Publicado em 23 de novembro de 2023 às 11:02
O veterano líder populista anti-islâmico Geert Wilders venceu de forma dramática as eleições gerais holandesas desta quarta-feira (22/11), segundo a contagem quase completa dos votos. >
Depois de 25 anos no Parlamento, a legenda liderada por Wilders, o Partido da Liberdade (PVV), deverá conquistar 37 assentos na Casa. O resultado dá ao partido uma ampla vantagem em relação a seu rival mais próximo, uma aliança de esquerda.>
"O PVV não pode mais ser ignorado", disse ele. "Nós governaremos.">
A vitória de Geert Wilders abalou a política holandesa e promete causar choque também em toda a Europa.>
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Mas para cumprir a sua promessa de ser um "primeiro-ministro para todos", Wilders precisará antes persuadir outros partidos a se juntarem a ele em uma coligação, já que os assentos conquistados na votação não são suficientes para formar maioria. >
Para isso, o líder do PVV precisa conquistar 76 assentos no Parlamento de 150 deputados. >
Em uma reunião do partido nesta quinta-feira (23/11), Wilders, de 60 anos, foi aplaudido e celebrado por aliados em uma sala repleta de câmeras de TV.>
Ele disse à BBC que "é claro" que estava disposto a negociar e possivelmente fazer concessões para se tornar o novo primeiro-ministro.>
O líder do PVV saiu vitorioso após uma campanha baseada na frustração generalizada da população sobre a imigração no país. >
No ano passado, o total de imigrantes na Holanda mais do que duplicou, ultrapassando os 220 mil, em um aumento se deve em parte aos refugiados que fugiram da invasão da Ucrânia pela Rússia. >
A insatisfação com o fluxo, porém, foi agravada pela crise de moradias enfrentada pelo país. >
Segundo uma pesquisa encomendada pelo governo holandês, em 2023 são necessárias 390 mil casas a mais para acomodar toda a população. >
Frequentemente comparado ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump, pela sua retórica inflamada e pelo uso das redes sociais, ele prometeu "fechar as fronteiras" do país.>
Figura proeminente da direita radical na Europa, o político chegou a afirmar que proibiria o Alcorão, o livro sagrado do Islã, mas adiou posteriormente esse plano.>
O holandês foi eleito pela primeira vez para o Parlamento em 1998 pelo Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), mas deixou a legenda em 2004 e criou o seu próprio partido.>
Desde antes da mudança de legenda, porém, Wilders já era conhecido por suas posições radicais em relação ao islamismo e à imigração. >
O deputado e seu partido advogam há anos pela proibição de mesquitas, do Alcorão e das escolas islâmicas no país.>
Wilders também já chegou a descrever o Islã como "uma ideologia de uma cultura retardada" e chamou os marroquinos de "escória".>
Ao lado dos turcos, os marroquinos são a principal população imigrante na Holanda.>
As declarações de Wilders renderam a ele ameaças de morte e ele precisou viver sob forte proteção policial durante anos. >
Fora da Holanda, seus comentários sobre o profeta Maomé também levaram a protestos violentos em países de populações muçulmanas.>
Mas Wilders diz agora que "há obviamente prioridades mais importantes" e falou em colocar algumas das suas políticas em "pausa", indicando que está interessado em desempenhar um papel no governo.>
Anti-União Europeia, o líder do PVV insiste que a Holanda controle as fronteiras, reduza significativamente os seus pagamentos ao bloco e proíba a entrada de novos membros.>
Ele prometeu realizar um referendo para deixar a UE, apelidado de "Nexit", mas reconheceu que não há vontade nacional para repetir os passos tomados pelo Reino Unido.>
Analistas também acreditam que será difícil convencer qualquer potencial parceiro de coligação a aderir a essa ideia.>
Ele se mostrou combativo no seu discurso de vitória: "Queremos governar e... governaremos. [O número dos assentos é] um enorme elogio, mas também uma enorme responsabilidade.">
Horas antes da votação, Wilders estava entusiasmado com suas chances. >
"Acho que é a primeira vez na Holanda que em uma semana ganhamos 10 cadeiras nas urnas", disse ele à BBC.>
Wilders se mostrou realista sobre a difícil tarefa que enfrentará na formação de um governo liderado por ele, mas disse ser uma pessoa otimista e que a vitória tornaria "difícil para os outros partidos nos ignorarem".>
Antes da votação, os outros três grandes partidos do país descartaram a possibilidade de participar de um governo liderado por Wilders devido às suas políticas. >
Mas ao que tudo indica, o cenário pode mudar diante do tamanho de sua vitória.>
A aliança de esquerda liderada pelo ex-comissário da União Europeia, Frans Timmermans, obteve o segundo lugar nas urnas, com 25 assentos, segundo uma previsão baseada na apuração de 94% dos votos.>
Timmermans deixou claro que não integraria um governo liderado por Wilders, prometendo defender a democracia holandesa e o Estado de direito. >
"Não deixaremos ninguém na mão na Holanda. Na Holanda todos são iguais", disse ele aos seus apoiadores.>
Os resultados também apontam para um cenário em que o partido VVD, liberal de centro-direita que controla o governo atualmente, ficaria em terceiro lugar, sob o comando de sua nova líder, Dilan Yesilgöz. >
Um novo partido formado pelo deputado Pieter Omtzigt ficou em quarto.>
Tanto Yesilgöz como Omtzigt felicitaram Wilders pelo resultado.>
Embora a líder do VVD duvide que Wilders consiga aliados suficientes para se tornar primeiro-ministro, ela diz que cabe aos seus colegas de partido decidir como agir a partir de agora. >
Antes da eleição, ela insistiu que não serviria em um gabinete liderado pelo PVV, mas não descartou trabalhar com seus membros caso vencesse.>
Por sua vez, Omtzigt afirmou inicialmente que o seu partido Novo Contrato Social não formaria uma coalizão com Wilders, mas agora diz estar "disponível para transformar esta confiança [dos eleitores] em ação".>
A eleição de Wilders como primeiro-ministro pode provocar ondas de choque por toda a Europa, já que a Holanda é um dos membros fundadores do que se tornou a União Europeia.>
Líderes nacionalistas e da direita radical de toda a Europa comemoraram a sua vitória. >
Na França, Marine Le Pen, do Reagrupamento Nacional, disse que isso "confirma o crescente apego à defesa das identidades nacionais".>
Nos últimos momentos antes da eleição desta quarta, porém, Wilders moderou sua retórica anti-islâmica, dizendo que estava preparado para "colocar na geladeira" suas políticas de proibição de mesquitas e escolas islâmicas.>
A estratégia foi um sucesso e mais do que duplicou o número de assentos conquistado por seu partido PVV no Parlamento.>
Durante a campanha, Wilders também se aproveitou da insatisfação generalizada com o governo anterior, comandado por Mark Rutte, do VVD, que desabou diante da dificuldade interna de chegar a um acordo sobre novas regras de imigração e acolhimento de refugiados.>
Para o cientista político Martin Rosema, da Universidade de Twente, na Holanda, esse foi um dos vários presentes que Wilders recebeu dos seus adversários nos últimos meses. >
Outra vantagem foi que Yesilgöz abriu as portas para trabalhar com ele numa coligação.>
"Sabemos, também por precedentes internacionais, que os partidos radicais de direita se saem pior quando são excluídos", diz.>
Na sede do VVD de Yesilgöz, em Haia, seus apoiadores se preparavam para comemorar a perspectiva de uma mulher ser escolhida primeira-ministra da Holanda pela primeira vez.>
Mas o otimismo se esvaiu quando as primeiras pesquisas de boca de urna apontaram a vitória de Wilders.>
Yesilgöz assumiu o cargo de líder do VVD quando o primeiro-ministro mais longevo da história do país, Mark Rutte, abandonou a política em julho. >
Ela se mudou para a Holanda aos sete anos como uma refugiada turca, mas adotou uma linha dura em relação à imigração em sua carreira.>
Alguns políticos e figuras muçulmanas a acusaram de abrir a porta à direita radical ao mostrar-se aberta à possibilidade de trabalhar com Geert Wilders.>
Aos 46 anos, Yesilgöz tentou se distanciar do governo Rutte, no qual era ministra da Justiça, mas acabou não correspondendo aos resultados apontados pelas pesquisas de opinião.>
Até às vésperas das eleições, quase metade do eleitorado era descrito como indeciso pelas sondagens. >
Muitos desses holandeses provavelmente decidiram não apoiar Yesilgöz. >
*Com reportagem de Paul Kirby e Anna Holligan, da BBC News em Haia>
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