Publicado em 6 de abril de 2020 às 11:36
A renúncia do presidente Jair Bolsonaro em meio à sua atuação no combate à Covid-19 é rejeitada por 59% dos brasileiros.>
Já 37% desejam que ele renuncie, conforme vem sendo pedido por políticos de oposição, e 4% não sabem dizer. Foi o que apurou pesquisa do Datafolha com 1.511 entrevistados, feita por telefone de 1º a 3 de abril. A margem de erro é de três pontos.>
Apesar de o levantamento apontar que apenas 33% dos ouvidos consideram a gestão da crise sanitária pelo presidente da República como boa ou ótima, 52% creem que ele tem condições de seguir liderando o país.>
Para 44%, Bolsonaro perdeu tais condições, e 4% não souberam responder.>
>
O tema renúncia passou a frequentar as conversas no mundo político desde que o presidente adotou um tom negacionista e de confronto com o Ministério da Saúde e governadores na condução da emergência.>
Um grupo de políticos de oposição à esquerda -incluindo os ex-presidenciáveis Fernando Haddad (PT-SP), Ciro Gomes (PDT-CE) e Guilherme Boulos (PSOL-SP)- lançou na semana passada manifesto pedindo a renúncia de Bolsonaro, o que ele negou.>
"Da minha parte, a palavra renúncia não existe. Eu fico feliz até por estar na frente [do combate] a um problema grande como esse. Fico pensando como estaria o outro que ficou em segundo lugar (Fernando Haddad) no meu lugar aqui", afirmou.>
A pesquisa Datafolha mostra que a renúncia do presidente tem maior apoio entre jovens (44%), mulheres (42%), os que têm até o ensino fundamental (40%) e quem tem renda mensal acima de 10 salários mínimos (39%).>
Já a rejeição ao gesto tem maior apelo entre quem ganha de 5 a 10 mínimos (69%), homens (65%) e quem ganha de 2 a 5 mínimos (64%).>
A região Nordeste segue a tendência geral do levantamento e registra o maior índice de apoiadores da renúncia de Bolsonaro: 47%, ante 49% contrários à ideia.>
Já o Sul, região bolsonarista na eleição, vem com 28% de apoio à renúncia. Norte e Centro-Oeste registram 30% e o Sudeste, 37%.>
A divisão se mantém quando a pergunta é sobre a capacidade de liderança do presidente da República. Bolsonaro é visto como capaz por 62% no Sul, 60% no Norte/Centro-Oeste, 49% no Sudeste e 47% no Nordeste -onde empata com os que o acham incapaz (49%).>
A Covid-19 é tema de contencioso entre o Planalto e os estados, mas não há uma mudança abrupta de percepções sobre Bolsonaro entre aqueles que melhor avaliam o trabalho de seus governadores.>
Entre as ocupações, empresários e estudantes estão em polos opostos. Para 74% dos primeiros, Bolsonaro não deve renunciar; pensam que ele deve 52% dos segundos.>
Estudantes são os que mais acham que o presidente perdeu condições de liderar (57%), enquanto empresários são os que mais o veem como capaz (65%).>
Entre os mais ricos, há um empate acerca da imagem de liderança do presidente. A avaliação positiva é maior entre os mais velhos (59%) e com renda entre 5 e 10 mínimos (62%).>
Na sua tradicional base de apoio, os evangélicos, Bolsonaro pontua melhor do que na média. Não querem a renúncia 64% deles, e 60% acham que o presidente ainda reúne condições de governar.>
O temor da Covid-19 também impacta a avaliação. Creem que Bolsonaro segue apto ao cargo 66% dos que não têm medo da doença, índice que cai a 57% entre os que têm um pouco de medo e para 38% entre quem tem muito medo.>
Da mesma forma, 48% dos que têm muito medo defendem a renúncia, ante 32% dos que têm um pouco e de 28%, dos que não sentem temor.>
A título ilustrativo, na mesma altura de seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff (PT) tinha sua renúncia pedida por 60%, ante 37% que a queriam no cargo em abril de 2016.>
Os dados não são diretamente comparáveis porque aquela pesquisa foi presencial, com outra metodologia.>
A crise era de outra natureza também. Naquele ponto, Dilma estava a dias de sofrer a abertura do processo de impeachment e ser afastada, o que ocorreu em maio.>
Já seu sucessor, Michel Temer (MDB), teve a cadeira pedida por 76% dos ouvidos em junho de 2017, sob o impacto do escândalo das gravações do empresário Joesley Batista. Mas ao fim ele conseguiu passar a faixa a Bolsonaro.>
O Datafolha também questionou o grau de conhecimento das pessoas acerca do pronunciamento do presidente em rede nacional na última terça-feira (31), no qual ele tentou moderar seu tom negacionista da crise.>
Viram a fala de Bolsonaro 57% dos brasileiros. Desses, 23% acham que ela ajudou a gestão da crise, 26% não viram nem vantagem nem desvantagem, e 5% creem que ela atrapalhou.>
Os mais instruídos e ricos foram os que mais viram: 78%, e também são os que mais a aprovaram como positiva: 35% e 38%, respectivamente.>
A pesquisa telefônica, utilizada neste estudo do Datafolha, procura representar o total da população adulta do país, mas não se compara à eficácia das pesquisas presenciais feitas nas ruas ou nos domicílios.>
Por isso, apesar de aproximadamente 90% dos brasileiros possuírem acesso pelo menos à telefonia celular, o Datafolha não adota o método em pesquisas eleitorais, por exemplo.>
O método telefônico exige questionários rápidos, sem utilização de estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos.>
Além disso, torna mais difícil o contato com os que não podem atender ligações durante determinados períodos do dia, especialmente os de estratos de baixa classificação econômica.>
Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas de sexo e idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com alguma cautela.>
Na pesquisa divulgada na sexta (3), feita dessa forma para evitar o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes, o Datafolha adotou as recomendações técnicas necessárias para que os resultados se aproximem ao máximo do universo que se pretende representar.>
Todos os profissionais do Datafolha trabalharam em casa, incluídos os entrevistadores, que aplicaram os questionários de suas casas através de central telefônica remota.>
Os limites impostos pela técnica telefônica não prejudicam as conclusões pela amplitude dos resultados apurados e pelos cuidados adotados.>
Foram entrevistados 1.511 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados do país. A margem de erro é de três pontos percentuais. A coleta de dados aconteceu do dia 1º ao dia 3 de abril de 2020.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta