Publicado em 29 de outubro de 2019 às 11:51
Após o racha no PSL que opôs congressistas ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) aos que não têm um alinhamento integral a ele, o grupo tachado de bivarista mostra-se fragmentado.>
Incomodada com o distanciamento de Bolsonaro, uma parte da bancada do partido na Câmara começou a cerrar fileiras com o presidente nacional do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PE).>
Mas, segundo deputados dessa ala, a pecha de bivarista não reflete a essência do grupo, uma vez que o ponto em comum é o descontentamento generalizado com o Palácio do Planalto, e não uma afinidade com Bivar.>
A divergência dentro do PSL ficou evidente após Bolsonaro comentar com um de seus apoiadores que o presidente do partido estava "queimado pra caramba".>
>
Na semana seguinte, a Polícia Federal deflagrou operação que teve o deputado federal como alvo e que buscava provas em um inquérito sobre candidaturas de laranjas no partido, em caso revelado pela Folha em fevereiro.>
A primeira etapa da crise, vencida pelos bolsonaristas, teve seu auge em uma guerra pela liderança do partido na Câmara dos Deputados que colocou em lados opostos o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente, e o então líder, Delegado Waldir (GO), que foi gravado chamando Bolsonaro de vagabundo e dizendo que poderia implodir o governo. >
Houve ainda acusações de traição e gravações de reuniões fechadas das duas alas.>
Do lado de Bolsonaro estão, além de seu filho Eduardo, deputados como Filipe Barros (PR), Bia Kicis (DF) e Carla Zambelli (SP). >
A linha de frente de Bivar é formada por seu vice, Antônio Rueda, pelos deputados federais Júnior Bozzella (SP) e Julian Lemos (PB), além do senador Major Olímpio (SP) e da ex-líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (SP).>
A insatisfação desse grupo pode ser sintetizada nas queixas do presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Felipe Francischini (PR), expostas em áudio divulgado na semana passada. Em reunião, ele disse que Bolsonaro tratava os integrantes do partido como cachorro e que só os procurava quando precisava de ajuda.>
A aliados o congressista se queixou da inexperiência do presidente e de seus apoiadores na Câmara, que, segundo ele, desconheceriam elementos básicos do regimento da Casa e táticas de articulação com partidos aliados para aprovar pautas de interesse do governo. >
Muitas vezes, criticava, o interesse era apenas "jogar" para as redes sociais, em vez de tocar com seriedade a agenda do Planalto.>
Exposta a rachadura no partido, a ala dissidente viu a necessidade de se dissociar de Bivar e de convergir em pautas que reforcem sua lealdade para com o ministro Sergio Moro (Justiça) e com pautas anticorrupção e de apoio à Operação Lava Jato, ponto compartilhado pelos bolsonaristas.>
A última fase do julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) de ações sobre prisão em segunda instância que podem resultar na libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também está sendo explorada por ambos.>
A aproximação com Moro e o distanciamento de Bivar tem uma razão pragmática: as investigações sobre o laranjal do PSL, que tem como principais expoentes o presidente do partido e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, da ala bolsonarista.>
Como mostrou a Folha de S.Paulo, depoimentos e uma planilha apreendida em empresa sugerem que dinheiro do esquema de laranjas pode ter sido desviado, por meio de caixa dois, para a campanha do ministro e de Bolsonaro. >
O presidente, por sua vez, pediu a Bivar para que fosse realizada uma auditoria externa nas contas da legenda.>
Ao se distanciar do presidente do partido, os dissidentes buscam se afastar de um eventual escândalo de caixa dois no PSL.>
Enquanto isso, para não sofrer expurgo da ala bolsonarista, os dissidentes tentam recuperar a liderança da legenda na Câmara. >
O grupo esbarra, no entanto, em uma dificuldade: um nome que possa desbancar Eduardo do posto, mas sem abrir uma nova guerra de listas. Não há, na avaliação dos dois grupos, uma terceira via.>
O processo de autoanálise e reformulação de estratégias não está ocorrendo somente entre os dissidentes. Os bolsonaristas também fazem um mea culpa. Para eles, houve falhas na construção do PSL como partido político.>
A bancada de 53 deputados, a segunda maior da Câmara, se elegeu com a bênção de Bolsonaro e como uma resposta à velha política. Até agora, não foi construída uma pauta para a sociedade que defina uma identidade para o partido.>
Segundo integrantes da ala alinhada a Bolsonaro, o PSL não fez uma reunião para construir uma diretriz clara e determinar os próximos passados da legenda. >
Reservadamente, um bolsonarista disse à Folha que o PSL não tem uma unidade como a que o PT tem. As várias alas petistas vivem de forma relativamente harmônica, e as divergências internas raramente vêm a público -uma discrição que, como ficou claro na última semana, não é regra no partido do presidente.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta