Publicado em 15 de outubro de 2025 às 14:33
O rei Abdullah 2, da Jordânia, advertiu que o Oriente Médio está condenado ao fracasso, a menos que se inicie um processo de paz que leve à criação de um Estado Palestino. >
A declaração foi feita pelo monarca em entrevista exclusiva ao programa Panorama da BBC, enquanto ele se preparava para participar da cúpula em Sharm el-Sheikh, no Egito, sobre o plano de paz de 20 pontos do presidente Donald Trump para a região.>
A cúpula foi realizada no mesmo dia em que o Hamas libertou os últimos reféns israelenses vivos que permaneciam em Gaza em troca de prisioneiros e palestinos detidos que eram mantidos por Israel. >
"Se não resolvermos este problema, se não encontrarmos um futuro para israelenses e palestinos, e uma relação entre os mundos árabe e muçulmano e Israel, estamos condenados", declarou. >
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O rei Abdullah afirmou que a região havia presenciado inúmeras tentativas falidas de paz e que a implementação de uma solução de dois Estados — a criação de um Estado Palestino independente em Cisjordânia e Gaza, ao lado de Israel — era a única resposta. >
"Espero que possamos olhar para trás, mas com um horizonte político, porque se não resolvermos este problema, repetiremos os mesmos erros", disse. >
O atual governo israelense já rejeitou repetidas vezes a solução de dois Estados.>
Na Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se opôs firmemente.>
"Na verdade, eles já tinham um Estado Palestino em Gaza. O que fizeram com esse Estado? Paz? Coexistência?", questionou. >
"Não, nos atacaram várias vezes, sem nenhuma provocação, lançaram foguetes contra nossas cidades, assassinaram nossos filhos, transformaram Gaza em uma base terrorista desde que cometeram o massacre de 7 de outubro", disse Netanyahu, se referindo aos ataques liderados pelo Hamas dois anos atrás, que desencadearam o atual conflito em Gaza. >
Contudo, foi nessa mesma assembleia da ONU que o presidente Trump convocou o rei Abdullah e outras lideranças regionais para uma reunião com objetivo de desenhar seu plano de paz. >
"A mensagem que ele deu a todos foi: 'Isso tem que parar, tem que parar já'. E dissemos: 'Senhor presidente, se alguém pode fazer isso, é o senhor", contou o monarca da Jordânia. >
Em referência à violência dos últimos dois anos, incluindo a guerra de Israel com o Irã e o ataque israelense a líderes do Hamas no Catar no mês passado, o rei Abdullah perguntou: "Quão perto chegamos de um conflito regional, ou até mesmo de um conflito Norte-Sul, que englobaria o mundo inteiro?".>
Falando sobre Netanyahu, o líder jordaniano afirmou não confiar em nada do que ele diz. >
Contudo, acredita que há israelenses com os quais os líderes árabes poderiam colaborar para construir a paz. >
Em relação ao Hamas e sua disposição de entregar o governo de Gaza a um órgão palestino independente — segundo os termos do acordo de cessar-fogo que foi assinado — o rei disse que aqueles que trabalham de perto com o grupo, como o Catar e Egito, estão muito otimistas que isso será cumprido. >
Apesar disso, o monarca advertiu que a chave de tudo está nos detalhes do acordo mediado por Trump e que, uma vez alcançado o cessar-fogo em Gaza, é vital que o presidente americano continue comprometido com o processo. >
"Em nossas conversas com o presidente Trump, ele sabe que não se trata apenas de Gaza, não se trata apenas de um horizonte político específico. Ou seja, ele busca trazer a paz para toda a região. Isso não acontecerá a menos que os palestinos tenham um futuro.">
A Jordânia mantém um tratado de paz com Israel desde 1994, apesar da oposição de muitos do país. >
Mais de 50% da população é de ascendência palestina. Ambos os países cooperam em alguns assuntos de segurança. >
A paz foi acordada pelo pai do atual monarca, já falecido, o rei Hussein, com o também falecido primeiro-ministro israelense Isaac Rabin. >
Rabin foi assassinado por um extremista judaico no ano seguinte ao acordo. >
Perguntei ao rei Abdullah se ele acreditava que veria um acordo de paz definitivo, que incluísse a criação do Estado Palestino, ainda em vida.>
"Tenho que ver isso, porque a outra alternativa provavelmente significaria o fim da região. Lembro que meu pai, no fim de sua vida, dizia: 'Quero paz para meus filhos e seus filhos'. Tenho dois netos, eles merecem essa paz. Quão terrível seria se, já crescidos, dissessem o mesmo que disse meu pai há tantos anos?">
"Eu acredito que isso é o que me motiva e a muitos outros na região: a paz é a única opção. Porque, se não for alcançada, com que frequência o Ocidente, e principalmente os Estados Unidos, acabam sendo arrastados para isso? Já se passaram 80 anos. E acho que chegou a hora de todos dizermos: basta.">
Mais de 67 mil pessoas já morreram pelas mãos do exército israelense em Gaza desde 7 de outubro de 2023, segundo funcionários do Ministério da Saúde do território controlado pelo Hamas. >
A história não oferece muitos motivos para a esperança, mas o rei Abdullah 2 acredita que este é um momento de possibilidades reais. >
Com informação adicional de Alice Doyard, Suha Kawar e David McIlveen.>
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