Publicado em 21 de dezembro de 2025 às 16:44
Deitar-se de costas dentro de um grande scanner de tomografia, o mais quieto possível, com os braços acima da cabeça e durante 45 minutos, não é das coisas mais divertidas.>
Era isso que os pacientes do Royal Brompton Hospital, em Londres, precisavam fazer durante certos exames pulmonares. Mas, com a instalação de um novo equipamento no ano passado, o tempo diminuiu para apenas 15 minutos.>
Isso se deve, em parte, à tecnologia de processamento de imagens do aparelho, mas também a um material especial conhecido como CZT (sigla em inglês para telureto de cádmio e zinco), que permite à máquina produzir imagens tridimensionais muito detalhadas dos pulmões dos pacientes.>
"Com este scanner, obtêm-se imagens maravilhosas", afirma a médica Kshama Wechalekar, chefe de medicina nuclear e PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons) do hospital.>
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"É uma verdadeira façanha de engenharia e física.">
O CZT da máquina foi fabricado pela empresa britânia Kromek, uma das poucas do mundo capazes de produzi-lo.>
Talvez você nunca tenha ouvido falar dele, mas — nas palavras de Wechalekar — ele está provocando uma "revolução" na imagiologia médica.>
Esse material incrível ainda tem muitos outros usos, como em telescópios de raios-x, detectores de radiação e scanners de segurança em aeroportos.>
E sua demanda só cresce.>
As pesquisas sobre os pulmões dos pacientes realizadas por Wechalekar e seus colegas envolvem a detecção de numerosos coágulos de sangue minúsculos em pessoas com covid prolongada, ou de um coágulo maior conhecido como embolia pulmonar, por exemplo.>
O scanner, que custa um milhão de libras esterlinas (cerca de R$ 7,4 milhões), funciona detectando os raios gama emitidos por uma substância radioativa injetada no corpo dos pacientes.>
Mas a sensibilidade do scanner também significa que é necessária uma quantidade menor dessa substância do que antes.>
"Podemos reduzir as doses em cerca de 30%", afirma a médica.>
Embora os scanners baseados em CZT não sejam novos, equipamentos de corpo inteiro e de grande porte como este são uma inovação relativamente recente.>
O CZT existe há décadas, mas sua fabricação é notoriamente difícil.>
"Levou muito tempo desenvolvê-lo para que se tornasse um processo de produção em escala industrial", afirma Arnab Basu, diretor-executivo e fundador da Kromek.>
Nas instalações da empresa em Sedgefield, na Inglaterra, há 170 pequenos fornos em uma sala que Basu descreve como "semelhante a uma fazenda de servidores".>
Nesses fornos, um pó especial é aquecido, fundido e depois solidificado, formando uma estrutura monocristalina.>
Todo o processo leva semanas.>
"Átomo por átomo, os cristais se reorganizam […] até ficarem completamente alinhados", explica Basu.>
O CZT recém-formado, um semicondutor, pode detectar partículas minúsculas de fótons em raios-x e raios gama com precisão incrível, funcionando como uma versão altamente especializada do sensor de imagem baseado em silício sensível à luz que existe na câmera do seu smartphone.>
Cada vez que um fóton de alta energia incide no CZT, como o raio-x, ele mobiliza um elétron, e esse sinal elétrico pode ser usado para gerar uma imagem. A tecnologia de scanners anterior utilizava um processo em dois passos, que não era tão preciso.>
"É digital", detalha Basu.>
"É um único passo de conversão. Preserva toda a informação importante, como o tempo e a energia dos raios-x que atingem o detector de CZT; é possível criar imagens coloridas ou espectroscópicas (que permite diferenciar materiais, tecidos ou substâncias).">
Ele acrescenta que scanners baseados em CZT já são usados atualmente para detecção de explosivos em aeroportos do Reino Unido e para escanear bagagens despachadas em alguns aeroportos dos EUA.>
"Esperamos que o CZT seja incorporado ao segmento de bagagem de mão nos próximos anos.">
Mas nem sempre é fácil conseguir CZT.>
Henric Krawczynski, pesquisador da Universidade de Washington em St. Louis, nos EUA, já utilizou o material anteriormente em telescópios espaciais suspensos em balões de grande altitude.>
Esses detectores podem captar raios-x emitidos tanto por estrelas de nêutrons quanto pelo plasma ao redor de buracos negros.>
O professor Krawczynski precisa de peças muito finas de CZT, de 0,8 mm, para seus telescópios, pois isso ajuda a reduzir a quantidade de radiação de fundo captada, permitindo um sinal mais claro.>
"Gostaríamos de comprar 17 detectores novos", afirma. "É realmente difícil encontrá-los tão finos.">
A Kromek não pôde ajudá-lo porque, segundo Basu, a empresa enfrenta uma grande demanda atualmente.>
"Apoiamos inúmeras organizações de pesquisa", acrescenta. "É muito difícil fazer cem coisas diferentes. Cada projeto de pesquisa requer um tipo muito específico de estrutura de detector.">
Muitos outros cientistas também utilizam CZT.>
No Reino Unido, uma grande modernização do centro de pesquisa Diamond Light Source, em Oxfordshire, melhorará suas capacidades graças à instalação de detectores baseados em CZT.>
O Diamond Light Source é um sincrotron - que acelera elétrons ao redor de um anel gigante, a uma velocidade próxima à da luz.>
Os ímãs fazem com que esses elétrons, ao passarem, percam energia na forma de raios-x, direcionados em linhas de luz para, por exemplo, analisar materiais.>
Alguns experimentos recentes envolveram a análise de impurezas no alumínio durante sua fusão. Compreender melhor essas impurezas pode ajudar a melhorar as formas recicladas do metal.>
Com a atualização do Diamond Light Source, cuja conclusão está prevista para 2030, os raios-x produzidos serão significativamente mais brilhantes, o que significa que os sensores existentes não conseguirão detectá-los corretamente.>
"Não faz sentido gastar todo esse dinheiro em melhorar essas instalações se não for possível detectar a luz que elas produzem", diz Matt Veale, líder do grupo de desenvolvimento de detectores no Conselho de Instalações Científicas e Tecnológicas, uma das partes interessadas no Diamond Light Source.>
Por isso, mais uma vez, o CZT foi o material escolhido>
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