Antônio Carlos de Medeiros*
O tempo político atropelou o calendário eleitoral no ES. As eleições municipais de 2020 já mobilizam as lideranças políticas capixabas. Os conchavos correm soltos. Cálculos políticos são feitos e refeitos. Vai ter gente queimando a largada.
Esta ansiedade política vem da conjuntura política regional e do fenômeno Bolsonaro nas eleições de 2018. Quanto à conjuntura regional, a ascensão de novo ciclo político, com a eleição de Casagrande e a desistência de última hora do então governador Paulo Hartung em disputar eleições em 2018, deixou um clima de orfandade política em muitos que pertenciam ao arco de alianças de PH. Há um freio de arrumação em curso e muitos líderes relevantes ainda estão “órfãos”.
Quanto ao efeito do fenômeno Bolsonaro, muitos jovens políticos são encorajados pelo novo fenômeno das redes sociais a se candidatarem. Isto pulveriza o número de candidatos num primeiro momento. Muitos ainda vão cair na real e o número de candidatos poderá diminuir. Para ser relevante nas redes sociais tem que ter tempo para obter o efetivo engajamento do eleitor. Tem que buscar proximidade, frequência, duração e intensidade - até que este eleitor se torne um “fan” com militância virtual.
Ao fim e ao cabo, 2020 deverá ser diferente de 2018. Poderão ser as eleições pós-tempestade de mudanças. O governador Casagrande avalia que houve frustrações de lá para cá e a ânsia de mudança arrefeceu: “em 2020, deveremos ter menos emoção e mais racionalidade nas decisões do voto”. Bolsonaro mantém o seu nicho, mas a sua avaliação nas pesquisas piorou. Diminuiu a carga emocional e o frisson por mudanças. É um clima que abre passagem para mais racionalidade em 2020. “Pode valorizar a política, a experiência, o histórico e o conteúdo”, diz o governador. Neste contexto, os candidatos de redes de última hora terão dificuldades.
Não se pode perder de vista que as eleições de 2020 terão novas regras. Não serão permitidas coligações de partidos nas chapas de vereadores. Os partidos terão relevância menor. As “grifes” pessoais e o poder econômico terão maior relevância. Nas cidades maiores, os partidos com melhores fundos partidários poderão ser mais competitivos para as chapas de vereadores.
Falando como governador, Casagrande afirma que vai “respeitar os aliados em 2020”. Significa respeitar o arco de alianças partidárias da base do governo. Mas significa “respeitar as lideranças de outros partidos”.
Tudo somado, os partidos terão menos peso nesta geleia geral de partidos. Personalidades serão relevantes. Ainda mais lideranças experientes e com conteúdo para mostrar capacidade de entrega. Se tiver engajamento nas redes, gol de placa. Os que estão saindo muito na frente, poderão queimar a largada.
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*O autor é pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science
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