• Maria Sanz

    É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Crônica: Felicidade

Publicado em 21/01/2023 às 11h42
Maria Sanz, em formato de poesia, analisa as difíceis escolhas de ser feliz

Maria Sanz, em formato de poesia, analisa as difíceis escolhas de ser feliz. Crédito: Pixabay

Não tem receita/

Aprende tentando, quebrando a cabeça.

E o ponto é incerto/

Mas não tem segredo, é só mistério.

É também coisa clandestina, secreta e íntima/

Não faz morada/

Se refugia/

Estala/

Dá e passa.

Problema é quando gente tenta amarrá-la/

E mete na cabeça que tem que ser.../

Aí, não existe pior cilada.

Sim, miss tem que ser bonita/

Palhaço tem que ter alegria/

Artista tem que viver a fantasia/

Apresentador de TV tem que ser entusiasmado/

Mas, feliz de verdade/

Ninguém é obrigado.

Mesmo quando se é o dono dos ovos dourados/

Quando são perfeitos no cenário, casa, casamento, carreira e carros/

Quando tudo parece ser o oposto do errado/

E lhe é imposto um largo sorriso estampado/

Ter-que ser feliz é um troço complicado.

Ora, se sua maior virtude é ser instável/

Ser um imprevisto memorável/

Uma surpresa/

Um delicioso espasmo/

Então, tentar aprisioná-la é preparar para si uma armadilha/

Não adianta construir um trono dourado repleto de almofadas/

Ela não sabe ficar sentada/

Não gosta de gente exigente/

Se recusa a ser domada/

E não costuma dar o ar da graça quando é obrigada.

É caprichosa e não oferece garantias/

Prefere os que por ela arriscam tudo/

Desafiam a correnteza, sobem no palco, gritam "eu te amo"/

E compram passagem só de ida para o mundo.

Mas é também gentil, cotidiana e miúda/

E estala no perfume da canja e da casa arrumada/

No calor do banho, do café, do beijo e da cama/

No abraço do filho suado/

No pudim que deu certo/

No amigo, no chocolate e no caramelo.

Está em você e em mim/

Dia não, dia sim.

Em rebuliço, em repouso/

Murmurado, exclamado/

Na praia, na sorveteria, no silencio do quarto/

Só um pouco ou muito intenso/

Pelo lado de dentro.

Para quem comemora diariamente/

O contrário da morte/

Felicidade é o sucesso da sorte.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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