Publicado em 1 de agosto de 2018 às 20:13
Os trabalhos na Assembleia Legislativa após o recesso parlamentar voltaram nesta quarta-feira (1º), mas se o desempenho neste novo semestre legislativo ficar no mesmo ritmo do que esteve na primeira metade do ano, é possível que não haja um resultado expressivo em termos de discussões e votações, já que vão se iniciar as campanhas eleitorais.>
De fevereiro a junho foram realizadas 68 sessões ordinárias. No entanto, 18 delas caíram por falta de quórum, ou seja, por não terem o número mínimo de 10 deputados, um terço do total, presentes no plenário, ou seja, 26,4%. Isso significa que a cada 4 sessões, uma foi encerrada por este motivo, de acordo com levantamento feito pelo Gazeta Online.>
A sessão desta quarta, inclusive, pode ser um indicativo do que ocorrerá até outubro. Com pouco mais de uma hora, cinco deputados permaneciam no plenário, o que fez a sessão ser derrubada.>
Entre as sessões que caíram no primeiro semestre, 66% não chegaram ao ponto de ter nenhum tipo de votação, visto que caíram logo após a fase das comunicações, e antes de iniciar a ordem do dia. Nesta quarta, também foi desta forma.>
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A ordem do dia é a fase mais importante da sessão, pois é nela que ocorrem as discussões e votações das proposições. Cabe ao presidente da Assembleia escolher e incluir os projetos que farão parte da pauta.>
De acordo com o Regimento Interno da Casa, há um quórum mínimo de deputados para cada tipo de atividade. Tanto para iniciar uma sessão, quanto para mantê-la, é exigido que haja pelo menos 10 dos 30 parlamentares no plenário.>
No entanto, não é raro que os deputados registrem a presença no painel, permaneçam no plenário por alguns minutos, e saiam para atender outras demandas, muitas vezes nas salas anexas ou no próprio gabinete.>
Assim, após menos de uma hora de iniciadas, as sessões contam com poucos gatos-pingados presentes, embora o painel eletrônico diga o contrário.>
PRÁTICA>
A prática não é exclusividade da Assembleia, e pode ser vista em todo parlamento, desde a esfera municipal até a federal. E muitas vezes ocorre de forma intencional e coordenada, para obstruir determinadas votações.>
Em caso de projetos polêmicos, um determinado grupo político pode esvaziar a sessão, para que não haja o quórum mínimo obrigatório para votar aquele texto.>
Para aprovar projetos que tenham votação nominal, ou seja, a que há o registro de cada voto como em casos de Lei Complementar , é necessária a concordância da maioria simples, ou seja, de metade mais um, portanto 16 deputados. Já a proposta de emenda à Constituição (PEC) exige três quintos do total, que são 18.>
Contudo, segundo os próprios deputados, as sessões deste ano não foram derrubadas por obstruções a projetos da pauta, e sim porque os parlamentares foram se dedicar a outras atividades.>
Os pedidos de recontagem de quórum já ocasionaram, muitas vezes, divergências entre os deputados estaduais.>
Sergio Majeski (PSB) foi quem mais fez este tipo de requerimento, responsável pela metade do total. Na sessão do dia 9 de maio, por exemplo, foi questionado por Freitas (PSB).>
"São 10h34 e a sessão precisava ser até as 12 horas para cumprir a hora regimental dela; não entramos na ordem do dia ontem, não entramos na ordem do dia hoje. Penso que se viemos aqui, pelo menos temos que ficar até a hora que puder para falar", disse.>
E Majeski rebateu: "O regimento é muito claro: se não tiverem 10 pessoas aqui, a sessão não pode se manter. E no painel constavam 24 deputados presentes. A sessão não podia continuar com 24, porque os projetos iam ser votados de acordo com o painel. Eu não tenho interesse nenhum de derrubar a sessão".>
Majeski explicou por que pediu tantas recontagens. "A maior parte das votações é de leis ordinárias, por aprovação simbólica, e não nominal. Então, aprova-se de acordo com o que está no painel, o que é uma mentira. É claro que o trabalho de um deputado não é só na sessão. Mas é nossa obrigação estar lá. Não tem que marcar compromissos paralelos neste horário", defende.>
O deputado Enivaldo dos Anjos (PSD), 2º secretário da Mesa Diretora e que costuma presidir sessões, é contra a derrubada dos trabalhos por este motivo. Ele chegou a apresentar um projeto para alterar o quórum mínimo de 10 para três deputados.>
"A Assembleia deveria ter três horas obrigatórias de sessão. Não precisaria derrubar a sessão, é só não apreciar matérias. Há exagero. Tem gente que está na antessala do plenário, e é considerada ausente", disse.>
Por meio de nota, o presidente da Casa, Erick Musso (PRB) disse que, desde a primeira sessão do ano, "sensibilizou os deputados sobre a importância de comparecerem às sessões ordinárias, principalmente por ser tratar de ano eleitoral". No entanto, frisou que a responsabilidade da presença é de cada parlamentar.>
Para analistas, debate fica em segundo plano>
A ausência dos parlamentares durante as sessões plenárias podem demonstrar como hoje, contraditoriamente, o Poder Legislativo, considerado o mais político entre os três, tem falhado em exercitar justamente a política, na visão de especialistas.>
Encumbidos de representar os interesses do povo e o jogo de forças que há na política, os números mostram que as sessões têm sido usadas mais para pronunciamentos individuais, deixando os debates em segundo plano.>
"Se há um número tão grande de sessões caindo antes mesmo da época de campanha eleitoral, aparenta que não há nada de ruim acontecendo no Estado, ou que a nossa representação não tem contato com a sociedade, não discute possibilidades de políticas públicas", comenta o historiador e membro da Transparência Capixaba, Rafael Cláudio Simões.>
Ele ressalta que mais do que considerar a presença em plenário, é importante verificar o que foi produzido de relevante nas sessões que duraram até o fim.>
E neste período de fevereiro a junho, de acordo com dados do portal da Assembleia Legislativa, foram aprovadas 63 Leis Ordinárias, sendo 24 delas de autoria do governo do Estado. Houve ainda duas Leis Complementares e 77 Decretos Legislativos, todos eles para a concessão de Títulos de Cidadão Espírito-Santense a personalidades.>
"Um ponto que contribui para isso é que o Legislativo estadual pode produzir poucas leis, efetivamente, pois a maioria dos temas é de competência da União. Mas mesmo assim, os debates não são feitos. E não é por falta de estrutura, pois eles têm assessores, recursos financeiros, tecnológicos", destaca Simões.>
ELEIÇÃO>
Nas eleições de 2016, 18 das 21 sessões da Assembleia foram derrubadas na época da campanha eleitoral para prefeitos, em que 12 dos 30 deputados eram candidatos. Isso significou 81% das sessões derrubadas, e um acúmulo de 44 itens na pauta.>
O doutor em Ciências Sociais Vitor de Ângelo aponta que na campanha que se aproxima, o resultado pode ser ainda pior, considerando que praticamente todos serão candidatos, e que haverá uma campanha mais curta.>
"A população e os órgãos de controle devem ficar atentos ao que é agenda de deputado e o que é de candidato. Tudo isso representa um custo para o Legislativo, pois eles são eleitos para quatro anos, e não para três anos e meio", frisou.>
O QUE ACONTECE NAS SESSÕES>
Quórum>
O que é>
É a quantidade mínima obrigatória de membros presentes ou formalmente representados, para que uma assembleia possa deliberar e tomar decisões válidas.>
Sessões da Assembleia>
Abertura de sessão>
Dez dos 30 deputados devem ter registrado a presença no painel.>
Manutenção da sessão>
A qualquer momento da sessão, qualquer deputado pode pedir a recontagem do quórum. A sessão só continua se houver pelo menos 10 presentes.>
Tipos>
A recontagem de quórum só ocorre em sessões ordinárias ou extraordinárias, que são aquelas deliberativas, ou seja, quando há votações. Sessões especiais ou solenes não têm esta possibilidade.>
Votações>
Simbólica>
Ocorre nos Projetos de Lei Ordinária, por exemplo, quando não há o registro nominal de quem votou contra ou a favor. O quórum levado em consideração é de acordo com as presenças registradas no painel. O presidente convida os deputados a favor a permanecerem sentados e proclama o resultado manifesto dos votos.>
Votação nominal>
Em Projetos de Lei Complementar, por exemplo, é preciso a aprovação de 16 dos 30 parlamentares. Já para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), são 18 votos.>
Fases>
Expediente>
Momento em que é lida a ata da sessão, os projetos e pareceres protocolados.>
Fase das Comunicações>
Momento em que os deputados discursam livremente, por cinco minutos cada um.>
Ordem do dia>
Fase que contém os projetos de lei e outras proposições, dos parlamentares e do Poder Executivo, que serão votados na sessão. Pode incluir também vetos do governador.>
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