Publicado em 1 de dezembro de 2023 às 08:35
Uma estudante brasileira acusa um colega de classe português de tê-la agredido com socos no rosto e na barriga dentro das instalações da Universidade do Minho, em Braga, no norte de Portugal. Ele também teria feito comentários xenofóbicos e insinuado que a mulher pagava o curso se prostituindo.>
Aluna de uma pós-graduação em comunicação, a jornalista carioca Grazielle Tavares, 49, disse que o episódio, ocorrido na terça-feira (28), foi presenciado por vários estudantes de sua turma, mas que apenas a professora teria agido para socorrê-la.>
Segundo Grazielle, a docente, portuguesa, chamou o segurança da faculdade. O funcionário, porém, teria perguntado o que a brasileira havia feito para irritar o estudante português.>
Ela afirmou que, após alguma insistência, a polícia foi chamada. A equipe da GNR (Guarda Nacional Republicana) apenas interrogou o estudante, que não foi detido.>
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A brasileira foi atendida ainda na sala de aula por uma equipe médica e acabou levada a um hospital. Ela ficou com os lábios inchados e sangrando, além de ter caído no chão com a força do golpe.>
Atingida também na região abdominal, Grazielle diz ter ficado com um hematoma na barriga, onde foi operada há cerca de três meses. "Fiz uma cirurgia grande na barriga, de fora a fora. Ainda estou me recuperando. E onde o chute pegou? Bem na barriga", disse à Folha. O caso foi revelado pelo jornal Correio Braziliense e confirmado pela reportagem.>
Segundo Grazielle, os problemas aconteceram em meio a conversas para um trabalho em grupo do curso. Por ter chegado a Portugal há apenas um mês e meio, já após o início das aulas, ela relata que acabou se juntando aos estudantes "que sobraram" na disciplina, incluindo o agressor.>
A estudante afirma que ela e outra aluna brasileira do grupo já haviam sido alvos de comentários agressivos e preconceituosos por parte do aluno português, que não teria o mesmo comportamento em relação ao outro estudante, do sexo masculino, que integrava o mesmo grupo.>
O estopim para as agressões teria sido um atraso dos integrantes do grupo para uma reunião com a professora da disciplina. Grazielle afirma que chegou ao local um minuto após a hora combinada, mas que, mesmo assim, foi alvo de ofensas por parte do estudante, identificado como João Bernardo Mendes.>
"Ele chegou com o dedo em riste na minha cara, falando alto comigo. Nessa hora eu reagi e respondi que ainda estava para nascer um homem que falaria comigo daquela forma", afirmou.>
A jornalista afirma que se recusou a acompanhar o colega, sem os demais integrantes do grupo, até a sala onde haveria a reunião, o que o teria irritado ainda mais.>
"Ele então me xingou, disse que eu era uma grandessíssima filha da puta e saiu do prédio", disse. "Fiquei muito nervosa e comecei a chorar e a tremer, porque aquilo me desestabilizou muito.">
Grazielle afirma que desistiu da reunião, mas ficou para assistir à aula normal da disciplina, sentando-se próxima à porta da sala . O aluno português teria então começado a entrar e sair repetidamente, encarando a brasileira. Ela afirma que foi novamente ofendida. "Então eu me levantei, dei dois passos grandes em direção a ele e falei 'repete'. Nessa hora, eu já levei um soco dele. Em seguida, veio ainda um chute. Ele me perguntou o que eu estava fazendo estudando no país dele.">
A brasileira disse ter respondido que estava em situação legal em Portugal e pagava normalmente pelo curso. O homem teria então gritado, para todos do entorno ouvirem, que ela devia "pagar com o cu" para custear a formação.>
Procurado, João Bernardo Mendes não respondeu à Folha sobre as acusações de agressão. A Universidade do Minho não retornou aos pedidos de esclarecimento do episódio e sobre o futuro do aluno.>
"Estou dilacerada internamente, dói do fio de cabelo ao dedão do pé. Pode ser pela queda, mas acho que também tem um componente psicológico", disse a estudante. "Já tive um câncer, não vai ser um soco que vai me parar.">
Nos últimos anos, acompanhando a disparada de matrículas de brasileiros nas universidades lusas, o número de queixas de agressão e de xenofobia contra a comunidade vem subindo. Segundo a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, quase 27% das denúncias de discriminação étnica ou racial em Portugal em 2021, último ano do levantamento, eram de brasileiros. Foram 109, aumento de mais de 500% ante as 18 registradas em 2017.>
Desde 2014, a legislação lusa facilita a entrada de estudantes estrangeiros nas universidades do país. Os brasileiros formam a maior comunidade de alunos internacionais, com mais de 30% das matrículas, muitas vezes pagando mensalidades que são mais do que o dobro dos valores praticados para os portugueses.>
Um dos episódios de maior repercussão aconteceu na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa em 2019, quando um grupo colocou uma caixa com pedras e a indicação "grátis para atirar em um zuca [brazuca]" em pleno hall de entrada da instituição.>
De acordo com os responsáveis, tratava-se de uma sátira com a grande quantidade de alunos oriundos do Brasil. Em abril de 2023, mais um aluno da Faculdade de Direito foi acusado de fazer alusão ao apedrejamento de brasileiros. A direção abriu um processo disciplinar.>
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