Publicado em 24 de novembro de 2019 às 22:15
Com a bênção do ex-presidente Lula, a deputada Gleisi Hoffmann (PR) foi reeleita com 71,5% dos votos petistas para mais quatro anos na presidência do PT. Ao avaliar as prioridades do partido, ela reconheceu que é preciso fortalecer a comunicação digital, dominada pela direita.>
Gleisi admitiu que a comunicação do PT está "aquém daquilo que nós precisamos". "A direita está na nossa frente. Precisamos nos armar nas redes sociais, organizá-las, juntá-las, potencializar os nossos canais", afirmou.>
O resultado do 7º Congresso Nacional do PT foi anunciado neste domingo (24) e já era esperado. A principal corrente do partido, a CNB (Construindo um Novo Brasil), da qual Gleisi faz parte, tinha a maioria dos 800 delegados eleitos previamente para deliberar sobre o comando da sigla.>
O congresso também apresentou uma resolução final, que guiará a atuação do partido nos próximos anos. O documento é basicamente a tese já defendida pela CNB, mas com uma emenda que avaliza a possibilidade de o partido pedir o impeachment de Jair Bolsonaro caso enxergue condições para isso.>
>
"A partir da evolução das condições sociais e percepção pública sobre o caráter do governo, da correlação de forças, a direção nacional do partido, atualizando a tática para enfrentar o projeto do governo Bolsonaro, poderá vir exigir a sua saída", diz o trecho.>
Segundo membros da CNB, hoje não há crime de responsabilidade praticado por Bolsonaro nem mobilização popular ou maioria no Congresso capaz de sustentar um impeachment. O texto final, no entanto, coloca essa hipótese no horizonte em vez de descartá-la.>
"A possibilidade sempre tem. O presidente comete uma série de impropriedades, sua família está sendo investigada, então há possibilidade de se configurar um crime de responsabilidade como diz a Constituição", afirmou Gleisi à imprensa. >
A tese da CNB defende que o partido ajude a consolidar a unidade das esquerdas ao mesmo tempo em que busque o centro para aliança ampla em prol do Estado de Direito.>
"Trata-se de construir uma maioria consistente na sociedade ?que não seja apenas eventual, conjuntural, mas que se afirme como verdadeira hegemonia democrática de ideias e valores? se queremos chegar novamente ao governo federal", diz o texto.>
Gleisi afirmou aos jornalistas que o partido admite buscar setores do centro para defesa de pautas específicas.>
"Somos contra essa pauta liberal que está no Congresso, que retira direitos, destrói o Estado e privatiza. Essa é nossa pauta principal e em torno dela vamos fazer alianças. Agora, tem questões mais pontuais que outros setores podem se juntar a nós, por exemplo, a defesa da democracia", disse.>
Ao encerrar o congresso, Gleisi afirmou que o partido "quer Lula presidente da República novamente". O petista, solto no último dia 8, foi a grande estrela do congresso. No discurso de abertura, o ex-presidente defendeu a polarização e negou isso signifique radicalização.>
Ela voltou a afirmar os rumos do partido já expressos por Lula em suas falas, como a defesa da anulação da condenação do ex-presidente na Lava Jato e que o PT tenha o maior número possível de candidaturas em 2020.>
"Acharam que nos matariam, mas estamos bem vivos", disse Gleisi em seu discurso neste domingo, diante de um já esvaziado público.>
"Lula fez um chamado ao povo para ir às ruas e foi chamado de radical. Mas Lula sempre exortou o povo brasileiro a lutar. E a luta que queremos é no campo democrático", afirmou, repetindo a fala do maior líder petista feita na sexta (22).>
Em relação à eleição de 2020, Gleisi também ecoou a orientação de Lula de que o partido lance o maior número de candidaturas possível. A ideia é usar o espaço das campanhas para fazer uma defesa do PT. >
Ao contrário do ex-presidente, que já afirmou que outros partidos de esquerda não têm candidatos que superem os do PT, a deputada fez a ressalva de que alianças com outras legendas são consideradas.>
"[Nas eleições de 2020] Temos que falar com povo, defender Lula e defender nosso partido. Isso não quer dizer que vamos prescindir de fazer alianças com o campo progressista e popular", disse a deputada.>
Gleisi afirmou que não há discordância com Lula em relação à possibilidade de alianças. "Nós não temos divergência, ele tem uma disposição de animar o PT [a lançar candidatos]", disse.>
No Rio de Janeiro, por exemplo, onde o PT considerou apoiar Marcelo Freixo (PSOL), Lula lançou o nome da deputada Benedita da Silva. À imprensa, porém, Gleisi afirmou neste domingo que a conversa com o PSOL continua, assim como a negociação em torno do apoio à Manuela D'Ávila (PC do B) em Porto Alegre. >
A CNB, corrente de Gleisi, também obteve a maior parte das vagas do diretório nacional, composto por 90 cadeiras. O órgão será preenchido de forma proporcional, segundo os votos obtidos por cada uma das correntes. Na próxima semana, o diretório se reúne para eleger a comissão executiva nacional. >
Por falta de acordo dentro da própria CNB, ainda não há definição sobre cargos importantes, como o de tesoureiro --os principais nomes cotados são Márcio Macedo, um dos vice-presidentes do PT, e Vagner Freitas, presidente da CUT. Como mostrou a coluna Painel, a ala que representa o Nordeste reivindica postos de projeção. >
A corrente majoritária no PT também deve ocupar as secretarias de organização, comunicação e relações internacionais.>
A secretaria-geral tende a ser ocupada pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que abriu mão de concorrer à presidência neste domingo para apoiar Gleisi. >
Os outros nomes que concorreram à presidência foram a deputada Margarida Salomão (PT-MG) e o historiador Valter Pomar, de correntes mais à esquerda no partido. Eles obtiveram respectivamente 11,7% e 16,6% dos votos.>
No caminho para a reeleição, Gleisi chegou a enfrentar resistência dentro da CNB. Houve um movimento a favor de que Fernando Haddad, presidenciável do partido em 2018, comandasse o PT. O nome da deputada, no entanto, foi defendido por Lula e acabou se sobressaindo.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta