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'Última resistência ou retorno político?': como a imprensa internacional repercutiu ato de Bolsonaro

'Última resistência ou retorno político?': como a imprensa internacional repercutiu ato de Bolsonaro

Jornais destacaram que Bolsonaro quis demonstrar força em meio às investigações sobre suposto golpe de Estado

Publicado em 26 de fevereiro de 2024 às 09:10

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Imagem BBC Brasil
(EPA)

A imprensa internacional repercutiu no seu noticiário o ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em São Paulo no domingo (25/2).

"Última resistência ou retorno político?", perguntou o jornal francês Le Monde em uma reportagem escrita por um correspondente no Brasil.

"Encurralado por investigações judiciais e gravemente ameaçado de prisão, Jair Bolsonaro assumiu a liderança, no domingo, 25 de fevereiro, em uma grande manifestação de apoio a si mesmo."

O jornal disse que havia um grande número de manifestantes no ato, mas destacou o comedimento de muitos dos presentes.

"A multidão estava lá, é claro. Mas estamos longe do entusiasmo das mobilizações anteriores. Sob um lindo sol, os rostos permaneceram fechados, e as palavras eram controladas. O medo de serem presos por convocarem um golpe é real entre esses bolsonaristas que agora seguram seus ataques contra os odiados juízes do Supremo Tribunal Federal."

O correspondente do Le Monde também relatou que as bandeiras de Israel na multidão eram "quase tão numerosas quanto as do Brasil".

"No final deste dia, Bolsonaro terá demonstrado a sua capacidade de mobilização e a resiliência da sua popularidade junto da sua base. Politicamente, ele terá, portanto, ganho alguns pontos. Mas no plano jurídico, o assunto está longe de ser ouvido", escreveu o jornal, enumerando alguns dos processos aos quais Bolsonaro responde no momento.

"Já condenado a oito anos de inelegibilidade pelos seus ataques ao sistema de votação eletrônica do Brasil, poderá o 'capitão' ver a sua cavalgada política terminar atrás das grades? Na extrema direita, alguns já parecem estar preparando a sucessão e imaginando um bolsonarismo sem Bolsonaro. O candidato mais sério continua sendo o ex-ministro e atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Presente no Paulista, ele prestou homenagem ao 'amigo' e ex-presidente", diz a reportagem.

Outro jornal francês que noticiou a manifestação na avenida Paulista foi o Le Figaro.

"Apesar destes escândalos, Jair Bolsonaro ainda é considerado o líder da oposição e continua adorado pelos seus apoiantes. Mesmo tendo sido declarado inelegível até 2030 no ano passado por desinformação, o ex-presidente pretende usar sua influência para eleger aliados durante as eleições municipais de outubro, em um país ainda muito polarizado."

Foto de multidão

O espanhol El País disse que "o bolsonarismo demonstrou orgulho, força e apoio ao líder nas ruas após um ano de discrição".

"O ex-presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, 68 anos, conseguiu este domingo em São Paulo o grande evento que procurava em resposta à acusação de que planejou um golpe de Estado juntamente com vários generais que eram ministros", escreveu o jornal.

"Cerca de 185 mil fiéis, segundo uma contagem de acadêmicos, apoiaram-no juntamente com quatro governadores aliados e dezenas de parlamentares. Três dias depois de permanecer em silêncio ao ser questionado pela polícia sobre a suposta trama golpista, Bolsonaro queria uma foto de multidão para rebater o que considera uma perseguição judicial."

O jornal destacou a fala de Bolsonaro de que não havia "tanques nas ruas" e que, portanto, não houve tentativa de golpe. Segundo o jornal, Bolsonaro "ignorou que no século 21 os golpes são perpetrados distorcendo as leis".

O El País disse que o ex-presidente está "cada vez mais encurralado pela justiça".

"Os oito casos investigados pelo Supremo têm um pouco de tudo: divulgação de notícias falsas, posse de joias valiosas que eram presentes de Estado e má gestão da covid-19."

Na imprensa britânica, o ato de Bolsonaro foi noticiado por Daily Mail, Independent e Guardian.

O Daily Mail enumerou as acusações contra Bolsonaro, mas concluiu: "Mesmo assim, Bolsonaro ainda é considerado o líder da oposição e é adorado por seus fervorosos apoiadores".

"O protesto de domingo à tarde é visto como um teste decisivo ao seu apoio antes das eleições municipais de outubro, nas quais se espera que a sua influência desempenhe um papel fundamental na nação ainda polarizada."

O Independent destacou que Bolsonaro ainda tem muitos apoiadores no Brasil, apesar das investigações policiais contra ele.

"O evento mostrou que a mensagem de Bolsonaro ainda ressoa entre muitos brasileiros, alguns dos quais evidentemente são a favor de qualquer tentativa de golpe que o coloque no poder. Um homem desfilou com chapéu militar e gritou: 'Brasil, nação, salve nossas forças. As Forças Armadas não dormiram!'", escreveu o Independent.

O Guardian destacou na sua manchete: "Dezenas de milhares de pessoas participam de manifestação em apoio ao ex-presidente do Brasil".

Imagem BBC Brasil
Protesto ocupou quarteirões da avenida Paulista. (Reuters)

O ato bolsonarista foi destaque também no Times of Israel, jornal que fez críticas a Lula na semana passada pela fala em que o presidente traça paralelos entre a ação de Israel em Gaza e o Holocausto nazista.

O título do jornal diz: "Em refutação a Lula, o ex-líder do Brasil Bolsonaro agita a bandeira de Israel em comício em massa".

"O ex-presidente foi fortemente pró-Israel durante o seu mandato. Em uma das suas primeiras medidas depois de vencer as eleições presidenciais de 2018, Bolsonaro prometeu seguir o exemplo do seu modelo político, o então presidente dos EUA, Donald Trump, e transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém."

Veículos alemães — como o Sueddeutsche Zeitung e o Spiegel — também noticiaram o ato na avenida Paulista.

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