Governo digital não resolve os problemas, é preciso vontade política

Iniciativas tecnológicas e a inovadoras podem propiciar soluções que impactem diretamente a vida das pessoas, resolvendo problemas com relação a atuação do poder público

Publicado em 19/09/2019 às 19h28

Tecnologia e gestão pública

Orlando Bolsanelo Caliman*

Os desafios da gestão pública estão cada vez mais complexos e demandam respostas cada vez mais personalizadas e efetivas. No entanto, é possível dizer que o Estado, em suas três esferas e poderes, não tem conseguido avançar em velocidade suficiente para atender às demandas da sociedade.

Diante desse cenário, iniciativas tecnológicas e a inovadoras podem propiciar soluções que impactem diretamente a vida das pessoas, resolvendo problemas que tenham relação com a atuação do poder público.

Há países que já perceberam isso e conseguiram transformar as relações Governo x Cidadãos em verdadeiros laboratórios e oportunidades para o setor privado, partindo sempre da premissa básica que o usuário do serviço público é digno de um atendimento de qualidade e efetivo.

Dentre esses países, destaca-se o caso da Estônia, ex-república soviética que em menos de 50 anos saiu de um estado de igualdade na comparação com o PIB per capita da quase vizinha Finlândia, para atingir somente 10% do mesmo indicador na mesma comparação no início da década de 1990, após o fim do regime.

Desde então, a Estônia tomou a decisão política de apostar em medidas de aproximação com o mercado, como reformas estruturais, privatizações e parcerias com o setor privado, que foi responsável por uma série de investimentos em inclusão tecnológica, principalmente na educação básica. Em 1998, todas as escolas do país estavam conectadas à internet. Foi somente o início.

A grande transformação digital nesse pequeno país europeu de cerca de 1,2 milhão de habitantes se deu principalmente a partir da criação do “X-Road” (2001), uma plataforma de código aberto co-financiada pelo setor privado que serve como interface entre os diversos sistemas de informação que compõem os mais de 500 serviços públicos e privados oferecidos pelo “e-estonia”, garantindo sempre a integridade e inviolabilidade dos dados.

Além disso, a construção e implementação de um modelo de identidade digital a partir de 2002, que trouxe segurança para as relações desenvolvidas no ambiente virtual, permitiu que indivíduos, empresas e agências governamentais passassem a se relacionar nesse ambiente justamente pela confiança quanto à identidade das partes envolvidas em cada interação.

O sistema da Estônia é tão avançado e confiável que 46,7% da sua população já vota pela internet, 98% já possui identidade digital (em alguns casos chegar até a ser incorporada ao chip de celular) e 99% dos serviços públicos já são realizados ou solicitados on-line. Enfim, como destacado pelo ex-presidente estoniano Toomas Hendrik Ilves, não foi a tecnologia e/ou o fato de ser um pequeno país que permitiram que a Estônia chegasse nesse nível de digitalização e eficiência das relações público-privadas, mas sim vontade política.

*O autor é bacharel em Direito e secretário executivo do ES em Ação

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