Carreira e
bem-estar
dos jovens
Como se preparar
e fazer as melhores
escolhas para
o futuro
Quando a carreira
é, também,
desafio coletivo
Desde o ato inaugural da Rede Gazeta, em 1928, quando A Gazeta circulou pela primeira vez, temos uma convicção: a educação é pilar fundamental para a construção de um Espírito Santo mais justo, desenvolvido e inovador. Mas esse caminho exige mais do que acesso à escola: pede acolhimento, escuta, estímulo e, sobretudo, visão de futuro.
Esses elementos não se encontram sozinhos por aí; devem ser fruto de um trabalho conjunto, de visões múltiplas, com o objetivo comum de melhorar as condições do ensinar, do aprender (e, também, compreender) e, por consequência, do próprio entendimento de que o que se aprende hoje pode mudar amanhã. Por isso, educar e aprender são processos contínuos, integrados e coletivos.
Nesta edição especial, reunimos reportagens que olham com profundidade para os dilemas e as oportunidades de quem está em fase de formação, seja um estudante da educação básica, seja um jovem em busca de orientação profissional, seja um educador atento às demandas do presente.
Nosso time de repórteres ouviu especialistas para o conteúdo das páginas a seguir. É um convite nosso para a reflexão sobre quão preciosa e complexa é a escolha da carreira, muitas vezes feita na adolescência, quando os jovens ainda estão descobrindo suas emoções e enfrentando pressões familiares, sociais e financeiras. Como escolher, tão cedo, um caminho para a vida toda? A resposta está no diálogo e no apoio.
Também falamos sobre a importância da escola como espaço de afeto, e não apenas de cobrança. A Rede Gazeta acredita que a educação é uma força transformadora. Por isso, além da nossa atuação editorial, promovemos iniciativas, eventos e parcerias que estimulam a formação cidadã, a qualificação profissional e a valorização de quem educa.
Assim, reafirmamos nosso compromisso com esse direito essencial: garantir uma educação de qualidade, que forme pessoas capazes de construir suas próprias trajetórias e transformar a realidade ao seu redor.
Marcello Moraes
Diretor-geral da Rede Gazeta
COMO USAR
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Jovens precisam de apoio para escolher profissão
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Todo ano um ciclo se fecha para milhares de jovens no Espírito Santo – é o fim do ensino médio e, com ele, muitas certezas ficam pelo caminho. Pela frente, um mundo de opções e oportunidades diversas. Mas as inúmeras possibilidades que se apresentam, muitas vezes, assustam os alunos que chegam ao “terceirão”.
A escolha de uma profissão ainda tão jovem, num momento em que as mudanças são tão constantes no mercado de trabalho, cria dúvidas: o que fazer? Como escolher? E se eu não gostar?
Os questionamentos abrem as portas do medo e da insegurança, mas são sentimentos que podem ser ajustados, apontam especialistas. Com auxílio da família e acompanhamento escolar, a passagem pela escolha profissional pode até provocar hesitação, mas será bem mais tranquila.
Doutor em Psicologia e professor universitário, Eduardo Miranda observa que a adolescência é uma fase de transição e, no aspecto neurológico, o indivíduo ainda passa por um processo de formação.
“Levando em consideração esses dois pontos, a decisão que o adolescente vai tomar não precisa ter esse caráter de que ‘é para a vida toda’, principalmente, hoje, se pensarmos em um mercado de trabalho tão diversificado e dinâmico.”
O professor de Psicologia e pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Alexsandro de Andrade, acrescenta que a nova geração faz escolhas sobre questões importantes em um momento em que se vive o auge das modificações globais em diversas áreas.
“As profissões estão mudando cada vez mais. Os jovens escolhem achando que a profissão que estão escolhendo hoje vai valer para a vida inteira. O que acontece, ao contrário, é que as profissões, atualmente, têm um ciclo de vida muito menor”, frisa.
Com a perspectiva de um futuro com muitas mudanças, é necessário prepará-los para tomar decisões. E essa formação não se obtém somente auxiliando no caminho que o aluno quer seguir, mas também sobre quem ele é.
“Deve ser uma busca por algo que consiga motivar o adolescente a estudar, com o que ele se identifique e, novamente, menos com o peso de ser para a vida inteira”, reforça Eduardo Miranda.
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Apoio psicológico e
testes vocacionais
Para ajudar nessa jornada, algumas unidades educacionais têm planos pedagógicos específicos. Entre as estratégias usadas estão o apoio psicológico e testes vocacionais. O objetivo é encaminhar o aluno desde o ensino fundamental a obter o autoconhecimento.
Para Cristiano Carvalho, diretor-geral da Escola Americana de Vitória (EAV), um dos papéis da instituição de ensino é preparar o aluno para a vida.
“No mundo em que vivemos, está ficando cada vez mais evidente que as demandas, na verdade, não são por preparo para uma profissão, são para o desenvolvimento permanente de um ser humano que será capaz de escolher e exercer as diferentes profissões que ele vai seguir ao longo da sua carreira, porque a carreira é muito mais ampla do que a profissão”, pontua Carvalho.
E ter consciência dos próprios gostos, vontades, valores e desejos reflete em um futuro profissional mais encaminhado, mesmo sem se ter a certeza do que está por vir.
No UP Centro Educacional, a equipe pedagógica pratica a escuta ativa, acolhendo dúvidas, inseguranças e ansiedades dos alunos diante da escolha profissional.
“Também oferece um acompanhamento dedicado e acolhedor, que leva em conta o interesse e o tempo de cada estudante. A importância reside em formar cidadãos conscientes, autônomos e preparados para o futuro, em todas as dimensões da vida”, ressalta Debora Cottini, diretora pedagógica do ensino médio do UP.
Para isso, é necessário colocar a mão na massa, como observa o diretor escolar do Centro Educacional Primeiro Mundo de Vila Velha, Lúcio Caetano.
“É preciso mostrar para os nossos alunos a vivência de forma que eles possam ter a melhor decisão com o nosso apoio, e da família também, e fazer com que possam definir algo que seja assertivo”, reforça.
O psicólogo Eduardo Miranda ressalta a importância de escola e família serem pontos de apoio. “Deve haver um espaço de discussão para isso, dar opiniões, mas não deixar de ouvir o adolescente. Quem estiver perto do adolescente precisa ouvi-lo e, dessa escuta, podem surgir caminhos”, argumenta.
A família deve ser um ponto de apoio para os adolescentes
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Contato com o
mercado é estratégia
Ingressar numa carreira na área da saúde, da educação, das engenharias ou numa área social são algumas das centenas de opções disponíveis para formação. Mas, além do imaginário de como é atuar em alguma profissão, é importante o estudante ter contato prévio com o mercado desejado.
Para isso, as escolas podem definir alguns caminhos a seguir como forma de acompanhar os alunos nessa jornada. Uma boa estratégia é promover o encontro deles com profissionais da área.
O acesso a pessoas que atuam em diferentes atividades e a feiras de profissões, para o pesquisador Alexsandro de Andrade, possibilita ao estudante entender um pouco melhor sobre como funciona o mercado de trabalho naquele segmento e apresenta informações mais concretas em relação à carreira desejada.
“Mas é importante haver diferentes contatos com diferentes profissões e formas de conhecimento. Como o jovem está em um processo de escolha em que se sente inseguro, normalmente ele escolhe por aquilo que conseguiu ver. E se viu só uma coisa, ele tende a gostar ou não gostar disso. Se ele conseguir ver outras coisas, outras opções, isso vai favorecer bastante o processo de decisão dele”, argumenta.
Um exemplo está na Escola Americana de Vitória que, por meio do projeto de estágio inovador, o EAV Innovators, aplica o conhecimento teórico na prática. Na instituição, os jovens do ensino médio são divididos em grupos e depois encaminhados a empresas de setores diferentes para um momento de imersão.
No período de sete dias, os participantes conhecem o dia a dia de quem já se formou na faculdade ou universidade – o que pode ser vivenciado em hospitais, ambiente corporativo, em escritório de advocacia ou nas outras diversas opções que a unidade educacional oferece. No final, ainda apresentam um projeto de solução a ser desenvolvida.
Com o mesmo propósito, mas aplicado de forma diferente, o Primeiro Mundo oferece a seus estudantes a possibilidade de acesso a profissionais de empresas até de outros Estados.
“São abordados desafios institucionais. Então, os alunos vão refletir sobre aquele problema e oferecer uma solução que desenvolveram para a instituição. É dentro deste leque que eles vão discutir e apresentar soluções. Inclusive, as empresas aplicam isso na vida delas”, explica Lúcio Caetano.
Com as experiências, os adolescentes conseguem desenvolver habilidades profissionais, mentais e pessoais, além de explorar possíveis carreiras.
Pensando nesse caminho de decisão do estudante e buscando torná-la mais consciente e assertiva, o UP oferece aos alunos as disciplinas de Desenvolvimento Socioemocional, já no ensino fundamental II, e Projeto de Vida, no ensino médio.
“A ideia, com essas disciplinas, é proporcionar ao estudante diversas reflexões e possibilidades, assim como fazê-lo descobrir seus talentos, pensar sobre o futuro, para poder fazer escolhas profissionais mais conscientes e alinhadas ao seu propósito de vida”, ressalta a diretora Debora Cottini.
A troca de experiência com ex-alunos também é um caminho que pode ser seguido. No Primeiro Mundo, antigos alunos, já formados na faculdade, retornam para contar sobre a trajetória percorrida no ensino superior.
Outro modo de aproximar o estudante de uma decisão mais assertiva é a participação em palestras com profissionais e visita a feiras com universidades, nas quais é possível ter acesso à grade curricular da instituição de ensino superior. Esta estratégia é considerada importante pela Escola Americana que, inclusive, desenvolveu um projeto para que os estudantes tenham contato até com currículos de faculdades internacionais.
O psicólogo Eduardo Miranda pontua que o adolescente pesquisar, buscar informações sobre a carreira e profissões por essas e outras estratégias, é importante para basear a decisão que, ressalta o especialista, não deve ter apenas o aspecto financeiro como foco.
“É claro que aspectos econômicos podem ser considerados, mas a escolha da profissão deve refletir, prioritariamente, o gosto e o interesse desse adolescente. Isso precisa ser levado em consideração porque, a médio e longo prazo, vai impactar a saúde mental”, conclui.
É importante ter contato com profissionais da área desejada
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Os adolescentes vivem momento de buscar integração
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A adolescência é um período de intensas transformações e, na sociedade atual, ainda é marcada por uma geração hiperconectada. Somam-se a esse momento as cobranças sobre o futuro profissional, com a necessidade de desenvolver inúmeras habilidades para caber nas exigências do mercado.
Também é nesse espaço de trocas plurais que emergem novas experiências, tais como relações amorosas, busca por integração em novos grupos, pressões escolares e familiares, conflitos com a própria identidade, escolhas e decisões sobre o futuro.
Marcelo Santos, psicólogo e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, reitera que para a psicologia, de fato, crescer dói. Mas dói porque leva a pessoa a novos desafios, a encarar perdas e confrontos com o desconhecido. Então, existe um desconforto emocional e psicológico, mas não é uma dor física, é uma sensação de angústia, de ansiedade.
“A dor, nesse caso, é inerente ao processo de amadurecimento da pessoa. Ela vai encarar uma desconstrução da sua identidade infantil para uma adulta e isso pode gerar uma crise de identidade. Porém, a escola pode servir como um espaço de acolhimento, elaborando estratégias de apoio à saúde mental e auxiliando este aluno na sua escolha profissional”, sugere Marcelo.
A psicóloga Luana Vianez observa que a adolescência é um período do desenvolvimento humano em que a mente passa por muitas mudanças qualitativas, ou seja, despertam-se algumas faculdades mentais superiores, devido a um amadurecimento das estruturas corticais do cérebro.
“Novas capacidades passam a estar disponíveis, como a reflexão, o planejamento e a previsão dos resultados de ações. Essas capacidades enriquecem a forma de pensar, de se relacionar com as pessoas e com o mundo ao redor, abrindo um universo de possibilidades para que o adolescente inicie suas escolhas na vida, sendo esse um treino intensivo para se tornarem adultos”, afirma Luana.
Nesse contexto de imensos desafios internos, diz a psicóloga, a escola pode atuar, negando ou favorecendo a regulação desses potenciais. “Infelizmente, há diversas lacunas no sistema educacional que incidem na vida de jovens, exercendo enorme pressão por retenção de conteúdos e deixando pouco espaço para um verdadeiro amadurecimento intelectual”.
Essa pressão, continua Luana, também reduz a possibilidade de momentos de reflexão, presença e conexão, fazendo com que o adolescente passe por essas profundas transformações típicas da idade, muitas vezes desconectado-se até de si.
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Instituições devem estimular reflexões
Toda vez que a escola evidencia a estrutura da realidade, favorece o adolescente de muitas formas. Fazer refletir, ajudá-lo a encontrar seu lugar, a se conectar e se apoiar mutuamente são atividades simples que podem gerar um enorme impacto positivo no desenvolvimento geral desses jovens, apontam os especialistas.
Professor do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Marcelo Lima comenta que a escola é um espaço de socialização onde a criança, o adolescente e o jovem vão encontrar formas de convivência, trocas afetivas, vão ter apropriações cognitivas sobre a matemática, a história, enfim, sobre o conhecimento.
“Na escola, a criança deve estar protegida da violência e de qualquer forma de discriminação. Porém, esse ambiente também prepara o indivíduo para a sociedade. Deve-se encontrar nele um espaço sadio, tanto do ponto de vista sanitário, quanto das relações. Mas a escola não é o céu, é um lugar onde o aluno vai aprender a conviver convivendo”, alerta o educador.
É na escola que se multiplicam as oportunidades de aprendizagem social e emocional, propiciando condições favoráveis para o fortalecimento de vínculos de amizade e companheirismo, reforça Silvana Bizzo Cruz, coordenadora pedagógica geral do Colégio Sagrado Coração de Maria.
Diante desse cenário, as equipes do Colégio Sagrado Coração de Maria, por meio de projetos gerenciados pelas orientadoras educacionais e acompanhados pelos professores tutores, acompanham e orientam os estudantes utilizando ações personalizadas para acolher, escutar, valorizar e incentivá-los a participar de atividades que proporcionam prazer, informações e curiosidades.
Ainda incluídas nesses projetos orientadores, o colégio realiza palestras informativas sobre o mercado de trabalho, novas profissões, processos seletivos de várias universidades no Brasil e no exterior, pois é nessa fase que os estudantes também são solicitados a escolherem um curso superior e, quem sabe, até a profissão.
“Atividades de lazer, lúdicas e jogos interativos também fazem parte do rol de atividades planejadas e organizadas durante o ano letivo, visando a tranquilizar e acalmar os alunos, objetivando o sucesso não somente nos exames, mas também na vida adulta”, cita a coordenadora do Sagrado.
Marcelo Santos, da Mackenzie, também cita exemplos de atividades que podem ser realizadas pelas escolas, como programas de habilidades socioemocionais, que vão auxiliar o jovem a ter um controle emocional melhor, em olhar para as competências que já possui e entender que ele pode aprender outras.
O professor ressalta que essa atitude pode ajudar o jovem a praticar comportamentos adaptativos à nova realidade que ele terá.
“A escola pode interagir também no currículo, trazendo oficinas de habilidades, mentoria e tutoria de professores. Pode-se trazer profissionais das mais diversas carreiras para fazer palestras, esclarecer dúvidas, explicar como foi a própria escolha, porque esse jovem, ao ver como o outro fez a escolha, pode sentir um conforto emocional, diminuindo um pouco a ansiedade e a angústia”, sugere.
Para ele, existe um leque muito grande de possibilidades que a escola pode criar, de modo a oferecer um pouco de conforto neste momento tão crucial na vida do jovem, que é escolher uma profissão.
A psicóloga Luana Vianez conclui afirmando que o amadurecimento intelectual e emocional desses jovens em processo de formação interessa a toda a sociedade.
“Precisamos ser capazes de olhar para esse período com a devida atenção, se quisermos ajudá-los a construir um futuro próspero e pacífico que possa beneficiar a todos nós. Nenhuma herança que deixarmos às novas gerações pode ser melhor do que isso”.
No espaço escolar, alunos encontram formas de convivência
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Em um podcast, uma dupla de entrevistadores questiona o convidado sobre investimentos, empreendedorismo e como chegar aos primeiros R$ 100 mil de faturamento. A conversa, comum dentro do setor financeiro, poderia até passar despercebida a quem não é da área se não fosse por um fator: a idade dos participantes.
Com 15, 16 e 17 anos, o entrevistado e os fundadores do programa, respectivamente, somam milhares de seguidores nas redes sociais. O mais novo, considerado referência pelos demais, afirma na descrição de seu perfil do Instagram que já faturou mais de R$ 300 mil e, nos stories, faz postagens diárias de alunos que mudaram de vida com a internet.
A conclusão durante o bate-papo de mais de meia hora foi de que a chave do sucesso é uma só: desprezar o método de ensino tradicional. “Saber quem foi Aristóteles não vai ajudar em nada na minha vida. Estudar Fórmula de Bhaskara, equação, a longo prazo, não dá retorno financeiro, não vou ganhar dinheiro com isso. Não quero fazer faculdade”. Essa foi só uma das declarações dadas que demonstram um ponto de vista claro de que empreender é muito melhor que estudar.
Os meninos citados não são os únicos a embarcar na jornada de herói que tem como objetivo o sucesso por meios não convencionais que, definitivamente, não envolvem estudos e carteira assinada. Dentro dessa gama de influenciadores mirins, também está outra jovem, uma paulista de 17 anos que afirma, em um dos vídeos feitos aos seus 1,6 milhão de seguidores no TikTok, que largou a escola pelo sucesso como influenciadora.
“Não tô de férias, eu abandonei a escola mesmo, povo chato. Não posso nem chamar de escolixo”, afirma a garota que divide o tempo entre produção de conteúdos de autocuidado com a divulgação de caça-níqueis digitais como o “Jogo do Tigrinho”, que tem uso proibido para menores de idade.
Inclusive, as próprias redes sociais também têm restrição de idade, o que não aparenta ser uma barreira. De acordo com a última pesquisa TIC Kids Online Brasil, realizada em 2024, 60% das crianças de 9 a 10 anos e 70% das de 11 a 12 anos possuem conta em pelo menos uma rede social, ainda que plataformas como WhatsApp, Instagram, TikTok e YouTube afirmem que não aceitam usuários com menos de 13 anos.
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Presença digital traz riscos, dizem especialistas
Pesquisa realizada pela TIC Kids Online Brasil 2024, realizada pelo Cetic.br e NIC.br. aponta que, ao todo, 83% das crianças e adolescentes do país que têm acesso à internet contam com perfis próprios, o que, sem controle dos responsáveis, mostra um terreno fértil para a propagação de ideias que colocam a escola como entrave, e não como solução para um futuro melhor.
Para o professor Elizeu Bortolotti, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e coordenador do projeto Infantia, que investiga o impacto dos riscos cibernéticos, a exposição de crianças como influenciadoras digitais pode se sobrepor ou substituir prioridades fundamentais da criança – que, no caso analisado, trocam as brincadeiras pelas ilusões de uma vida de ostentação proporcionada pela internet.
Bortolotti alerta que o comportamento dessas crianças acaba sendo moldado por um público anônimo e por algoritmos que reforçam padrões, o que pode comprometer a formação da identidade e dificultar a noção de privacidade. “Esses aspectos, quando não mediados, podem gerar impactos duradouros na autoestima, na percepção de mundo e nas relações sociais”, afirma.
Uso de telas prejudica habilidades
Atrelado à vida de influencer, está o contato constante com aparelhos digitais. Seja para gravar vídeos, seja apenas para rolar o feed de uma rede social, o uso excessivo das telas, segundo Elizeu, está associado a prejuízos em funções executivas, como atenção, planejamento e controle inibitório, habilidades essenciais para o aprendizado e a convivência social.
“No campo emocional, estudos revelam aumento da prevalência de quadros de ansiedade, depressão e irritabilidade, especialmente quando há uso passivo e consumo de conteúdos inadequados”, explica.
A professora e pesquisadora em Educação e Tecnologias Ana Lúcia de Souza Lopes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, também reforça que o uso excessivo das telas por crianças e adolescentes é um fenômeno mais silencioso, mas mais perigoso.
Para ela, o excesso de dopamina liberado por esse consumo constante gera dependência e impacta diretamente a saúde física e mental. “A gente tem crianças que desenvolvem transtornos do sono, irritabilidade e até obesidade. Isso tudo impacta o desenvolvimento integral e a aprendizagem”, alerta.
Ana Lúcia lembra que o problema vai além das crianças que se tornam influenciadoras: “Os pais acham que o filho está seguro porque está em casa, mas o perigo pode estar justamente dentro daquele dispositivo móvel”. A falta de controle e o desconhecimento dos pais sobre os riscos da exposição digital contribuem para quadros de cyberbullying, assédio e propagação de estereótipos estéticos nocivos.
“Quantas jovens buscam aquele estilo de beleza que circula nas redes sociais? A busca por clínicas estéticas, por autoflagelação, por dietas perigosas. Isso gera doenças como bulimia e transtornos de comportamento. É uma questão de saúde pública”, conclui a educadora.
Em meio a esse cenário, a legislação brasileira também enfrenta desafios para acompanhar as mudanças que surgiram com o advento das redes sociais. Segundo Juliana Cunha, diretora de projetos especiais da SaferNet Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não está desatualizado, mas precisa ser aplicado à luz das mudanças de cenário e realidades vividas com a transformação digital.
“Hoje, já temos a exigência de alvarás judiciais para influenciadores mirins que atuam como artistas nas redes. Entretanto, ainda é preciso uma atuação integrada entre conselhos tutelares, profissionais da educação e canais como o Disque 100 para que possamos ver uma mudança completa dessa situação”, complementa.
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Diálogo entre pais
e filhos é essencial
Diante dos desafios trazidos pela expansão da presença infanto-juvenil nos espaços de influência digital, os especialistas afirmam que o caminho mais seguro segue sendo o diálogo e a compreensão entre pais e filhos. Para Elizeu Bortolotti, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), é essencial investir em uma mediação qualificada, em que as duas gerações discutam juntas o que é saudável no uso das telas, sem um discurso proibitivo.
“A qualidade da experiência digital importa mais do que a contagem de minutos. Uma criança pode passar uma hora em uma atividade de criação digital ou leitura interativa e ter ganhos, enquanto outra pode passar 15 minutos exposta a conteúdos que reforçam estereótipos, medo ou erotização e sair prejudicada”, afirma.
A professora e pesquisadora em Educação e Tecnologias Ana Lúcia de Souza Lopes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, reforça a importância da relação entre escola e família e de uma abordagem interdisciplinar para o letramento digital. “Não é só proibir. É preciso educar para o uso crítico, ético e responsável das tecnologias. A gente não vai voltar atrás, a tecnologia está aí. Mas precisamos educar esse humano desde cedo, com consciência crítica. E isso começa com proteção, mas segue com orientação e diálogo”, conclui.
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“Há 20 anos eu tinha de fazer, por exemplo, um trabalho sobre o Teatro Carlos Gomes. Meu recurso era procurar em jornais e fascículos como A Gazetinha, que saía todo sábado, e passar horas procurando algo relativo ao tema. Hoje, qualquer pessoa que digitar ‘Teatro Carlos Gomes’ no Google vai saber a história inteira, as curiosidades, as imagens, os vídeos, absolutamente tudo. Como isso pode ser ruim?”
O relato acima é de Otávio Lube, pesquisador e professor da Superintendência de Educação a Distância (Sead) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A pergunta lançada pelo professor traz à tona a questão de que, em tempos de intensos debates sobre os efeitos da tecnologia na infância e na juventude, é preciso lembrar que ela pode ser uma aliada valiosa – tanto nos estudos quanto no cuidado com a saúde mental. Com um detalhe: desde que seja usada de forma adequada.
Aplicativos de organização de tarefas, inteligência artificial (IA) generativa, plataformas de revisão de conteúdo e apps de respiração e meditação são hoje parte da rotina de muitos alunos que enfrentam jornadas intensas de estudos e pressão por resultados.
Nesse cenário, as ferramentas que dão aos estudantes condições para que planejem suas atividades, acompanhem seu progresso, revisem conteúdos de forma interativa e obtenham feedback imediato sobre seu desempenho contribuem diretamente para uma aprendizagem mais eficiente e autônoma.
Para Marcilyanne Moreira Gois, professora e coordenadora do curso de Ciência da Computação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, essas soluções são uma forma de ajudar jovens e crianças a priorizar o que é mais importante, desde que estejam atreladas a um uso consciente.
“Temos o Google Agenda, que ajuda a organizar e a não esquecer os compromissos de estudos. O Todoist e Trello auxiliam os estudantes a visualizar responsabilidades, definir prioridades e criar rotinas. Além disso, podemos contar com o auxílio das IAs, que conseguem apoiar com essa organização. O importante é ter disciplina e um planejamento pessoal, a tecnologia apenas facilita a execução do que você decide fazer”, pontua.
Lube complementa ao dizer que o avanço tecnológico é essencial e não deve ser tratado como vilão. “A tecnologia é, simplesmente, um meio pelo qual a gente chega às respostas dos problemas. O problema não é a tecnologia, mas sim a metodologia utilizada para que ela sirva como base para criação, aprendizado e resolução de problemas. A grande dica que eu dou é: conheça as ferramentas. Tem muita gente falando sobre inteligência artificial, mas não faz a mínima ideia de como funciona”, defende.
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Tecnologia pode
ajudar a rotina escolar
No ambiente escolar, o uso de ferramentas digitais e de inteligência artificial (IA) tem ganhado cada vez mais espaço. Para Helber Firme, diretor da Escola Edward Dodd, em Vila Velha, a IA deve ser usada como ferramenta de apoio, e não como substituta do pensamento crítico.
“Em nossa escola, orientamos para que o uso seja acompanhado de um olhar crítico e reflexivo. É importante que o estudante entenda que a IA não deve ser utilizada como fonte principal ou como substituta do raciocínio lógico, mas sim como uma ferramenta de apoio”, pontua.
Atualmente, a rotina da escola conta com plataformas de ensino adaptativas que criam relatórios individuais de acordo com a vida acadêmica de cada estudante. “Usamos a tecnologia como ferramenta de estudo, para geração de provas, atividades e conteúdos e, por fim, para monitoramento e condicionamento dos resultados”, conclui o diretor.
Com o mesmo objetivo de usar o mundo digital para potencializar os estudos, a Secretaria de Estado da Educação do Espírito Santo (Sedu) informou, em nota, que a tecnologia tem sido incorporada de forma estratégica ao currículo e à gestão educacional do Espírito Santo, com iniciativas que promovem tanto a aprendizagem quanto o bem-estar dos estudantes da rede pública estadual.
Um desses programas é uma ferramenta de correção textual baseada em IA que é usada em todas as escolas de ensino médio. Implementado em 2022, o sistema corrige automaticamente produções dissertativo-argumentativas e oferece aos alunos devolutivas personalizadas e instantâneas que orientam na reescrita dos textos.
Os professores acompanham o desenvolvimento dos estudantes, analisam os retornos da plataforma e fazem intervenções pedagógicas complementares. A ferramenta ainda disponibiliza recursos de apoio, como vídeos explicativos, infográficos, dados atualizados e textos de referência.
“Os resultados já são visíveis. Em 2025, 79% das turmas da terceira série do ensino médio utilizam ativamente o sistema. Em 2024, o Espírito Santo obteve a maior média de redação no Enem entre as redes estaduais do país, com 636 pontos. Cerca de mil alunos capixabas alcançaram notas superiores a 900 na prova”, afirma a Sedu.
Além disso, o Estado lançou três aplicativos gratuitos para diferentes perfis da comunidade escolar: o Seges Responsáveis, que permite às famílias acompanharem a frequência, as notas e o boletim escolar dos alunos; o Seges Professor, com o objetivo de registrar faltas e notas; e o Seges Gestor, que disponibiliza relatórios com dados sobre estudantes, docentes e turmas.
Estudantes podem ter ferramentas tecnológicas como aliadas
20
79%
É o percentual de escolas da rede pública estadual que utilizam modelo de IA para correção de textos, segundo a Sedu
Uso com segurança
requer habilidades
Apesar dos benefícios e praticidades advindos da tecnologia, os cuidados ainda são necessários. Na avaliação de Isabela Ferro, analista de projetos de educação na Safernet Brasil, não basta apenas disponibilizar as ferramentas como também é preciso garantir que os estudantes tenham competências digitais para usá-las.
“Pensar sobre a tecnologia aliada à educação e como uma ferramenta benéfica para o estudante é parte também de uma reflexão sobre se os estudantes têm as habilidades e competências necessárias para fazer esse bom uso”, ressalta.
A análise parte de um dado presente na última pesquisa TIC Kids Online Brasil, realizada em 2024. Nela, ficou constatado que 86% de crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos afirmam pesquisar na internet para fazer trabalhos escolares, mas 50% deles concordam com a afirmação de que o primeiro resultado de uma pesquisa na internet é sempre a melhor fonte de informação, o que nem sempre é verdade.
“Aquele primeiro resultado pode ser um anúncio pago, pode ser de um site não confiável. Então, novamente, a gente precisa aprofundar um pouco essa discussão em termos de habilidades e competências digitais”, reforça a analista.
Essa falta de senso crítico também se aplica a informações sobre saúde mental. Nesse sentido, Isabela questiona: “Utilizar ferramentas tecnológicas como buscadores ou IAs para pesquisas de saúde mental requer cuidado. Será que essa fonte é confiável? Será que eu não estou expondo demais a minha vida ali para uma IA, por exemplo?”
Para evitar tais transtornos, responsáveis e professores devem estar atentos ao uso e guiar as crianças e os adolescentes para um uso seguro. “A tecnologia auxilia, mas depende também da nossa atuação e do comprometimento para seguir o nosso planejamento, que é a chave para qualquer tarefa educacional. Mas sem objetivos claros e acompanhamento humano, a tecnologia vira distração. O professor e os responsáveis continuam sendo fundamentais para orientar o uso”, conclui Marcylliane, professora do Mackenzie.
Novas habilidades em ação: uso consciente é imprescindível
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Dicas de aplicativos para usar com confiança
A seguir, confira cinco aplicativos e ferramentas recomendados pelos especialistas entrevistados:
Khan Academy
Plataforma gratuita com videoaulas, exercícios e conteúdos interativos de diversas disciplinas escolares, com conteúdos que vão dos anos iniciais ao ensino médio. Ideal para reforço escolar e estudo autônomo.
Atividades lúdicas contribuem para a aprendizagem
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Nas salas de aula, cada aluno carrega um universo único em sua mente e, nesse cotidiano escolar, a neurodiversidade também está presente. Mas reunir esses cantos inexplorados da cabecinha dos estudantes aos desafios já conhecidos no processo de ensino-aprendizagem provoca um questionamento: as escolas estão preparadas para receber neurodivergentes?
Antes de tentar responder à questão, é importante conhecer um pouco desse cenário: pela primeira vez no país, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou, este ano, dados relacionados a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O Censo 2022 apontava 51 mil diagnosticados no Espírito Santo, dos quais 2,1%, ou seja, 1.071 estavam em idade escolar (estudantes com 6 anos ou mais).
A pesquisa, por enquanto, fez um raio-x apenas do TEA, mas há inúmeras neurodivergências presentes em salas de aula, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), que precisam ser observadas e os alunos, acolhidos.
Para a pedagoga Rayane Almeida Vasconcellos, especialista em Educação Especial Inclusiva, a inserção de estudantes com essas condições precisa ir além da matrícula garantida.
“É necessário pensar em acessibilidade pedagógica, emocional e institucional, com investimento contínuo em formação, estrutura e equipe docente”, destaca.
Rayane pondera que, apesar da “boa vontade e do desejo de acolher”, muitas escolas ainda pecam com a ausência de professores com formação específica, recursos materiais e apoio técnico.
“Em instituições particulares, mesmo sabendo da importância da inclusão, muitas vezes, não há disposição para investir em profissionais capacitados e especializados nem em salas de recursos adequadas. Já nas escolas públicas, a legislação garante direitos, mas nem sempre isso é cumprido na prática. O que vemos são muitos profissionais despreparados para atender às necessidades específicas de cada aluno neurodivergente, o que compromete diretamente o processo de ensino e aprendizagem”, diz.
Outro ponto a ser observado, continua Rayane, é o da proposta de ensino integral para alunos neurodivergentes, justamente pela falta de recursos, profissionais e planejamento pedagógico de qualidade para o período estendido no ambiente escolar.
“Em vez de promover avanços, esse modelo pode gerar sobrecarga e desregulação, caso não seja conduzido com responsabilidade e personalização”, argumenta a pedagoga.
Rayane Vasconcellos explica que, no cotidiano escolar, cada aluno aprende de forma única – seja ele neurodivergente ou não. Logo, é necessário adaptar conteúdos de maneira lúdica, sensível e acessível, promovendo o interesse e o engajamento dos alunos nas atividades propostas.
“A inclusão acontece quando o aluno deixa de ser tratado apenas como ‘acolhido’ e passa a ocupar um espaço de pertencimento e protagonismo, com estratégias construídas a partir das suas reais necessidades e de seus interesses”, sustenta Rayane.
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Neurodivergências
mais comuns
nas escolas
Fontes: Rayane Vasconcellos
e Camila Nasser Mancini.
Sugestões
de atividades
E a formação do professor?
Camila Nasser Mancini, neuropsicóloga clínica e pesquisadora em neurodiversidade, pontua que, apesar de a discussão de inclusão escolar datar do início dos anos 2000, o ambiente escolar, 25 anos depois, ainda engatinha nos procedimentos de inclusão de forma efetiva.
A boa notícia para mudança deste cenário, segundo Camila, que também é professora de Psicologia da Faesa, é que o tema tem sido tratado cada vez com mais frequência nos cursos atrelados à educação.
“A preocupação com a inclusão e a acessibilidade precisa ser um valor social e político para haver mais investimentos na esfera pública a esse respeito, tanto estruturalmente quanto em capacitação e atendimento continuado”, defende Camila.
Reforçando o posicionamento da pedagoga Rayane, a psicóloga pontua que, para que mais professores atuem de forma inclusiva, é necessário um esforço de personalização e capacitação contínua, com tempo, valorização salarial, incentivos e assistências, por exemplo.
“A inclusão começa a florescer, de fato, quando há interesse governamental atrelado a uma mudança substancial que nos permita entender a aprendizagem, a pluralidade humana e o direito à cidadania. Não existe mudança de conduta sem mudanças profundas no olhar sobre o outro”, complementa Camila.
Respeito às individualidades
Para integrar o ensino de crianças típicas e atípicas sem excluir nenhuma delas do aprendizado eficaz, a especialista argumenta que a aplicação do ensino não pode ser pensada de maneira generalizada para todos os alunos. Isto é, são necessárias ferramentas para um ritmo de aprendizagem que respeite as individualidades e necessidades de cada estudante. Ela ainda pontua que esses esforços vão além dos limites das escolas e universidades.
Em resumo, as especialistas destacam que o melhor caminho para a construção de um ambiente escolar verdadeiramente inclusivo depende de compreensão e capacitação por parte dos professores, de políticas públicas voltadas para o respeito e o acolhimento da população neurodivergente e também da conexão entre sociedade escolar com a família de alunos atípicos.
“São pilares que, quando alinhados, garantem o bem-estar, o desenvolvimento e a inclusão real dos alunos. Nesta parceria, que não pode ser substituída por laudos, relatórios ou atendimentos isolados, a inclusão é construída no cotidiano, na rotina e na autonomia do estudante”, ressalta a pedagoga Rayane Vasconcellos.
Por sua vez, a psicóloga Camila Nasser destaca que uma sala de aula diversa abre portas para o respeito humano em suas pluralidades, o que é fundamental em um país tão heterogêneo como o Brasil.
“Acolher o outro aumenta as chances de construção de um ambiente agradável para todos. Com esses esforços, é possível entender que o direito à vida, à dignidade e à educação são inalienáveis e que não cabe a ninguém ditar o valor ou a relevância da existência, ou da aprendizagem do outro. É entender que a neurodiversidade faz parte da condição humana”, conclui Camila.
É preciso atenção ao ritmo de aprendizado de cada aluno
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Pensar na vida adulta sem as telas parece praticamente impossível. Do trabalho à organização das tarefas de casa, tudo passa pelo celular ou pelo computador. Ocorre que essa dinâmica digital também tem se transformado na rotina de muitas crianças e adolescentes. Hoje, os mais novos já usam a internet para quase tudo, da comunicação com os colegas até a resolução das atividades escolares.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que as gerações mais novas estão cada vez mais conectadas. Levantamento divulgado em 2024 mostrou que 84,2% das pessoas na faixa etária entre 10 e 13 anos estão ligadas às redes no Brasil. A proporção era de 66% no início da série histórica, em 2016. Já um estudo inédito divulgado em 2025, produzido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, mostrou que o uso de internet e a posse de aparelho celular também cresceu entre as crianças brasileiras até 8 anos.
Com pais e filhos com os olhos voltados às telas, emerge uma preocupação sobre a diminuição das interações no mundo real, em meio a tantas distrações provocadas pelos dispositivos móveis. Essa dinâmica tem ultrapassado os limites dos lares e sido levada à discussão nas escolas, onde os pequenos passam boa parte do tempo, às vezes até mais que com os familiares.
O impacto negativo dos meios digitais entre crianças e adultos tem sido comprovado por meio de estudos recentes, como destaca a coordenadora de Educação Infantil do Itaú Social, Juliana Yade.
“Recentemente, eu vi numa pesquisa que a média de duração de conversa entre crianças e adultos era de duas horas em 1979. Hoje, esse tempo de conexão passou para dez minutos. Filósofos e psicólogos dizem o quanto que a gente aprende na relação com o outro. É notório que a tela tira essa perspectiva da interação. Então, uma pessoa fica no quarto, outra fica na sala e essa interação pouco acontece dentro do ambiente familiar”, reflete.
Juliana Yade destaca ainda que o uso excessivo de telas por parte dos mais novos colocou o processo educacional frente a um desafio, devido à capacidade de afetar a construção cognitiva de crianças e adolescentes.
“A dependência que as redes sociais têm trazido para este público acaba gerando falta de interação na vida real. Isso tem gerado impactos na saúde mental, no desenvolvimento cognitivo das crianças e dos adolescentes. Esse é um fator que nós estamos tendo que enfrentar de forma muito forte”, pontua.
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E aí, como dar o “match” entre pais e filhos?
Para o head de Educação Midiática do Instituto Vero, Victor Vicente, o caminho para aprimorar a interação entre pais e filhos é a educação digital, que deve ser abordada não só nas escolas, mas também em casa.
“É importante reconhecer que nenhuma geração está completamente preparada para lidar sozinha com esse cenário. Tanto adultos quanto jovens precisam aprender mais sobre o ambiente digital, e esse aprendizado pode acontecer em conjunto, por meio do diálogo e da escuta”, contextualiza.
A coordenadora de Educação Infantil do Itaú Social, Juliana Yade, faz a mesma avaliação. “Os pais precisam de um processo educativo muito profundo para pensar estratégias de como utilizar o celular sem ele se tornar o único instrumento de relação dentro de uma casa. Isso é bastante sério e a gente precisa pensar em um pacto social mesmo, para mudar essa situação”.
Para as escolas passou a vigorar uma lei federal que restringiu o uso de celulares. Victor Vicente destaca que a medida resultou em melhora nos níveis de aprendizagem em alguns casos, mas que ainda é necessário olhar outros pontos para avaliar a efetividade. O head do Instituto Vero entende que adotar a mesma prática em casa, no entanto, não é a melhor decisão.
“Em geral, o que temos visto nas escolas é que a proibição por si só não resolve todos os desafios da educação digital, mas pode ser mais bem recebida quando vem acompanhada de escuta, diálogo e alternativas pedagógicas para o uso da tecnologia no contexto escolar. A proibição rígida em casa tende a gerar mais tensão do que aprendizado. É mais eficaz estabelecer acordos do que regras autoritárias”, pontua.
O especialista acrescenta que os pais podem, por exemplo, definir momentos livres de tela (como durante as refeições ou antes de dormir), criar momentos para assistir a conteúdos junto dos filhos e manter canais abertos para o diálogo: “O mais importante é que a criança não se sinta sozinha nesse universo, nem vigiada, nem abandonada”, sintetiza.
Juliana Yade salienta que o caminho está justamente em uma prática que acabou ficando em segundo plano com a emergência dos dispositivos móveis: a descontração e o contato em momentos prazerosos.
“A brincadeira, os jogos, a literatura, o jogo com palavras têm a capacidade de conectar as pessoas e reconectá-las a elas mesmas. É muito importante que em família haja espaço para as conversas e a ludicidade, que é um elemento tão importante para a nossa sobrevivência”, observa.
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Boas práticas
bem perto de nós
Os mecanismos defendidos pelos especialistas em educação têm sido testados na prática, como no Colégio Madan, em Vitória. O diretor da instituição, Daniel Rojas, também entende que não basta somente proibir o uso de celular e reforça o entendimento de que é necessário possibilitar outras formas de interação para crianças e adolescentes se sentirem mais confortáveis com as famílias.
“O fato de só proibir não vai ajudar. Tem de oferecer outro tipo de atividade, os pais saírem com os filhos para lugares, passear no parque, coisas do tipo que vão fazer os mais novos se sentirem bem sem necessitar de fazer uso das telas”.
O diretor da escola destaca que a instituição tem oferecido, por exemplo, atividades recreativas nos intervalos, disponibilizando jogos como pingue-pongue para os estudantes se distraírem entre uma aula e outra.
“A gente oferece outras atividades para que os estudantes interajam, não sintam falta do celular e fortaleçam ainda mais a amizade entre eles.”
Além dos intervalos, a escola oferece atividades extraclasse, como campeonatos esportivos entre as turmas e festas juninas, por exemplo, que contribuem para a socialização na vida real.
Estudantes têm cada vez mais recursos para se prepararem
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É preciso muita preparação, treino, boas horas de sono, alimentação em dia e foco total. Quem vê isso até pode pensar que essa é a rotina de um competidor esportivo. Mas aqui a maratona é outra: o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Esta é a hora em que os alunos se tornam verdadeiros atletas, e se preparam ao longo do ano, para realizar uma das provas mais importantes da vida acadêmica. Afinal, vale uma vaga na faculdade.
Só neste ano, foram confirmadas 4.811.338 inscrições, sendo 1.811.524 alunos concluintes do ensino médio. Do total de inscritos, 99.905 correspondem a pessoas no Espírito Santo que pretendem prestar o exame nos dias 9 e 16 de novembro de 2025. Arielle Mercilio Pereira, de 17 anos, é uma delas.
Aluna da rede estadual, ela conta que desde janeiro tem uma rotina de estudos 100% focada na preparação para o Enem. De segunda a sexta, Arielle concilia a reta final do ensino médio com um curso preparatório, oferecido de forma gratuita pela Secretaria de Estado da Educação (Sedu) e aulas on-line complementares.
“É uma rotina bem puxada e acabo me cobrando muito, mas sempre tento tirar um tempinho nos finais de semana para meus amigos, família e cuidar da minha saúde mental. Quero passar em Direito na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), um curso bem concorrido e que me exige muita leitura”, destaca.
Além da leitura, a escrita também faz parte desse plano de estudos. Pelo menos uma vez por semana, ela produz uma redação como exercício de treinamento para o Enem. O papel e a caneta são a dupla favorita de Arielle, mas a tecnologia também é aliada nesse processo com aplicativos e aulas on-line.
Tecnologias como
aliadas de ensino
Inclusive, a Sedu já trabalha para incorporar de forma estratégica ao currículo e à gestão educacional do Espírito Santo essas ferramentas.. A inteligência artificial (IA), por exemplo, já tem sido utilizada, desde 2022, em um processo de correção de texto aplicado em todas as escolas de ensino médio.
Segundo o Estado, a ferramenta oferece correções automatizadas, com devolutivas personalizadas e imediatas, que orientam os estudantes na reescrita de textos dissertativo-argumentativos.
Dessa forma, os professores acompanham o progresso, revisam os feedbacks e realizam intervenções pedagógicas adicionais, enriquecendo o processo de ensino. A plataforma também fornece materiais de apoio, como vídeos, infográficos, dados e textos de referência.
Além das plataformas digitais para auxiliar no processo de aprendizagem, a Sedu também segue com o projeto de cursos preparatórios para o Enem. Oferecidas de forma gratuita, foram abertas 1.194 vagas em 13 escolas-polo da rede estadual somente para o segundo semestre de 2025.
O curso combina aulas on-line e encontros presenciais. Durante a semana, os estudantes participam de aulas presenciais no contraturno ou síncronas por meio da plataforma Google Meet, enquanto os sábados são reservados para os aulões presenciais, com foco nas áreas de conhecimento e na redação.
Vale destacar que o programa também oferece orientação de estudos, videoaulas no YouTube e acesso a ferramentas digitais, incluindo soluções para produção e correção de redações.
Essas iniciativas seguem alinhadas às propostas pedagógicas de diferentes instituições de ensino do Estado. No UP Centro Educacional, inclusive, o diretor-geral da escola e professor, Fábio Portela, ressalta que os estudantes que hoje estão no ensino médio são nativos digitais, e que desprezar isso é abrir mão de um mundo de conhecimento disponível.
“A inteligência artificial é prova disso. Por meio dessa ferramenta, é possível obter relatórios extremamente detalhados e customizados de cada aluno. De posse disso, o estudante pode focar seus estudos e melhorar seu desempenho em cada área do conhecimento de maneira eficaz e otimizando tempo. Isso é muito válido, sobretudo no ano do vestibular, pois há muito conteúdo a ser estudado/abordado”, pontua Portela.
Como exemplo, o diretor-geral cita o UP Test. Segundo ele, após cada simulado, o aluno recebe um relatório que contém todas as questões resolvidas e gabaritadas da prova feita.
“Mais que isso, ele recebe o percentual de erros e acertos de cada questão de todos que fizeram a prova. Mais ainda: onde estudar aquela questão na apostila (conteúdo, volume e página). Assim, caso tenha errado, basta retomar o conteúdo para não errar mais. Cada questão sempre apontada com os níveis de dificuldade (fácil, médio, difícil) e com o mesmo critério do Enem (TRI) na estruturação da pontuação do aluno”, explica.
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4.811.338
INSCRIÇÕES CONFIRMADAS
99.905
no ES vão prestar o Enem 2025
Entre avanços, papel
e caneta formam dupla
que não sai de moda
Mesmo com as tecnologias sendo parceiras nos métodos de aprendizagem, os processos tradicionais continuam sendo uma parte fundamental da rotina de estudos. Especialmente, porque na hora da prova, tudo o que o aluno vai poder utilizar é o papel e a caneta.
“A surpresa, talvez, seja exatamente que o método analógico e tradicional tenha voltado muito à tona e os pais estão gostando. Nada pode substituir aquele caderno bem colorido na hora de memorizar os conteúdos, e isso tem sido cada vez mais valorizado”, pontua Daniel Rojas, diretor da Escola Madan.
Para ele, agora é a hora de revisar os conteúdos estudados ao longo do ano. Ou seja, é importante treinar com provas e questões reais, assim como o tempo gasto na hora de produzir uma redação, por exemplo.
“Nada substitui o papel. Quando o aluno está copiando no próprio caderno, percebemos que ele acaba se concentrando mais. Então, nem estamos mais aceitando redações digitalizadas, porque queremos que os alunos tenham a prática da escrita e não demorem tanto tempo na hora de passar a limpo durante o Enem”, finaliza.
Mesmo considerados analógicos, alguns métodos seguem em alta
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Dicas para
a reta final
Revise os conteúdos
Na reta final de estudos para o Enem, a dica é iniciar a revisão dos conteúdos ensinados ao longo do ano. Não deixe também de praticar com provas passadas e questões reais.
Atividades de relaxamento garantem bem-estar da equipe
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Em um cenário corporativo cada vez mais consciente da importância do bem-estar, muitas empresas têm direcionado olhares e recursos para a saúde mental de seus colaboradores.
Longe de ser apenas um benefício assistencial, esse movimento não só ajuda a promover ambientes de trabalho mais saudáveis, mas também resulta em equipes mais engajadas e produtivas.
A valorização do equilíbrio psicológico no universo corporativo se tornou, nos últimos anos, um diferencial competitivo e base de sustentação para o sucesso empresarial.
Para a psicóloga Cynthia Perovano Camargo, da Diretoria de Atenção à Saúde da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a valorização da saúde emocional no contexto corporativo tem se tornando um pilar essencial, porque o cenário de trabalho contemporâneo exige mais do que meras competências técnicas; demanda habilidades interpessoais como inteligência emocional, resolução de problemas, adaptabilidade e boa comunicação.
“Empresas que cultivam a saúde emocional de seus colaboradores tendem a ser mais inovadoras, sustentáveis e humanas”, afirma.
Ela acrescenta que, ao investir em saúde emocional, as empresas almejam desenvolver equipes mais equilibradas e colaborativas.
“A inteligência emocional, considerada uma soft skill crucial, impulsiona o desempenho, fortalece a colaboração e estimula a inovação, contribuindo para um clima organizacional mais saudável e para maior adaptabilidade. Funcionários emocionalmente saudáveis tomam decisões mais conscientes, lidam melhor com o estresse e impactam diretamente na produtividade e a retenção de talentos”, explica.
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Saúde emocional
e os reflexos na
produtividade
Fonte: Cynthia Perovano Camargo, psicóloga
Métricas para avaliação do ambiente corporativo
Fonte: Cynthia Perovano Camargo, psicóloga
Bem-estar é componente estratégico organizacional
Cynthia acredita que o investimento em saúde emocional se tornará um padrão. “O futuro do trabalho é humano e relacional”, ressalta.
Para a competitividade, as empresas precisarão fortalecer soft skills como comunicação, cooperação e regulação emocional, que serão o “novo mínimo esperado” para profissionais e líderes.
Na sua avaliação, o bem-estar emocional, longe de ser um luxo, é um componente estratégico da saúde organizacional, especialmente em uma era de inteligência artificial, em que a inteligência emocional fará a diferença.
Um exemplo de iniciativa que a psicóloga cita é o projeto “Pausa Consciente” da Ufes, iniciado em 2020, durante a pandemia. Com encontros semanais (e agora mensais) sobre autocuidado e práticas de saúde física e mental, o projeto oferece um importante espaço de troca, apoio e conexão, sendo avaliado positivamente pelos participantes.
Iniciativas nas empresas
Outra iniciativa de atividades voltadas para o bem-estar é desenvolvida pela Suzano. A indústria de celulose tem um programa voltado à promoção da saúde emocional e bem-estar de seus colaboradores. O objetivo da empresa é criar um ambiente seguro e saudável.
Para isso, atua em frentes que contemplam saúde física, mental, social, preventiva e ergonômica, sempre com foco no desenvolvimento integral do indivíduo e na construção de relações mais empáticas e produtivas, com o programa “Faz Bem”.
Entre as iniciativas estão um canal 0800 de apoio psicológico, nutricional, jurídico e social para os colaboradores e dependentes; uma plataforma com jornada personalizada de autocuidado e sessões terapêuticas e ainda um programa com promoção de práticas de mindfulness (atenção plena) e acompanhamento de saúde mental.
Na Viação Águia Branca o cuidado com a saúde mental também ganhou atenção especial nos últimos anos, principalmente após a pandemia da Covid-19. Fernanda Sabino, executiva de gestão de pessoas da empresa, falou sobre as iniciativas e os resultados positivos obtidos, destacando o impacto direto na produtividade e na retenção de talentos.
Fernanda conta que desde o período pós-pandemia, a Águia Branca instituiu uma área dedicada à segurança psicológica. Esse setor conta com um profissional exclusivo para atendimento clínico e psicológico. O suporte é oferecido não apenas aos funcionários, mas também aos seus familiares, partindo do entendimento de que uma família adoecida pode interferir diretamente na vida e na produtividade do profissional.
“Esse apoio é crucial, especialmente para o maior público da empresa, os motoristas, que precisam de presença plena na execução de suas atividades”, afirma.
A empresa também desenvolveu o programa “Movimento de Águia”, focado em atividades físicas e em iniciativas com objetivo de serem uma válvula de escape para a tensão. São promovidas semanalmente atividades de vivência, incluindo meditação, aulas de ioga e atividades dançantes, como aulas de forró durante o expediente, que permitem que as pessoas extravasem e encontrem métodos alternativos para lidar com o estresse.
A executiva aponta que entre os impactos com as medidas estão a redução dos índices de afastamento por saúde mental, o aumento na produtividade e a retenção e atração de talentos.
Outra empresa que tem investido em saúde mental é a Vixpar. Débora Abade, gerente-executiva de pessoas, explica que a empresa percebeu a crescente necessidade de abordar o tema num contexto de aceleração tecnológica e após a pandemia ter evidenciado o desafio de conciliar produtividade e bem-estar.
As ações da Vixpar, segundo ela, incluem rodas de conversa, diagnósticos de equipes, terapia para profissionais-chave, canal de acolhimento 24h e treinamento de líderes para observar a saúde mental dos liderados. O foco é um clima interno que promova equilíbrio emocional e segurança.
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Mercado quer profissionais atuando em ambiente colaborativo
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Em um mercado de trabalho em constante transformação, a capacidade de se adaptar e o desenvolvimento contínuo têm sido peças-chave para os profissionais se destacarem e se manterem atualizados.
Para ir além e se consolidar como uma referência no mercado de trabalho ou na empresa onde atua, não basta apenas dominar sua área: é preciso cultivar um conjunto específico de habilidades.
E não são apenas os profissionais que estão atentos a essas demandas. O tema tem ganhado a atenção das empresas, que vêm redesenhando suas estratégias internas para capacitar suas equipes e impulsionar o desenvolvimento profissional.
Nesse caminho, o investimento em hard skills e soft skills tem sido fundamental para que profissionais se tornem referências em suas áreas e para o fortalecimento das organizações, avalia a professora Priscilla Martins-Silva, do Departamento de Administração da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Ela aponta as diferenças entre as duas categorias de habilidades. As hard skills, ou habilidades técnicas, são aquelas que podem ser aprendidas e, em geral, verificadas, como as certificações, os cursos técnicos ou as graduações.
Já as soft skills, também chamadas de habilidades socioemocionais, são aprendidas ao longo da vida, desde a infância, por meio da vivência com colegas, família e na escola. São competências desenvolvidas continuamente, a exemplo da criatividade, resistência à frustração, liderança, agilidade, capacidade de negociação, orientação a resultados, comunicação e escuta ativa.
Um ponto destacado por Priscilla é que o processo de desenvolvimento dessas habilidades é contínuo e não tem restrição de idade.
“A ideia de que uma pessoa está pronta após sair da faculdade é complicada, pois os profissionais estão em constante evolução. Mesmo indivíduos com características como timidez podem desenvolver habilidades como a de apresentação, pois isso pode ser trabalhado e melhorado”, afirma.
A especialista enfatiza que uma organização voltada para esse desenvolvimento beneficia a todos: tanto a empresa quanto o trabalhador. Além disso, quando o profissional percebe esse apoio, demonstra maior interesse em crescer e permanecer na empresa. O objetivo final é que ele possa se tornar uma referência em sua área ao longo de sua trajetória.
Ação nas empresas
A Suzano, por exemplo, aposta no desenvolvimento de habilidades para a construção de uma cultura colaborativa, inovadora e de alta performance.
A consultora de Recursos Humanos da empresa, Cecília Villanova, afirma que a companhia adota trilhas de desenvolvimento que incluem temas como inteligência emocional, comunicação assertiva, escuta ativa, feedback, gestão de conflitos e liderança humanizada.
“Essas competências são trabalhadas por meio de programas, formações internas, workshops e diálogos com especialistas. Também utilizamos ferramentas de avaliação de desempenho e feedbacks estruturados para identificar oportunidades de desenvolvimento comportamental”, detalha.
Já no caso das hard skills, Cecília pontua que a Suzano apoia o desenvolvimento técnico dos colaboradores com iniciativas que vão desde capacitações internas e treinamentos, até o incentivo à participação em cursos externos, certificações e eventos técnicos.
Para ela, os principais desafios para desenvolver e reter profissionais que se destacam estão relacionados à alta competitividade do mercado, à velocidade das transformações tecnológicas e à necessidade de alinhar propósito pessoal com o organizacional.
“Por isso, buscamos oferecer um ambiente que valorize a diversidade, o protagonismo e o desenvolvimento contínuo, criando condições para que os talentos cresçam conosco”, ressalta.
Hugo Arouca, gerente-geral de Talentos e Marca Empregadora da Vale, também valoriza o desenvolvimento de soft skills na mineradora.
“Na Vale, entendemos que um bom posicionamento no mercado de trabalho é aquele que alia excelência técnica a habilidades humanas. Para se destacar no mercado e se tornar referência em sua área, é fundamental desenvolver competências como comunicação empática, colaboração, adaptabilidade, pensamento crítico e protagonismo”, afirma.
Ele ressalta que essas soft skills são especialmente relevantes em um setor em transformação como o da mineração, que tem caminhado para ser mais seguro, sustentável, diverso e digital e, segundo Arouca, isso exige profissionais capazes de atuar em ambientes colaborativos, com abertura ao novo e foco em soluções inovadoras.
“Além disso, a capacidade de aprender e se reinventar é cada vez mais importante. A tecnologia está evoluindo rapidamente, mas são as habilidades humanas que garantem que ela seja usada com ética, empatia e impacto positivo”, pontua.
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Habilidades desenvolvidas desde a escola
O desenvolvimento das habilidades comportamentais e técnicas pode ser conduzido mesmo antes da faculdade ou da chegada ao mercado de trabalho, ainda na escola. E o projeto Stem Racing é um exemplo.
Integrante do projeto Pocadores e apoiado pela ArcelorMittal, o Stem Racing simula uma escuderia de Fórmula 1 para desenvolver habilidades em jovens de 13 a 19 anos. Com apoio da F1 e 20 anos de história internacional, o projeto desenvolvido no Sesi já soma seis títulos estaduais e quatro participações em finais mundiais, sendo a equipe brasileira mais premiada.
Os alunos atuam em funções como engenharia, finanças e marketing, elaborando miniaturas de carros, conduzindo projetos e fabricando peças. Desenvolvem portfólios, gerenciam uma loja de produtos e aprimoram o inglês, explica o professor Bruno de Castro, técnico do time.
“A equipe busca mentoria de especialistas do mercado, como engenheiros e profissionais de design gráfico, que compartilham seus processos reais. Há também um constante processo de benchmarking com outras equipes para troca de conhecimentos e dicas”, detalha.
Além de habilidades técnicas, o projeto cultiva trabalho em equipe, comunicação, oratória e protagonismo, combatendo a inibição. Fomenta também a resolução de problemas e a sustentabilidade com projetos sociais.
O professor conta ainda que a experiência no Stem Racing é um diferencial no mercado, com ex-integrantes sendo empregados por patrocinadores no decorrer da vida estudantil ou profissional.
O projeto Stem Racing desenvolve habilidades em jovens
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O mercado requer profissionais cada vez mais versáteis,
com habilidades práticas e visão ampla dos processos
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Digitalização avançada, inteligência artificial, envelhecimento populacional e novas dinâmicas sociais. Essas são algumas das temáticas que têm redesenhado profissões e gerado uma transformação sem precedentes no mercado de trabalho ao redor do mundo. O cenário suscita questionamentos e a necessidade de encontrar soluções. E essa busca, apontam especialistas, passa por uma preparação contínua dos profissionais.
Neste contexto, estudiosos afirmam que a complexidade e o dinamismo do mercado atual exigem uma articulação estreita entre formação técnica e superior para que os trabalhadores – e empresas – estejam prontos para os desafios desse mercado, que requer profissionais cada vez mais versáteis, com habilidades práticas, visão ampla dos processos e orientados a resultados.
Miriam Rodrigues, professora de Administração na Universidade Presbiteriana Mackenzie e especialista em Gestão de Pessoas e Comportamento Organizacional, explica essa articulação:
“Enquanto a formação técnica oferece uma capacitação prática e específica que habilita o profissional a atuar rapidamente em setores produtivos, a formação superior amplia o repertório teórico, o pensamento crítico e as competências transversais, promovendo a adaptabilidade e a inovação.”
A combinação, segundo Miriam, potencializa a empregabilidade ao alinhar habilidades operacionais com conhecimentos estratégicos, algo essencial em áreas intrinsecamente ligadas à Tecnologia da Informação (TI), por exemplo. Áreas como Saúde e Engenharia também devem estar no foco das ações para capacitação e modernização dos processos.
“Políticas públicas e programas de ensino dual, como adotados na Alemanha, por exemplo, demonstram o sucesso da articulação entre ensino técnico e superior em consonância com o setor produtivo, apresentando como resultados taxas menores de desemprego juvenil e maior alinhamento com as necessidades do mercado”, defende a especialista.
O argumento da professora é reforçado por Richardson Schmittel, diretor regional do Senac Espírito Santo.
“Se analisarmos países considerados mais bem desenvolvidos economicamente, vamos perceber que há um alto percentual de pessoas qualificadas tecnicamente para suprir as principais demandas do mercado, principalmente quando esses países identificam e investem em suas potencialidades”, pontua.
Para Richardson, nessa identificação, deve haver um equilíbrio entre as competências técnicas e emocionais.
“Há algum tempo, as habilidades técnicas predominavam sobre as emocionais e comportamentais. Havia uma necessidade maior de preencher lacunas do ponto de vista da produção, o que envolvia a contratação de profissionais com formação específicas, ou seja, o conhecimento e a qualificação. No entanto, as dinâmicas do mundo do trabalho estão passando por intensas transformações. O desenvolvimento de tecnologias e a incorporação de novas ferramentas exigem não só habilidades técnicas, mas também comportamentais”, avalia.
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Formação para atender
às demandas do mercado
Carla Letícia Alvarenga Leite, pró-reitora do Centro Universitário Faesa, sustenta que a formação técnica e a superior são pontos primordiais para atender às demandas do mercado, já que desenvolvem tanto as competências específicas quanto as habilidades socioemocionais e de liderança, como as pontuadas pelo diretor regional do Senac-ES.
“A capacidade de aprender continuamente se tornou essencial, já que o conhecimento se renova em ritmo acelerado. E não podemos esquecer que o respeito entre as pessoas, seja nas relações entre as equipes de trabalho, seja com parceiros de mercado, seja com clientes, sempre será o elemento principal que nunca estará ultrapassado, não importa a área de atuação”, defende Carla Letícia.
A pró-reitora da Faesa ainda avalia que, para setores que demandam qualificação permanente como TI, áreas da Saúde e da Engenharia, as soluções para evolução estão na atuação conjunta de instituições de ensino, empresas e governos.
“Como exemplo, o recém-lançado Plano de Desenvolvimento de Longo Prazo ES 500 Anos apresenta como uma de suas visões o Polo de Competências, com foco na preparação da força de trabalho para os desafios do futuro, com ênfase em educação, capacitação, requalificação e adaptação às novas demandas do mercado”, cita Carla Letícia.
Richardson Schmittel avalia que lidar com novas dinâmicas, engajar, envolver, identificar e propor soluções para desafios tornou-se tão importante quanto ter profissionais qualificados.
“Profissionais relacionam-se com outras pessoas e empresas. Por isso, devem ter competências para desenvolver ideias inovadoras, solucionar problemas, ter pensamento sistêmico e criativo. Acredito que esse conjunto de fatores que podem ser desenvolvidos nos profissionais das mais diversas áreas são as habilidades mais buscadas por empresas neste momento.”
Algumas áreas devem estar no foco da modernização de processos
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Mas, afinal, o ES
está pronto para isso?
Para Bruno Lamas, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Educação Profissional, a resposta é clara: o Espírito Santo está no caminho certo.
“O nosso Estado é o que, proporcionalmente, mais investe no ensino profissionalizante e superior. Temos programas como o ‘Qualificar ES’ e o ‘Nossa Bolsa’, este que já beneficiou mais de 30 mil capixabas com bolsas de estudo. Os últimos editais têm priorizado áreas como TI, Saúde e Engenharia porque são profissionais estratégicos para o desenvolvimento do Estado”, diz.
O secretário defende que, com essas e outras frentes, o Espírito Santo tem acompanhado as tendências e a flexibilização do trabalho global para que as novas gerações alimentem propósitos e invistam no empreendedorismo conectadas às principais demandas do mercado.
Profissões do futuro
Para atender a essasdemandas, profissões também podem surgir com a capacitação dos trabalhadores, abrindo espaço para novas atividades que podem ser tocadas tanto por quem está chegando ao mercado quanto por pessoas mais experientes que buscam reinvenção profissional. É o que aposta Luiz Vagner Raghi, professor do curso de Administração da Universidade Mackenzie.
Ele explica que a maioria das profissões surgidas nos últimos anos está, de alguma forma, ligada à tecnologia e são atividades consideradas “do futuro”, em um contexto de transformação digital, sustentabilidade, saúde e avanço da inteligência artificial, por exemplo, fatores que colaboram com a formação técnica e a ocupação de novos espaços.
“A previsão para o futuro aponta duas direções: digitalização e humanização. Todos os profissionais que incorporarem conhecimentos relacionados terão alto potencial de empregabilidade. Quando falamos de novas profissões, estamos falando de especialistas em cibersegurança, profissionais de saúde digital, gestores de sustentabilidade e bioinformacionistas, por exemplo”, exemplifica Luiz Vagner.
O professor ainda ressalta que, diante das mudanças, algumas competências serão indispensáveis em qualquer contexto.
“As chamadas soft skills, como inteligência emocional, empatia e resiliência, são habilidades à prova do tempo. Elas ocupam papel central no mercado”, frisa.
Entre os especialistas, há unanimidade quando o assunto são as habilidades requisitadas pelo mercado: busca por comunicação eficaz, pensamento crítico, adaptabilidade, criatividade e inteligência emocional são o cerne para profissionais cada vez mais capacitados.
O programa Qualificar ES oferece cursos de capacitação
45
Nada
substitui
uma boa
conversa”
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“Nada substitui uma boa
conversa, um bom diálogo,
uma conversa olho no olho.
E isso vale para o mercado de
trabalho”. A frase de Marcos
Veras resume o tom acolhedor
e direto do ator ao falar sobre
escolhas profissionais, erros
e as pressões que os jovens
enfrentam hoje.
Com um currículo que reúne
produções nativas de internet,
séries de humor e de drama,
cinco novelas na TV Globo, além
de seriados e apresentação de
programas, Veras conta como
encontrou seu caminho no
teatro, revela os perrengues
que enfrentou no início e reforça
a importância de manter a
curiosidade, a versatilidade e
a coragem para se reinventar. Confira!
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Educares A escolha profissional pode ser algo bastante desafiador para um jovem. Você sempre soube o caminho que queria seguir?
Marcos Veras - Eu sempre tive em mente que queria trabalhar com comunicação. Não sabia exatamente se era com jornalismo ou publicidade, até que me matriculei em um curso de teatro e me apaixonei por aquilo. Sempre tive uma veia artística e cômica. Sempre gostei de cinema e televisão, e aquilo já estava em mim.
O teatro despertou esse desejo de ter isso como profissão. Paralelamente, me formei em Propaganda e Marketing, algo que sempre gostei e que, de alguma forma, uso hoje no meu ofício.
Como foi a sua experiência e que dicas você daria para quem está nesse momento decisivo?
Sempre tive muito foco e disciplina. Era ciente de que o início de qualquer carreira é difícil - a de artista, talvez ainda mais, por conta da instabilidade da profissão. Mas tive apoio dos meus pais. Trabalhei em outros empregos para pagar a escola de teatro. Fui sempre muito dedicado. Passei muitos perrengues que me deram musculatura na vida de artista. E nunca levei a sério o glamour que ela proporciona. Sempre lidei de forma natural com exposição e sucesso. Minha dica é: seja focado e apaixonado.
Então, a primeira escolha também não precisa ser a do resto da vida, não é verdade? O que você apontaria como aspectos importantes para um jovem levar em consideração?
Sim. A primeira opção não é definitiva. Permita-se errar, mudar a rota, ter mais de uma profissão. Hoje em dia, existem tantas possibilidades. É importante ter consciência da ansiedade. Ela é legítima. Converse com familiares, especialistas, leia, se informe, vá a eventos para ter cada vez mais clareza do que você pretende e quer fazer.
E se der errado, tudo bem? É possível seguir outra direção? O problema é que muitos adolescentes e jovens têm demonstrado dificuldades para enfrentar situações de frustração...
O erro faz parte da vida, do aprendizado. A frustração te faz humano. Sei que essa enorme quantidade de estímulos nas redes sociais, com vidas perfeitas e bem-sucedidas, potencializa ainda mais essa ansiedade e esse medo de errar.
Mas é importante separar e equilibrar a vida postada nas redes e a vida vivida. Acho até que existe um movimento olhando com mais responsabilidade para isso. E quero acreditar que isso é real e verdadeiro. O jovem é muito poderoso e precisa saber disso. A rede mais importante é a de apoio.
Também precisamos analisar sob outra perspectiva: há jovens que, simplesmente, não se sentem no direito de “errar” porque ingressar logo no mercado de trabalho é uma necessidade. O que diria para esse público?
Que ele não vai acertar sempre. A gente não aprende com acertos, a gente aprende com os erros. E é doloroso falar isso, mas é verdade. O fracasso te mostra o caminho para não errar de novo.
“A gente não aprende
com acertos, a gente
aprende com os erros.”
Eu sei que a cobrança de se tornar bem-sucedido logo é algo cada vez mais presente: ter logo a casa, o carro, a estabilidade financeira antes dos 30. A gente está cansado de ver nas redes uma certa fórmula mágica para que isso aconteça, como se fosse fácil, como se fosse uma receita.
A vida requer coragem, e o jovem precisa ter. É importante enxergar a beleza do caminho, e não só o destino final. Parece frase de coach, mas acredito nisso.
Você é um artista naturalmente associado à comédia e - imagino - que o público espere que esteja sempre bem-humorado. Mas como você lida com aqueles dias de mau humor e frustração?
Ah! É natural que o público pense assim. E, na maioria das vezes, sou assim mesmo. Eu vejo a vida pela ótica do humor. Mas, sem dúvida, tenho meus momentos ruins, de mau humor, problemas. Eu sempre recorro à arte, à respiração e ao humor. Tento fazer uma piada comigo mesmo ou com a situação para o riso vir e aliviar tudo.
A geração atual, hiperconectada, muitas vezes demonstra dificuldade nas relações interpessoais. Na sua opinião, as habilidades socioemocionais facilitam o acesso ao mercado de trabalho e são necessárias para o desenvolvimento de uma carreira?
A relação humana é a mais poderosa que existe. Usar a conectividade e não deixar ela nos usar. Nada substitui uma boa conversa, um bom diálogo, uma conversa olho no olho. E isso vale para o mercado de trabalho.
Claro que as ferramentas de tecnologia são muito bem-vindas, mas elas não nos substituem. Acho importante as escolas, os educadores e os pais estarem atentos a isso, pois as facilidades da tecnologia para os jovens são tentadoras, pela rapidez com que se chega a um resultado, muitas vezes raso ou questionável.
É um senso comum tratar a carreira de artista no Brasil como uma atividade instável. O que recomendaria para quem está no início da carreira, em busca de crescimento e de se firmar em sua área?
A carreira do artista é instável, sim. Mas ela requer muita paixão, dedicação e disciplina. Minha carreira foi construída ao longo de 25 anos dessa forma. E eu continuo construindo, é um movimento constante.
Se eu pudesse dar um conselho, seria: abra seu leque, suas opções. A arte é múltipla. Eu acredito no artista que atua, mas também que produz, que escreve, que canta, que dança. Quanto mais habilidade você tiver, menos chance de desemprego. É uma carreira muito bonita e que tem um poder lindo sobre as pessoas.
“Quanto mais habilidade você tiver, menos chance de desemprego.”
Se pudesse conversar com o Marcos de 17 anos, às vésperas de escolher uma profissão, o que diria para ele?
Nossa! Eu diria: cara, parabéns! Valeu a pena todos os perrengues. Tenho orgulho da sua caminhada, Marcos. E um obrigado gigante aos meus pais, professores e artistas que foram apoio e inspiração para mim.
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2026 vem aí: de IA a novas matérias, novidades miram alunos
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O ano de 2026 promete concretizar ainda mais mudanças no sistema de ensino do Espírito Santo. De olho nas transformações trazidas pela inteligência artificial (IA) e pelo amplo acesso a novas e cada vez mais ágeis tecnologias, escolas já planejam mudanças em seus currículos, novos laboratórios e espaços de troca para evolução da aprendizagem.
Mas isso não para por aí: entre as opções disponíveis para estudantes e suas famílias, há planejamentos de apoio à saúde mental, experiências imersivas fora do Estado e até mesmo novos programas voltados ao início da vida adulta, oferecendo aos alunos uma visão global de oportunidades e novos horizontes profissionais. Confira na próxima página o que vem por aí!
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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Com 10 unidades no Estado, além de quatro unidades de ensino móveis (Gastronomia, Beleza, Samt Lab e Saúde), o Senac ES quer ampliar parcerias e se reafirmar como referência em educação profissional.
A partir do próximo ano, o UP vai trabalhar com a Arco Educação, trazendo para as salas de aula um novo material didático, nas versões impressa e digital, e uma nova plataforma aliada à IA.
Segundo a direção do UP, a Arco é o maior grupo de educação básica da América Latina e oferece um portfólio completo, que vai muito além do fornecimento de material didático para seus parceiros. A ideia é transformar a educação com excelência, com tecnologia, com inovação e com pessoas.
NOVO CURRÍCULO
Localizado na Praia do Canto, em Vitória, o Colégio Sagrado vai ganhar novos equipamentos em 2026. Os alunos do ensino médio vão contar com mudanças na carga horária, de acordo com a Resolução nº 4 do CNE, de 12/05/2025, com novas eletivas, que permite aos estudantes aprofundarem seus conhecimentos e desenvolvimento em áreas específicas do conhecimento. Elas são parte do novo ensino médio e oferecem aos alunos a oportunidade de escolherem áreas de seu interesse para aprofundamento, complementando a formação geral básica.
Já no UP, a matriz curricular promete dar ainda mais foco nas disciplinas atreladas às questões socioemocionais e de projeto de vida.
IA NA SALA DE AULA
Para 2026, a Escola Edward Dodd, que é uma iniciativa do Instituto Bíblico da Igreja Cristã Maranata, terá como novidade a inserção de aulas de inteligência artificial na grade formal dos estudantes do ensino fundamental II e ensino médio. Além disso, os alunos das séries finais terão, na parte de tecnologia dos itinerários formativos, estudos voltados para a manutenção e pilotagem de drones.
DE OLHO EM OPORTUNIDADES
Pensando em oferecer aos alunos uma visão panorâmica de possibilidades em outros Estados, no Primeiro Mundo uma das novidades para 2026 será a visita a universidades fora do Espírito Santo.
A escolha se baseia em mostrar ao aluno oportunidades em espaços com currículos diferentes e mostrar a diversidade de opções pelo Brasil, até mesmo em relação a cursos que possam não ter em centros universitários do território capixaba.
NOVA UNIDADE EM VITÓRIA
As turmas de ensino médio e ensino fundamental II (a partir do 6° ano) da Escola Americana vão funcionar em nova unidade. Localizado no Aeroporto de Vitória, o espaço conta com 43.000m² e será inaugurado já no final de 2025. Por lá, os alunos terão quadra poliesportiva, campo de futebol, quadra de tênis, local para eventos, artes, laboratórios e salas com tecnologia de ponta.
FOCO NAS HABILIDADES
Para o próximo ano, o Madan vai dar foco à produção semanal de textos, correções individualizadas, além de oficinas que estimulam autonomia, repertório e autoria. O investimento no atendimento individualizado segue como prioridade, com planos de estudos personalizados e orientação contínua aos alunos.
VISÃO INTERNACIONAL
A Escola Americana de Vitória trabalha com o International Bachelor, um programa internacional surgido na Suíça. Ele visa a desenvolver estudantes com uma mentalidade global, consciência intercultural e habilidades para enfrentar os desafios do século XXI. O objetivo do projeto é trabalhar a candidatura em universidades de outros países, já por meio dos currículos nas turmas de fundamental II – turmas do 6º até o 9º ano.
MEDICINA
A Faesa está com inscrições abertas para o vestibular de Medicina 2026. O curso, com nota máxima no MEC e recomendado pelo Conselho Nacional de Saúde, deve começar em fevereiro do próximo ano na unidade de Cariacica, com metodologia ativa e prática desde os primeiros períodos, em parceria com hospitais da rede pública e privada. As inscrições podem ser feitas até 03/10 no site faesa.br.
SUPORTE EMOCIONAL
O Madan vai ampliar o suporte emocional com ações como o Projeto Conexões, que promove autoconhecimento e acolhimento dos alunos. Também estão previstas aulas extras de robótica, incentivando ainda mais a criatividade, a lógica e o trabalho em equipe.
Colégio Sagrado
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