Para acabar com facções criminosas, é preciso cortar o mal pela raiz

Organizações criminosas murchariam rápida e naturalmente se o sistema carcerário brasileiro deixasse de ser tão caótico e ineficiente

Publicado em 08/08/2019 às 11h13
Prisão. Crédito: Divulgação
Prisão. Crédito: Divulgação

Henrique Geaquinto Herkenhoff e Luciana Souza Borges Herkenhoff*

O que leva alguém a cometer um crime? E a se associar a uma facção criminosa? Provavelmente não haverá uma única resposta, e certamente será difícil entender por que alguém faz escolhas não apenas tão erradas, mas também tão arriscadas e, no geral, prejudiciais para ele próprio. Por outro lado, é de imaginar que os motivos para matar não sejam os mesmos para roubar ou vender drogas.

Entrar em uma facção criminosa é um caminho quase sem volta, com riscos aumentados e cobranças intensas, além de garantir a rejeição de todos, às vezes até de parentes e amigos. Parece, todavia, que se aplicam aqui mais ou menos os mesmos ganhos que se esperam ao ingressar em outros grupos: segurança, status/ poder, autoestima, associação/ pertencimento e alcance de metas.

Na maioria dos casos, ao formar ou se associar a um grupo, ninguém está abrindo mão de se incluir na sociedade em geral; pelo contrário, espera-se status social/ prestígio, aceitação/ pertencimento, poder e segurança iguais ou maiores. Há exceções, contudo, pois em grupos que se reconheçam como marginais ou contramajoritários cada integrante pode perfeitamente desejar ser aceito e reconhecido apenas pelos companheiros, pouco se importando com o restante da humanidade.

Mesmo assim, exatamente porque o custo de ingressar em uma facção é tão alto, o surgimento e o crescimento delas depende da força dos fatores de deflagração e impulsionamento, sendo vital uma legitimação interna poderosa, além de lideranças hábeis, metas comuns importantes, resultados práticos convincentes e o desenvolvimento de mecanismos relacionais eficientes para lidar com os inevitáveis conflitos de interesses ou opinião.

Por tal razão, resultados consistentes e duradouros são mais alcançáveis ao se retirar delas tais requisitos, atingindo-as enquanto grupo, do que ao reprimir individualmente seus integrantes (cuja maioria, aliás, já está atrás das grades ou vai sendo morta por adversários e comparsas), ainda que a utilidade das leis penais não deva ser desprezada.

É por isso que insistimos tanto em afirmar, por exemplo, que as facções criminosas murchariam rápida e naturalmente se o sistema carcerário brasileiro deixasse de ser tão caótico e ineficiente, uma vez que elas nasceram no cárcere e do cárcere se alimentam. Quanto mais soubermos sobre a dinâmica de grupos dentro das facções criminosas, mais habilitados estaremos a desmontá-las.

* Os autores são professores do mestrado em Segurança Pública da UVV

A Gazeta integra o

Saiba mais
opinião segurança pública

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.