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Confira a crônica 'Ir além'

Confira a crônica "Ir além"

"ir além é co-criar sem garantias"

Publicado em 23 de abril de 2019 às 14:29

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Crônica: "nunca é o outro". (Unsplash)

Como setas seguimos rumo àquela única certeza absoluta – e eu não preciso dizer o quê.

Quer dizer, 'eu' não gosto de dizer... Porque tenho mania existencialista, além de ser escapista. Mas, de todo modo, interessa que não existe outra saída: somos provisórios e ponto final.

Então, fazendo questão de esquecer, vivemos na base de outras expectativas... Ou seja, invés de esperar pra morrer, damos um jeito de esperar pela vida.

Esperar pela festa, esperar a massa crescer, esperar a filar andar, a semana passar, o telefone tocar, a água ferver, o sinal abrir, o sinal fechar, esperar para ver, para crer, para merecer, para amadurecer, para congelar e para derreter.

Esperamos, quando não resmungando, procurando alguma outra coisa para fazer. Já que ver o tempo passar pode ser tarefa complicada...

...Ou exatamente o contrário.

Porque o tempo da espera também pode ser uma grande janela, com um para-peito largo, confortável, feito para se debruçar num feliz aguardo.

Falo daquela espera que é um hiato, de quando o tempo não é inimigo, mas um aliado. De quando os ecos do futuro podem ser tão bons quanto inevitáveis. Como um encontro marcado; uma gestação; um bolo no forno; um amor, uma notícia, ou uma hora 'h' que há de chegar.

Mas pressentir que algo maior está para acontecer, quase nunca é obra do acaso. Ou seja, não basta ter nascido. É preciso vontade de enxergar as possibilidades e fazer (o que for preciso para) acontecer. E isso é ir além de nós mesmos.

Criar as próprias esperanças significa se implicar, dar o próximo passo, mesmo sem garantia. Ir além de onde a vista alcança, sair da zona confortável, abraçar o desconhecido e tornar-se vulnerável. Por falar em vulnerável... Aí está uma espécie de força que pouco se comenta. Aliás, sabe que esta talvez seja a melhor definição de força e liberdade: seguir, sem ter certeza de nada, dando mais valor aos objetivos do que aos problemas.

Seguir apesar das incertezas é o grande passo. Mas, convenhamos, no mundo em que vivemos, só a certeza e a objetividade são valorizadas e reconhecidas como realidade. De modo que ir além de si mesmo é um desafio. (Além de um assunto a ser evitado).

Mas negligenciar nossa vida interior, ou nosso lado mais subjetivo, que enxerga além – mas não sabe explicar sobre isso, é uma estupidez. (Desculpe, mas é a verdade).

Enquanto não pudermos aceitar que a condição da nossa existência é – sempre foi e sempre será – ambígua, incerta, provisória, passageira, imprecisa e desprovida de certezas, seguiremos agarrados na tentativa de fazer o "certo". Aprisionados pelo medo de errar, andando dentro da linha pontilhada, aquém do próprio potencial, esperando o tempo passar (no pior sentido que há).

Finalmente, ir além é co-criar sem garantias.

Pensando bem, talvez seja inclusive a melhor manifestação da velha recomendação divina que diz "Orai e vigiai"...

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Ou seja, confia, mas faz sua parte: usa tua força criativa.

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