Publicado em 31 de outubro de 2019 às 13:41
A promotora Carmen Carvalho, membro da equipe do Ministério Público do Rio de Janeiro que investiga a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), fez campanha pela eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL).>
Ela também postou em sua rede social foto abraçada com o deputado Rodrigo Amorim (PSL-RJ), que quebrou uma placa em homenagem à vereadora assassinada em 2018.>
As imagens foram divulgadas pelo jornalista Leandro Demori, editor-chefe do site The Intercept Brasil, em sua conta no Twitter.>
Carvalho é membro do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), que concentra o acompanhamento das investigações da Polícia Civil.>
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Ela participou nesta quarta-feira (30) da entrevista coletiva em que o Ministério Público do Rio de Janeiro classificou o depoimento do porteiro que envolveu o presidente Jair Bolsonaro no caso como uma informação falsa. Essa declaração foi dada pela promotora Simone Sibilio.>
Em sua conta no Instagram, Carvalho publicou uma foto com a camisa de Bolsonaro durante a campanha eleitoral. Ela também manifestou emoção no dia 1º de janeiro, na posse do presidente.>
"Há anos que não me sinto tão emocionada. Essa posse entra naquela lista de conquistas, como se fosse uma vitória", escreveu ela.>
Ela também publicou uma foto abraçada com Amorim. Os dois estavam na solenidade de entrega da medalha Tiradentes à promotora. A comenda foi proposta pelo deputado estadual Carlos Augusto (PSD), delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro.>
Promotores ouvidos pela reportagem afirmam ser notório o envolvimento de Carvalho com políticos e pautas conservadoras. Há também imagens dela ao lado do governador Wilson Witzel (PSC-RJ).>
A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público veda aos promotores que exerçam "atividade político-partidária".>
Em 2016, o Conselho Nacional do Ministério Público expediu recomendação deixando expresso ser proibida "a participação de membro do Ministério Público em situações que possam ensejar claramente a demonstração de apoio público a candidato ou que deixe evidenciado, mesmo que de maneira informal, a vinculação a determinado partido político".>
A legislação, contudo, não deixa expressa sanções para a prática. A análise cabe à Corregedoria das promotorias, que têm o poder de advertir, censurar, suspender demitir e cassar a aposentadoria dos membros do Ministério Público "em caso de negligência no exercício das funções".>
Promotora desde 1994, sua lotação original é no 2º Tribunal do Júri da capital. Ela também integra o Gaeco. O caso mais famoso em que Carvalho atuou foi a investigação do desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, em 2013 na Rocinha. >
A promotora atuou tanto na investigação como no julgamento do caso na primeira instância, que culminou com a condenação dos 12 denunciados -quatro foram absolvidos na segunda instância.>
O Ministério Público foi procurado às 10h10 para comentar as publicações da promotora nas redes sociais, mas não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.>
Reportagem do Jornal Nacional de terça-feira (29) apontou que um porteiro (cujo nome não foi revelado) deu depoimento dizendo que, no dia do assassinato da vereadora, Élcio Queiroz, ex-policial militar suspeito de envolvimento no crime, afirmou na portaria do condomínio que iria à casa de Bolsonaro, na época deputado federal.>
Pelo depoimento do porteiro apresentado pela emissora, ao interfonar para a casa de Bolsonaro, um homem com a mesma voz do presidente teria atendido e autorizado a entrada. O suspeito, no entanto, teria ido a outra casa dentro do condomínio.>
Nesta quarta, a promotora Simone Sibilio afirmou que a investigação teve acesso à planilha da portaria do condomínio e às gravações do interfone e que restou comprovado que a informação dada pelo porteiro não procede.>
O Ministério Público pediu no dia 15 perícia dos áudios -que foi concluída nesta quarta-feira.>
Segundo a Promotoria, há registro de interfone para a casa 65 (enquanto a casa de Bolsonaro é a de número 58), e a entrada de Élcio foi autorizada pelo morador do imóvel, Ronnie Lessa -que está preso sob suspeita de envolvimento na morte de Marielle.>
Na planilha de controle da portaria do condomínio, apreendida pelo Ministério Público, constava que, no dia 14 de março de 2018 -quando a vereadora foi assassinada-, Élcio havia ido para a casa 58, que pertence a Bolsonaro.>
A Promotoria não citou hipóteses que possam explicar por que houve anotação incorreta do número da casa. Disse, apenas, que isso pode ter ocorrido por vários motivos e que eles serão apurados.>
"Todas as pessoas que prestam falso testemunho podem ser processadas", afirmou a promotora Sibilio. >
O Ministério Público disse não ser possível confirmar ainda nem mesmo se a gravação registrada na portaria é do mesmo porteiro que prestou depoimento -embora diga poder afirmar que Élcio entrou uma única vez no condomínio e que, pela perícia "nos padrões vocálicos de quem autorizou", foi confirmada a autorização dada por Ronnie Lessa.>
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