Publicado em 11 de março de 2020 às 16:58
Para reverter a narrativa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra o Congresso, a CMO (Comissão Mista de Orçamento) aprovou o projeto de lei sobre Orçamento impositivo sem as emendas incluídas por parlamentares, retomando o texto enviado pelo governo e mantendo a divisão de recursos com o Legislativo.>
Entre os deputados, o texto-base do PLN 4 (projeto de lei do Congresso Nacional) foi aprovado por 19 votos a favor e 5 contrários, de um total de 24 votos computados -são 31 titulares.>
A seguir, os parlamentares rejeitaram destaques propostas de alterações em votação simbólica, mantendo o texto original de Bolsonaro. Agora, o documento final vai ao plenário do Congresso.>
Depois disso, o colegiado ainda vai votar o terceiro projeto encaminhado pelo Executivo como parte de um acordo para dividir R$ 30 bilhões do Orçamento 2020.>
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Para aprovar o PLN 4, parlamentares costuraram um acordo segundo o qual o relator da proposta, deputado Cacá Leão (PP-BA), retirou os acréscimos feitos ao documento enviado pelo governo.>
O original, enviado por Bolsonaro, determina que a execução de emendas de relator e de comissão identifiquem beneficiários e ordem de prioridade estabelecida pelos autores. Isso só ocorrerá quando essas indicações representarem acréscimo de valor em relação às programações do governo.>
Na prática, isso significa que as emendas de comissão e de relator provenientes de recursos que o Congresso acrescentou ao Orçamento passariam a ser de execução obrigatória pelo governo, caso não haja impedimento legal.>
O relatório inicial de Cacá acrescentava trechos que aumentavam a transparência do dispositivo, prevendo que beneficiários e a ordem de prioridade das despesas por parte dos autores fossem divulgados pelo Congresso.>
Em Miami, Bolsonaro desafiou os parlamentares a rejeitar os projetos de lei sobre Orçamento impositivo, em gesto que, afirmou, diminuiria a adesão às manifestações de apoio ao governo marcadas para o próximo dia 15.>
Diante da escalada de ataques de Bolsonaro ao Legislativo, os parlamentares decidiram retirar as emendas, em estratégia para desconstruir o discurso do presidente contra a aprovação do projeto. Ao retomar o texto original, os congressistas retiram de Bolsonaro qualquer motivação para vetar a proposta, considerando que o documento é o mesmo enviado pelo governo ao Congresso.>
"Não pode haver nenhuma dúvida de que o Executivo está de acordo com ele [o projeto], uma vez que está tal qual enviado por ele", afirmou o presidente da CMO, senador Marcelo Castro (MDB-PI).>
"Se [Bolsonaro] vetar, vai vetar o texto dele", concordou o relator Cacá Leão.>
O impasse entre Legislativo e Executivo gira em torno de R$ 15 bilhões dos R$ 30 bilhões que inicialmente estavam sob controle do relator do Orçamento, deputado Domingos Neto (PSD-CE). O governo resiste a ceder os recursos aos parlamentares, mesmo após o acordo firmado na semana passada que previa o acerto em troca de que os congressistas mantivessem vetos do presidente ao Orçamento impositivo.>
Como forma de pressionar o Executivo, parlamentares contrários ao projeto também coletaram assinaturas e levaram ao Planalto uma carta na qual pedem que Bolsonaro recolha o texto.>
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AM), um dos integrantes do grupo "Muda, Senado!", afirmou ter recolhido cerca de 100 assinaturas, entre elas a do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.>
"Esperamos atingir a maioria das assinaturas das duas casas do Congresso Nacional", disse.>
Randolfe defendeu que Bolsonaro aplique os recursos no controle da crise gerada pela disseminação do covid-19, o novo coronavírus.>
"Se, de fato, o presidente da República considera um absurdo esse PLN e se o próprio presidente da República manifestou que é ideal que os parlamentares derrotem esse PLN encaminhado por ele próprio, o senhor presidente da República tem a prerrogativa de, utilizando o regimento da Casa, pedir a retirada do PLN 4", disse o senador.>
Para o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), também do "Muda, Senado!", a iniciativa do grupo é um "chamamento à responsabilidade" do presidente. "O presidente tem responsabilidade neste processo. O presidente é o autor do PLN 4. Se ele, nas redes sociais e para a sua base, fala que é contrário, o mecanismo técnico é simples: ele retira esse projeto.">
Na semana passada, em uma reunião com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e líderes partidários, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a dizer, segundo relatos de participantes, que, se o governo descumprisse o acordo, não votaria nenhum outro projeto de remanejamento orçamentário do governo, os PLNs, até o fim do ano.>
O Executivo apresentou na semana passada três projetos em troca de que o Congresso mantivesse os vetos que Bolsonaro fez ao Orçamento impositivo.>
Alguns parlamentares tanto na Câmara como no Senado defendem que a votação dos textos fique para depois das manifestações pró-governo e contra o Congresso, marcadas para 15 de março, na intenção de baixar a temperatura.>
Deputados e senadores estão de olho nos atos convocados por apoiadores de Bolsonaro e pelo próprio presidente em todo o país. Eles avaliam que, se as manifestações não forem gigantescas, será um claro sinal de que a estratégia diversionista de Bolsonaro diante de crises não surtirá mais efeito.>
Os parlamentares que defendem que os PLNs sejam levados a plenário já nesta semana argumentam que é preciso destravar as pautas da Câmara e do Senado. As duas Casas não têm realizado sessões por causa das reuniões do Congresso Nacional.>
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