Publicado em 19 de junho de 2020 às 17:27
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) vai contratar de graça empresas para medir a qualidade da internet fornecida pelas teles. A decisão vai gerar economia para o órgão regulador. A polêmica em torno do assunto foi revelada pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) em dezembro. >
Tudo começou no ano passado, a Anatel havia iniciado a análise de um processo de contratação de uma empresa - por até R$ 17,8 milhões, por dois anos, prorrogáveis por 60 meses - para verificar a qualidade do serviço de internet das operadoras. O problema é que as próprias teles já haviam criado, há nove anos, um aplicativo que cumpre essa função, com custo anual de R$ 2 milhões, e por determinação da mesma Anatel.>
Mesmo com esse aplicativo, o relator original do caso e presidente do órgão regulador, Leonardo Euler de Morais, havia justificado em seu voto que as obrigações do regulamento de qualidade dos serviços da agência justificavam a necessidade da contratação.>
Para isso, Morais havia proposto que a fiscalização dos serviços de internet prestados pelas teles fosse feita de três formas: drive test (realizado por meio de equipamentos do tipo scanner, instalados em veículos, com capacidade para aferir potência do sinal, área de cobertura e outros indicadores); crowdsource (coletiva e automática, via software instalado em computadores e telefones de usuários que derem consentimento prévio); e benchmarking internacional (para comparação dos dados com os de outros países).>
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No voto do presidente, as três formas de medição deveriam ser prestadas por uma única empresa. A controvérsia surgiu nesse ponto, pois havia suspeita de que apenas uma empresa, a P3 - consultoria alemã com representação em São Paulo e que mudou recentemente o nome para Umlaut - teria condições de disputar a concorrência, considerando os três critérios propostos pelo voto de Morais. Na época da publicação da reportagem, a Anatel informou ser "inverídica" a informação de que apenas uma empresa poderia participar da disputa e mencionou a possibilidade de formação de consórcios para a disputa.>
Na quinta, o conselheiro Carlos Baigorri, relator do voto-vista, trouxe sua análise para o Conselho Diretor. Ele propôs reformular a disputa, pois uma das empresas consultadas pela Anatel, a OpenSignal, ofereceu o serviço de crowdsource de forma gratuita para o órgão regulador.>
"Devo destacar que a proposta de contratação de uma parte do objeto a custo zero concilia a necessidade de evolução da agência em matéria de medição de qualidade, mas também leva em conta o cenário fiscal pelo qual o País atravessa", disse Baigorri, em seu voto.>
Com a oferta da OpenSignal, o conselheiro pediu a reformulação da concorrência pela Anatel, de forma que os outros dois serviços - drive test e benchmarking internacional - possam ser contratados com empresas diferentes. Ele manteve o valor da contratação em até R$ 17,8 milhões, mas pediu à área técnica que avalie a possibilidade de ampliar o escopo do drive test.>
Submetida ao Conselho Diretor, a proposta de Baigorri foi aprovada por 3 votos a dois - o dele, de Morais e de Emmanoel Campelo. Votaram contra os conselheiros Moisés Moreira e Vicente Aquino.>
"No meu voto, acompanho a proposta do presidente em declarar conveniente e oportuna a contratação dos três produtos. Entretanto, tendo em vista as novas informações trazidas pela área técnica nos autos, entendo ser conveniente e oportuno que a Anatel consiga acesso à plataforma de crowdsource de forma gratuita", afirmou Baigorri, ao Broadcast.>
Segundo ele, a proposta final atende ao interesse público e permite aumentar a concorrência na licitação. "Será necessário reavaliar a formatação da contratação, porque anteriormente a proposta era contratar todos os produtos de um mesmo fornecedor. Até onde eu tenho informação, quem oferece um dos produtos de forma gratuita não oferece os outros dois", acrescentou.>
Baigorri disse ainda que será possível ampliar o alcance dos testes com a nova proposta aprovada. No voto original, seriam realizadas apenas duas campanhas de coleta de drive test no período de duração do contrato, totalizando 100 municípios cobertos, menos de 2% do total no País. Ele ressaltou que se apenas as capitais e municípios maiores fossem escolhidos, 60% da população não estaria abarcada em tais testes. Agora, será possível abarcar também pequenos municípios, quase sempre os que mais sofrem com a baixa qualidade dos serviços.>
Um representante da antiga P3, atual Umlaut, esteve na sede da Anatel em fevereiro do ano passado para apresentar seus produtos e serviços ao Conselho Diretor. O evento ocorreu no mesmo dia em que executivos das principais teles estiveram na agência reguladora. A situação gerou desconforto, já que poderia gerar a interpretação de que o órgão regulador estaria recomendando o trabalho da empresa às operadoras.>
Sócio e administrador da atual Umlaut no Brasil, Erick Monfrinatti Cogliandro foi procurado pela reportagem. Ele disse que não acompanhou a decisão de ontem e informou que ainda não sabe se a companhia vai participar da futura concorrência.>
Desde 2011, por determinação da própria Anatel, as teles já oferecem uma opção para medição da qualidade do serviço da internet, disponível no app Brasil Banda Larga e no site brasilbandalarga.com.br, oferecidos pela Entidade Aferidora da Qualidade de Banda Larga (EAQ).>
O software da EAQ permite aos usuários de banda larga fixa verificar latência, velocidade instantânea e média. Os dados também são enviados e acompanhados pela Anatel. Representante das teles, o presidente do Sinditelebrasil, Marcos Ferrari, disse que tomou ciência da decisão e que vai monitorar os próximos passos desse processo.>
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