Henrique Geaquinto Herkenhoff e Luciana Souza Borges Herkenhoff*
O que leva alguém a cometer um crime? E a se associar a uma facção criminosa? Provavelmente não haverá uma única resposta, e certamente será difícil entender por que alguém faz escolhas não apenas tão erradas, mas também tão arriscadas e, no geral, prejudiciais para ele próprio. Por outro lado, é de imaginar que os motivos para matar não sejam os mesmos para roubar ou vender drogas.
Entrar em uma facção criminosa é um caminho quase sem volta, com riscos aumentados e cobranças intensas, além de garantir a rejeição de todos, às vezes até de parentes e amigos. Parece, todavia, que se aplicam aqui mais ou menos os mesmos ganhos que se esperam ao ingressar em outros grupos: segurança, status/ poder, autoestima, associação/ pertencimento e alcance de metas.
Na maioria dos casos, ao formar ou se associar a um grupo, ninguém está abrindo mão de se incluir na sociedade em geral; pelo contrário, espera-se status social/ prestígio, aceitação/ pertencimento, poder e segurança iguais ou maiores. Há exceções, contudo, pois em grupos que se reconheçam como marginais ou contramajoritários cada integrante pode perfeitamente desejar ser aceito e reconhecido apenas pelos companheiros, pouco se importando com o restante da humanidade.
Mesmo assim, exatamente porque o custo de ingressar em uma facção é tão alto, o surgimento e o crescimento delas depende da força dos fatores de deflagração e impulsionamento, sendo vital uma legitimação interna poderosa, além de lideranças hábeis, metas comuns importantes, resultados práticos convincentes e o desenvolvimento de mecanismos relacionais eficientes para lidar com os inevitáveis conflitos de interesses ou opinião.
Por tal razão, resultados consistentes e duradouros são mais alcançáveis ao se retirar delas tais requisitos, atingindo-as enquanto grupo, do que ao reprimir individualmente seus integrantes (cuja maioria, aliás, já está atrás das grades ou vai sendo morta por adversários e comparsas), ainda que a utilidade das leis penais não deva ser desprezada.
É por isso que insistimos tanto em afirmar, por exemplo, que as facções criminosas murchariam rápida e naturalmente se o sistema carcerário brasileiro deixasse de ser tão caótico e ineficiente, uma vez que elas nasceram no cárcere e do cárcere se alimentam. Quanto mais soubermos sobre a dinâmica de grupos dentro das facções criminosas, mais habilitados estaremos a desmontá-las.
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* Os autores são professores do mestrado em Segurança Pública da UVV
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