As 'Pioneiras' se formaram em 1984; a partir daí, começaram a atuar nas ruas da Capital
As "Pioneiras" se formaram em 1984; a partir daí, começaram a atuar nas ruas da Capital. Crédito: Cedoc A Gazeta

Quem são as mulheres que formaram a primeira turma feminina da PM no ES

Conhecidas como "as pioneiras", 67 mulheres fizeram história ao ingressar de forma inédita na corporação do Estado em  1983

Tempo de leitura: 7min
Vitória
Publicado em 18/09/2023 às 17h37

Em junho de 1983, começaram a sair nos jornais anúncios de que a Polícia Militar do Espírito Santo estava abrindo inscrições para o curso de sargento feminino da corporação, algo inédito no Estado. Era o início de uma história de luta, pioneirismo e muita inspiração. Não à toa, a primeira turma formada por mulheres ficou conhecida como "As Pioneiras". Mas, quem foram elas?

Ao todo, 67 mulheres de 18 a 25 anos integraram o quadro da primeira turma de sargentos femininos. A maioria das candidatas ficou sabendo do concurso pelos jornais ou por colegas que viram a notícia. Apesar de ser algo inédito, elas viram ali uma oportunidade de crescimento.

HISTÓRIAS DE QUEM FAZ PARTE DA HISTÓRIA DO ESTADO

Foi o caso de Maria Ângela Rodrigues, de 58 anos. Hoje, ela já é aposentada como capitão. Na época, tinha terminado um curso técnico em Estradas e estava fazendo estágio.

"Várias colegas desse estágio resolveram entrar na PM e eu fui também. Era uma coisa que nunca tinha passado na minha cabeça. Eu era atleta, corria, e vi como uma possibilidade de fazer algo diferente. Quando eu resolvi entrar, a empresa que eu estava perdeu seis estagiárias de uma só vez. Eles falavam que seria um concurso difícil, mas a gente foi encarando assim, sem saber direito o que iria acontecer, nem que disciplina teria, como seria esse treinamento... Com a cara e a coragem", relatou.

Reportagens sobre a primeira turma de mulheres na PMES

Publicação no Jornal A Gazeta sobre a primeira turma de mulheres na PMES
Publicação no Jornal A Gazeta sobre a primeira turma de mulheres na PMES. Cedoc A Gazeta
Publicação no Jornal A Gazeta sobre a primeira turma de mulheres na PMES
Publicação no Jornal A Gazeta sobre a primeira turma de mulheres na PMES. Cedoc A Gazeta
Publicação no Jornal A Gazeta sobre a primeira turma de mulheres na PMES
Publicação no Jornal A Gazeta sobre a primeira turma de mulheres na PMES. Cedoc A Gazeta
Publicação no Jornal A Gazeta sobre a primeira turma de mulheres na PMES
Publicação no Jornal A Gazeta sobre a primeira turma de mulheres na PMES. Cedoc A Gazeta
Publicação no Jornal A Gazeta sobre a primeira turma de mulheres na PMES
Publicação no Jornal A Gazeta sobre a primeira turma de mulheres na PMES
Publicação no Jornal A Gazeta sobre a primeira turma de mulheres na PMES
Publicação no Jornal A Gazeta sobre a primeira turma de mulheres na PMES

As 67 selecionadas passaram por um treinamento de nove meses no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cefaps), hoje Academia de Polícia Militar do Espírito Santo (APM), em Cariacica.

"Nós éramos a primeira turma, então não tínhamos em quem nos espelhar. O que foi feito: na época, nós fomos a outros estados conhecer outras polícias. Fomos a São Paulo, fizemos um estágio com elas lá e ficamos alguns dias para aprender como era o serviço. Daí em diante a gente começou a trilhar um trabalho baseado naquelas referências que a gente tinha tido em sala de aula e nesses estágios", lembrou Ada Maria Carniato, de 58 anos. Integrante das Pioneiras, ela se aposentou como capitão mas continua trabalhando, hoje no Ministério Público.

Ainda durante o treinamento, elas participaram o desfile de 7 de Setembro, em Vitória. Foi a primeira aparição pública da turma e, consequentemente, momento em que mais pessoas ficaram sabendo que havia uma turma de mulheres se formando na PMES.

Sandra Mara de Carvalho Relo, de 58 anos, é das Pioneiras e se aposentou como capitão. Ela contou como foram os primeiros dias já nas ruas, após a formatura das policiais. "Inicialmente nós fomos empregadas no Batalhão de Trânsito e no policiamento ostensivo do 1º Batalhão", disse.

A atuação delas deu tão certo que as mulheres passaram a ser empregadas em outros batalhões e funções.

"As pioneiras são mulheres competentes, confiantes na atuação delas na época, tanto é que a companhia feminina era separada, as atuações eram separadas e direcionadas para mulheres, jovens e idosos. Com a atuação na rua, com o pioneirismo delas e também a atuação em ocorrências de ponta, em conflitos amados, mudou todo esse comportamento e as mulheres passaram a ser muito respeitadas e atuar, posteriormente, em todas as áreas da corporação", ponderou Sonia Grobério, de 58 anos. Ela se aposentou como coronel mas continua trabalhando como instrutora na APM.

Formatura das 'pioneiras', em 12 de junho de 1984

Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', primeira turma de mulheres da PMES, em junho de 1984
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES. Cedoc A Gazeta
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES
Formatura das 'pioneiras', em 1984, primeira turma de mulheres da PMES

Desafios e preconceito

Imagine só: pela primeira vez, mulheres usando farda da PM estavam circulando pelas ruas de Vitória; claro que elas passaram por muitos desafios e preconceitos.

Capitão Maria Ângela Rodrigues, 58 anos

Integrante das Pioneiras

"A gente escutava brincadeirinhas, gente falando: 'Ah, eu quero ser preso por essa policial'. No início a gente olhava e não sabia direito o que fazer. Mas acho que a população em geral encarou com muita naturalidade"

A capitão Ada Maria Carniato lembrou que, nas ruas, muita gente falava primeiro com os policiais homens, mesmo que a mulher fosse a responsável por aquela equipe.

"Quando a gente chegava para trabalhar em alguma ocorrência, o primeiro a ser abordado era o policial masculino. Logo no início eu comecei a falar com os policiais: 'Olha, em toda ocorrência que eles perguntarem alguma coisa, vocês passam para mim'. E assim foi feito. Eu trabalhava no Batalhão de Trânsito e a gente ia atender acidente, eu pedia os documentos e via que ninguém me falava nada, e se dirigia só ao masculino. Com essa prática a gente foi conseguindo firmar um jeito diferente de trabalhar."

A pioneira Rosane Assunta Guzzo, de 63 anos, se aposentou como capitão e hoje trabalha como voluntária no Corpo de Bombeiros. Ela revelou que o preconceito perdurou por alguns anos.

"Tratavam a gente como 'menininhas': alguns protegiam, outros não gostavam da gente. Quando a gente tirava serviço eles achavam que tinham que nos ajudar, porque achavam que a gente tinha dificuldade em exercer a atividade. Mas na maioria das vezes era proteção; sentíamos muito carinho e proteção por nós", pontuou.

Mesmo aposentadas, continuam trabalhando

Algumas pioneiras migraram para outras corporações. "Em 1991, o então comandante do Corpo de Bombeiros, que era uma unidade da PM, precisava de uma assistente social lá. Ele pediu para a tenente Sônia, que era comandante da Companhia Feminina, para que, entre as que tinham o curso de Serviço Social da nossa turma, uma de nós fosse para lá para atuar como assistente social. Na época eu estava terminando o meu curso e aceitei, porque meu sonho sempre foi ir para os Bombeiros", contou a capitão Rosane Assunta.

Pioneiras como oficiais da Polícia Militar do Espírito Santo
"Pioneiras": as primeiras mulheres a entrar na PM do Espírito Santo são amigas e se reúnem mesmo após 40 anos. Crédito: Vitor Jubini

Ela trabalha lá até hoje, como voluntária. O caso dela, de continuar trabalhando após a aposentadoria, é comum entre as pioneiras.

"Eu aposentei em um dia e no dia seguinte eu já estava contratada e trabalhando no Ministério Público, onde estou há 8 anos e meio. Eu costumo brincar que eu estou há 40 anos trabalhando, porque eu não saí. Mesmo na condição de aposentada existe um convênio da Secretaria de Segurança Pública, através da PM e de outro órgão público, e esses policiais podem trabalhar na área de Segurança desses órgãos", explicou a capitão Ada Maria.

Outros "pioneirismos"

A coronel Sônia é um exemplo de pioneira que teve outros "pioneirismos". Após ingressar na turma de 1983, ela participou do Curso de Formação de Oficiais, também o primeiro de oficiais femininas da corporação, que foi realizado em Minas Gerais.

"Obtive êxito lá nesse curso sendo a primeira colocada entre todos os integrantes da academia, que era formada por policiais do Brasil todo, não só do Espírito Santo. Retornando aqui para o Estado, eu assumi várias frentes ditas até então masculinas: fui instrutora de tiro policial, que até então não tinha mulher atuando nessa área; também fui a primeira mulher a comandar um Batalhão, quando fui promovida a tenente-coronel, aí assumiu o 4º Batalhão da PM em Vila Velha. Por lá eu fiquei três anos e quatro meses, até a minha aposentadoria."

Ainda falando em vanguardismo, veja outros marcos das mulheres na PMES, de acordo com a corporação:

  • 1986: primeira turma do Curso de Formação de Soldados Femininos, com 31 concludentes. 

  • 1987: quatro alunas oficiais ingressaram no Curso de Formação de Oficiais junto com os colegas masculinos. 

  • 1992: a Companhia de Polícia Militar Feminina foi extinta, e as mulheres passaram a fazer parte de todas as unidades da PMES e do Corpo de Bombeiros, sem distinção de sexo. 

  • 1995: a PM volta a ter o ingresso de mulheres no Curso de Formação de Oficiais. Naquele ano, 10 alunas começaram a formação no antigo Cefaps, agora conhecido como APM, resultando na formação de nove novas aspirantes a oficial femininas para a PMES em 1997.

Mensagem para as próximas gerações

A união das pioneiras continuou com o passar dos anos. "Além de encontros periódicos, é certo que nos encontramos uma vez por ano com uma confraternização, com festa, com viagem. É uma turma realmente pioneira e bastante unida. Amigas para sempre!", comemorou a capitão Sandra Mara.

O trabalho desempenhado por elas influenciou muitas mulheres que vieram nos anos seguintes. A sensação é de dever cumprido. "Nós deixamos um legado. Antes não tínhamos ninguém para que a gente pudesse olhar e se espelhar. Acho que hoje elas, de alguma forma, vêm se espelhando nas que vieram antes. A sensação é essa, de que nós cumprimos nosso papel", disse Sandra.

Para Ada, o recado para as próximas gerações é de que as mulheres podem tudo. "Estudem e prestem concurso porque é uma carreira linda, brilhante, mas a educação é a base do que você vai fazer nesses nesses anos de trabalho", destacou.

"Eu acho que, se você tem vontade de correr atrás dos seus sonhos, não desista quando falarem que você não vai conseguir fazer uma barra, ou que não vai conseguir correr, ou que você é ruim. Corra atrás do seu sonho que é possível, sim", finalizou Maria Ângela.

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