Publicado em 3 de setembro de 2018 às 23:39
Organizações, pesquisadores e estudantes ocuparam as redes sociais em defesa de mais recursos e apoio para as ciências, tecnologias, educação, artes e cultura em geral. As palavras mais utilizadas são tristeza, tragédia e descaso para classificar o incêndio, que começou no domingo (2) por volta das 19h30 e prosseguiu até a madrugada de hoje. O fogo queimou a maior parte do acervo, incluindo peças raras entre as 20 milhões existentes no local.>
A Sociedade Brasileira de Arqueologia (SAB) publicou nota cujo texto abre relatando que lágrimas correm dos rostos dos integrantes da entidade enquanto buscam palavras pra expressar tamanha dor e indignação. Segundo a entidade, a história do museu se confunde com a própria trajetória do campo da arqueologia no país.>
Por fim, a sociedade manifesta total solidariedade à instituição e a todos os colegas de lá, repudia toda forma de negligência por parte de autoridades governamentais, as quais desde longa data tomaram ciência da necessidade de restauração da instituição e praticamente nada fizeram, e ainda registra a disposição inabalável para somar naquilo de estiver ao seu alcance na luta do Museu Nacional.>
A Associação Brasileira de Antropologia (ABA) também pontuou em nota o prejuízo irrecuperável, colocou-se à disposição para o esforço de recuperação do que resta do patrimônio e também criticou os sucessivos cortes de recursos. Dos R$ 520.000,00 anuais previstos desde 2014 para a manutenção do Museu, passou-se para os cerca de R$ 340.000,00 em 2017 e R$ 54.000,00 em 2018. Os projetos de reforma e revitalização, requeridos há tanto tempo, não se efetivaram a tempo, colocou a associação no comunicado.>
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O Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios Históricos Icomos/Brasil divulgou nota em que lamenta a catástrofe com o museu. A organização chamou o episódio de uma tragédia anunciada que vinha se desenhando a partir dos últimos anos da política nacional. A entidade pede a revisão da política de restrição orçamentária que atinge instituições como o museu.>
O Conselho Federal de Museologia (Cofem) se manifestou de luto pelo patrimônio histórico, científico e cultural perdido por descaso das autoridades públicas. Essas autoridades, acrescenta o texto, não destinam recursos humanos e financeiros suficientes e ao tempo necessário para se evitar tragédias anunciadas, como a que lamentavelmente constatamos neste início de setembro.>
O Instituto Brasileiro de Museus classificou o episódio como a maior tragédia museológica do país. Segundo a instituição, o fato coloca o desafio de consolidar e implementar uma política pública que garanta, de forma efetiva, a manutenção e conservação de edifícios e acervos do patrimônio cultural brasileiro.>
A Associação Profissional dos Trabalhadores do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural Nacional (Asphan) afirmou em nota que a tragédia evidencia a necessidade de aportes públicos para equipamentos como este. "A cultura não é um negócio, é direito fundamental de nossa gente e de toda a humanidade. É uma obrigação do Estado brasileiro. A situação de abandono em que vivemos advém desse pensamento errôneo, de se achar que estes equipamentos culturais podem viver sem o devido apoio estatal. Em lugar nenhum do mundo isto ocorre!", destacou a entidade.>
PESQUISADORES>
A antropóloga e professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Lilia Schwarcz foi uma entre docentes e pesquisadores que lamentaram o ocorrido.>
A destruição do Museu Nacional é um desastre sem tamanho e representa um símbolo desse Brasil que vai ardendo em chamas. Os hidrantes estavam sem água, os fios desencapados e os funcionários do museu faziam vaquinha para pagar despesas. Não cuidar de um patrimônio como esse é mostrar como esse país ainda triste e desorientado, sem passado e sem futuro, publicou em sua conta no Facebook.>
O antropólogo professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-presidente da Fundação Nacional do Índio Mércio Gomes destacou em sua conta no Facebook a perda de 200 anos de história. Ele conclamou profissionais como antropólogos e geólogos a colocar suas coleções e materiais adquiridos em pesquisas à disposição do museu.>
Temos que reconstituir o nosso Museu Nacional, refazer as coleções de ciência natural, as coleções de arte indígena, as coleções de plantas, animais, mapas, tudo que puder ser reconstituído do passado, defendeu.>
A professora de literatura da UFRJ Gumercinda Gonda relatou em sua conta de Facebook que todo o acervo de línguas indígenas foi perdido: "As gravações desde 1958, os cantos em muitas línguas sem falantes vivos, o arquivo Curt Nimuendaju: papéis, fotos, negativos, o mapa étnico-histórico-linguístico original com a localização de todas as etnias do Brasil, único registro que tínhamos datado de 1945". A docente classificou o episódio como "uma perda irreparável para nossa memória histórica".>
REDES SOCIAIS>
No Twitter, Facebook e Instagram, muitas pessoas também lamentaram a perda de coleções inteiras e da maior parte do acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, situado na Quinta da Boa Vista, após o incêndio que atingiu o prédio.>
A exemplo do que ocorreu com o Museu de Arte Moderna do Rio, em 1978, em que houve uma ação conjunta para levantá-lo, nos textos publicados nas redes sociais, há sugestões de criação de um grupo de amigos, pesquisadores, artistas e funcionários para reconstrução do prédio destruído.>
Os posts fazem referência à incineração da memória e do assassinato da história. Também destacam a descontinuidade de pesquisas inteiras em diversas áreas. As mensagens reiteram que as queixas vêm há anos e que não foram ouvidas pelas autoridades.>
Uma mensagem circulou no Whatsapp com um chamado de estudantes de museologia da Universidade Unirio no qual pedem que pessoas enviem fotos do acervo para um e-mail específico como forma de promover um levantamento dos registros visuais das obras.>
Iniciativas diversas de abaixo-assinados virtuais passaram a circular nas redes sociais em defesa do museu e denunciando o descaso de autoridades com a manutenção do local.>
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