Criação, das pessoas, dos habitantes da Amazônia, do tráfico de pessoas e do comércio de pessoas!", afirmou, em parte improvisada do seu sermão. >
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Como é de praxe desde o início do seu pontificado, Francisco enfatizou a atenção aos pobres como prioridade da igreja. "Neste sínodo, tivemos a graça de escutar as vozes dos pobres e refletir sobre a precariedade de suas vidas, ameaçadas por modelos de progressos predatórios.">
"No entanto, precisamente nesta situação, muitos nos testemunharam que é possível olhar a realidade de modo diferente, acolhendo-a de mãos abertas como uma dádiva, habitando na criação, não como meio a ser explorado, mas como casa a ser protegida, confiando em Deus", completou.>
A missa na Basílica de São Pedro encerrou oficialmente a assembleia do sínodo, que durou três semanas e foi precedida por um amplo processo de consulta nos nove países amazônicos, envolvendo perto de 80 mil pessoas.>
No sábado (26), foi divulgado um documento de 33 páginas, com propostas como a ordenação de homens casados para atuar na Amazônia, a criação do "pecado ecológico", o respeito à religiosidade não cristã indígena e o estabelecimento de um "observatório pastoral socioambiental".>
Por outro lado, por falta de consenso, o relatório final deixou de fora a criação de um diaconato para as mulheres. O tema continuará a ser discutido pela igreja por uma comissão específica.>
A cerimônia, que começou às 10h locais (6h em Brasília), reuniu bispos da Amazônia e outros participantes do sínodo. A indígena brasileira Marcivana Sateré, do povo sateré-mawé, subiu ao altar para entregar um vaso ao papa Francisco. Dentro, milho e feijão plantados no início do sínodo.>
A missa contou também com a participação do cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes. Próximo ao papa, o arcebispo emérito de São Paulo foi o relator-geral do sínodo.>
No público, estavam presentes os governadores do Amazonas, Wilson Lima (PSC), e do Piauí, Wellington Dias (PT). Nesta segunda-feira (28), eles participarão de um encontro com membros da igreja e cientistas para discutir políticas de preservação ambiental.>
As críticas do papa à destruição em meio ao aumento do desmatamento no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro (PSL), um feroz crítico de ambientalistas e da demarcação de territórios indígenas. >
A explosão do desmatamento e das queimadas na Amazônia gerou uma onda de críticas contra Bolsonaro no exterior, estremecendo as relações diplomáticas do Brasil com países como a França e a Alemanha.>
Pouco mais tarde, durante o tradicional Angelus de domingo, Francisco voltou a falar sobre a Amazônia para os milhares fiéis reunidos diante da basílica.>
"O grito dos pobres, junto ao grito da Terra, veio da Amazônia. Depois dessas três semanas não podemos fazer de conta de não tê-lo ouvido. As vozes dos pobres e a de tantos outros dentro e fora da assembleia sinodal, pastores, jovens e cientistas nos impelem a não permanecer indiferentes. Ouvimos muitas vezes a frase "depois é tarde demais". Essa frase não pode permanecer um slogan.">
As propostas do sínodo agora serão analisadas por Francisco, que tem a palavra final sobre a implantação. Ao receber o documento, no sábado, ele prometeu terminar a revisão até o final deste ano.>
Também foi escolhido um Conselho Pós-sinodal, com 13 membros indicados pelas assembleias e outros 3 que ainda será nomeados por Francisco. A missão será supervisar as mudanças que o papa ratificará para a igreja na Amazônia.>
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