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Mílton Jung: 'Temos de rever ideias que usamos com nossos filhos'

Mílton Jung: "Temos de rever ideias que usamos com nossos filhos"

O jornalista, conhecido por seu trabalho no rádio e na TV, apresenta agora um lado que muitos dos seus seguidores talvez não conheçam: o de pai

Publicado em 21 de setembro de 2018 às 16:35

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Um dos jornalistas mais conceituados da atualidade, Mílton Jung, âncora da Rádio CBN, estará em Vitória neste sábado (22) para debater a criação dos filhos, tendo a ética e a cidadania como fios condutores. O tema é destaque no seu mais novo livro: “É Proibido Calar! Precisamos falar de ética e cidadania com os nossos filhos”. O Talk Show, promovido pela Rádio CBN Vitória teve suas inscrições esgotadas em dois dias.

O jornalista, já conhecido pelo seu trabalho no rádio e na TV e que tem na sua rotina entrevistas sobre política, economia e negócios, apresenta agora um lado que muitos dos seus seguidores talvez não conheçam: o de pai.

Jung defende uma grande reflexão para que os pais percebam que, se o desejo que têm é o de que os filhos vivam em um país justo e generoso, é preciso iniciar esse trabalho dentro de casa. Confira a entrevista:

Na sua opinião, como a família pode levar para casa a discussão sobre valores e princípios éticos diante de um cenário tão conturbado?

O momento é o ideal – no mínimo dá pra dizer assim: olha o que acontece quando não se faz a coisa certa. Vivemos um momento importante e sensível no país. A sequência de denúncias sobre corrupção, a punição de líderes políticos e empresariais e a forma como as mazelas estão sendo expostas não foram suficientes para que algumas práticas fossem eliminadas do cenário político e ou da forma de governar. Isso gera desânimo, nos leva ao desalento. Mas temos de mostrar às novas gerações que não podemos desistir, que recusamos a falência da esperança.

Como fazer com que as crianças e os adolescentes entendam o que está acontecendo e qual o impacto destas escolhas na vida de cada cidadão?

Temos de mostrar que o Brasil já avançou muito na questão do combate à corrupção. Leis aprovadas antes mesmo da Lava Jato nos ensinaram bastante. Um exemplo é a Ficha Limpa e a Lei de Combate à Corrupção Eleitoral. Tem a Lei de Acesso à Informação Pública e uma série de ferramentas de controle. Não podemos permitir que o desânimo com o cenário atual nos faça retroceder – é isso que querem aqueles que ocupam o espaço político, com práticas pouco republicanas e democráticas. Querem que a gente volte para casa e deixe eles livres para fazerem o que bem entenderem. E isso já vimos que costuma não dar certo.

No livro, você fala dos atos e exemplos que devemos dar, sempre amparados nos princípios e valores éticos. Hoje muitos transferem a educação para as escolas. Como é esta relação com os seus filhos?

É o que chamo de terceirizar o papel dos pais. Por medo, desconhecimento ou tempo – desculpas nunca nos faltarão para tal – deixamos para a escola a discussão de temas que consideramos mais difíceis: sexo, drogas, ética, política, cidadania … Ou seja, deixamos para o professor, que já tem uma tremenda responsabilidade na escolarização das crianças, resolver na sala de aula o que não conseguimos dentro de casa. Entregamos para a escola, para a Igreja, para os amigos mais próximos e até para o Google uma responsabilidade que é nossa – um compromisso ético com a sociedade que assumimos quando decidimos ser pai e mãe. Que fique claro: a escola, a Igreja, os amigos e o próprio Google – sim, inclusive o Google – têm cada um o seu papel e sua dimensão na formação das novas gerações. Na minha casa, nosso esforço sempre foi para que todos os assuntos fossem conversados naturalmente e no momento que entendíamos ser mais apropriado. E a experiência até agora tem sido maravilhosa.

E para os capixabas, que aguardam pelo talk show e pelo lançamento do livro, o que você tem a dizer sobre os grandes dilemas na educação dos filhos frente à assuntos como política, sexo, drogas, bullying e o futuro profissional?

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Inicialmente, vamos acabar com os lugares-comuns que marcam nossa relação com os filhos. Temos de rever frases e ideias que costumamos usar tal como “todos os adolescentes são iguais”. Se todos fossem iguais, não adiantaria propor formas diferentes de educação e os resultados seriam sempre os mesmos. Quer outras dessas frases que temos de banir do nosso diálogo? “O único compromisso do meu filho é estudar”. Não é verdade: os adolescentes têm agendas interna e externa muito intensas, a começar pelas transformações hormonais, mudanças neurológicas e inúmeros impactos psicossociais que têm de enfrentar. Quanto a sexo, drogas, bullying … lembre-se, essa conversa começa a ser construída a partir de valores que apresentamos aos nossos filhos, que ajudam no desenvolvimento ético-moral deles e influenciarão nas escolhas que eles farão nas diversas experiências ao longo da vida: nos relacionamentos sexuais, nas realizações profissionais ou qualquer outro campo de atuação. Criar um ambiente em que a ética prevaleça, dará aos nossos filhos um repertório mais sofisticado de escolhas.

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