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Capixabas dedicam-se à cerâmica e produzem peças cheias de estilo

Capixabas dedicam-se à cerâmica e produzem peças cheias de estilo

Elas se apaixonaram pelas formas do barro e aderiram a nova moda da cidade

Publicado em 15 de novembro de 2019 às 20:32

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Ceramista Milly Cruz. (Vitor Jubini)

Foi frequentando restaurantes, na época em que morou no Rio de Janeiro, que a engenheira ambiental Milly Cruz, de 28 anos, encontrou sua verdadeira vocação: a cerâmica. “Sempre gostei de comer fora e ficava encantada com as peças diferentes, como os pratos de design único. E isso acabou me despertando para o processo da cerâmica”, conta.

Assim que terminou a faculdade, passou a frequentar o curso de cerâmica no Jardim Botânico. “Foi a primeira vez que tive contato com o barro. Foi o despertar de uma paixão”. Nunca mais parou. Estudou durante um ano e teve contato com profissionais gabaritados no ramo. “Eles fazem peças para restaurantes renomados, como uma linha exclusiva que foi desenvolvida para o Pérgula do Copacabana Palace”.

De volta a Vitória lançou a sua marca, a Grun Cerâmicas, primeiro com uma linha de peças utilitárias como canecas, bowls, pratos e copinhos pra café. Agora ela desenvolve duas linhas de acessórios. “Uma será de porcelana com prata, mais conceitual. A outra será com ouro, com peças mais geométricas e básicas. Também estou criando uma linha de pratos para um Café que vai abrir em Vitória”, conta Milly.

Peça de Milly Cruz(Vitor Jubini)

O que mais encanta a capixaba é o processo em si. “Cada detalhe faz a diferença no produto final. Não adianta ter pressa ou ser ansioso. Tem que respeitar o tempo do processo da cerâmica”, diz ela, que frequenta um ateliê no Centro de Vitória.

O sucesso das cerâmicas de Milly aconteceu no boca a boca. Ela começou vendendo para familiares, depois vieram amigos e a notícia se espalhou. “Acho incrível pensar que uma pessoa acorda todos os dias e toma café numa caneca feita por mim. A cerâmica é uma meditação, quando consigo me desligar do mundo externo. Fico com minha atenção plena no barro, é bom sujar a mão”.

Processo Meditativo

A designer de joias Ivana Izoton, 37 anos, sempre apreciou objetos de cerâmica, mas foi há alguns anos que ela começou a observar essa arte de uma maneira diferente, pesquisando as produções como referências para o seu trabalho na joalheria. As texturas, acabamentos e, principalmente, as formas passaram a servir como inspiração para a capixaba.

Designer Ivana Izoton. (Vitor Jubini)

“A cerâmica foi uma surpresa para mim. Imaginei que fosse gostar, mas não imaginei que curtiria tanto o processo de fazer, de construir os objetos. Me lembrei muito de quando comecei a estudar ourivesaria, de ter aquela sensação incrível de transformação da matéria e de materialização das minhas ideias”, conta.

Para aprender mais sobre o universo, Ivana frequentou o curso no ateliê do ceramista Ernane Batista, em Maruípe. “Achei uma experiência muito interessante, pela proposta que ele tem no ateliê, oferecendo cursos longos, aulas práticas avulsas, além de cursos mais rápidos no fim de semana, uma superoportunidade de experimentar esse fazer em um formato mais objetivo”, conta a designer, que considera o trabalho uma ação meditativa. “É uma prática que exige concentração, dedicação e cuidado. Exige envolvimento e conexão, não dá para ser feito sem vontade, sem atenção plena. E é tão apaixonante, que não se vê o tempo passar no ateliê”.

Peça de Ivana Izoton(Vitor Jubini)

A simplicidade e a geometria das formas, características também presentes na estética de suas joias, estão presentes em objetos decorativos e utensílios para cozinha, como copos, apoios para talheres e porta-sal. “Meus primeiros objetos de cerâmica surgiram a partir de pesquisa de referências, de estudos de possibilidades e de alguns esboços. O desejo pelas formas e tipos de objeto surgiu mesmo de uma vontade pessoal. As inspirações são linhas retas, geometria, arquitetura, esculturas, minimalismo. A simplicidade é uma referência nas minhas criações em cerâmica”, diz Ivana, que presenteou a mãe com algumas peças.

Descoberta

Na vida da arquiteta Clara Pignaton, 35 anos, a cerâmica surgiu pela necessidade de um escape. “Escrevia a tese de doutorado e, às vezes, passava dias para conseguir poucas páginas de texto, um trabalho de criação muito árduo e racional. A cerâmica veio como uma possibilidade de materializar algo sem compromisso”, lembra.

Ceramista Clara Pignaton. (Vitor Jubini)

E foi uma descoberta. “Encontrei no barro o que mais gostava na arquitetura, o campo aberto das possibilidades formais. Consegui sair da esfera do desenho para o objeto de modo mais dinâmico e com autonomia, já que posso acompanhar e dar atenção para todas as etapas do trabalho”, conta ela, que frequentou o Tacto Atelier de Cerâmica, com Tati Campagnaro e Tetê Drago. Foi lá que adquiriu os fundamentos de base da cerâmia. “Acredito que o ambiente do ateliê foi fundamental pro meu encantamento”, diz. Depois seguiu para São Paulo onde participou por alguns semestres do Grupo de Estudos em Cerâmica ministrado por Kimi Nii, no Sesc Pompéia. “No encontro com outros artistas e com as dicas de Kimi, a linguagem do meu trabalho começou a aparecer. Também passei por outros ateliês fazendo aulas de torno e de formulação de esmaltes”.

Peça de Clara Pignaton(Vitor Jubini)

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Ela conta que cada barro possui condições próprias, uns são mais plásticos, outros mais estruturais, e essas condições determinam os limites do objeto. “Por isso, o ritmo e o tempo do trabalho é aquele da matéria”. Clara costuma queimar o barro em forno elétrico, em duas queimas que variam entre 6 e 10 horas. Na primeira o barro vira cerâmica e está pronto para esmaltar. Já a segunda é feita numa temperatura mais alta para fundir o esmalte, chegando a 1280 graus. Do seu ateliê, na Praia da Costa, onde junta barro e maresia, saem vasos e utilitários. O sucesso é tanto que ela está participando da implantação da Escola de Cerâmica Kanzeon, no Mosteiro Zen Budista, em Ibiraçu. “O curso é oferecido para moradores do entorno do Mosteiro e para alunos das escolas municipais com o intuito de promover geração de emprego e renda através da cerâmica”, diz entusiasmada.

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