Afastando-se da crescente pressão pelo inquérito sobre a interferência russa nas eleições de 2016 e pela admissão de que pagou pelo silêncio da atriz pornográfica Stormy Daniels para não comentar um suposto caso sexual, o presidente Donald Trump jogou para sua base política com um comício à convenção da Associação Nacional do Rifle (NRA), maior lobby a favor das armas nos EUA.
Trump, que ao embarcar para o evento em Dallas (Texas) chamou a NRA de "uma verdadeira grande organização que ama o país", foi enfático no apoio ao direito de autodefesa, diante de milhares de orgulhosos portadores de armas no evento, mesmo que tenha se confundido ao se expressar:
Os direitos da Segunda Emenda estão sob cerco, mas eles nunca - nunca - estarão sob cerco enquanto eu for presidente prometeu o presidente à plateia, citando a emenda da Constituição que garante o direito ao porte de armas.
Após atacar a rede CNN e os rivais democratas; dar apoio à reeleição do senador Ted Cruz seu adversário na agressiva campanha republicana à Presidência em 2016 e à de outros candidatos pró-armas; atribuir ao apoio do rapper Kanye West o aumento de sua popularidade entre a população negra (de 11% a 22%); exaltar seus esforços pela paz entre as Coreias; e dizer que a imigração ilegal precisa acabar, defendeu o porte de armas de cidadãos comuns.
Se nos atentados de Paris (novembro de 2015) alguém tivesse uma arma, os terroristas teriam fugido ou sido baleados garantiu, sem mencionar o fato de que a França possui policiais e soldados armados no contexto da luta ao terror. Ninguém em Paris tem uma arma.
A relação de Trump com a NRA é boa: após sua campanha presidencial ter recebido US$ 30 milhões da organização, o presidente repetiu na Casa Branca o discurso dos lobistas, comprometendo-se a iniciativas para afrouxar regulações sobre o comércio de armas e justificando o direito de portar armamento sem "pré-condições excessivas".
Após o massacre que deixou 17 mortos numa escola de Parkland, na Flórida, em fevereiro, Trump deu sinais trocados: prometeu trabalhar com a NRA para aplicar medidas de maior controle à compra de armas e proibiu dispositivos que transformam armas em automáticas, enquanto defendeu o porte de armas por professores. Em uma reunião com congressistas, chegou a dizer que eles "tinham medo" da NRA, mas ele mesmo deixou de promover mudanças que prometeu.
É hipócrita da parte dele dizer que políticos se curvam à NRA e pertencem a ela. Isto prova que seu coração e carteira estão no mesmo lugar disse um dos sobreviventes do massacre em Parkland, David Hogg, que se tornou uma das lideranças por maior controle de armas no país.
BOICOTE NA INTERNET POR EMPRESAS
A NRA vai muito além de uma simples organização pela defesa de os americanos portarem e comercializarem armas. Com cerca de 5 milhões de associados pagantes, é um conglomerado econômico com revistas, lojas e até um canal de TV on-line, e financia campanhas por todo o país pelo relaxamento de regulações às armas.
Desde o massacre de Parkland, petições circularam na internet mirando companhias que oferecem descontos a membros da NRA. Os lobistas sofreram a perda de vários apoios corporativos de companhias, em parcerias e investimentos. As gigantes empresas de aviação Delta e United anunciaram a ruptura dos laços com a organização, assim como a companhia de seguros MetLife, as empresas de locação de veículos Hertz e Enterprise e ainda Symantec, que produz o antivírus Norton.
O First National Bank of Omaha, um dos maiores bancos privados dos EUA, anunciou que não renovaria o cartão de crédito que oferece em parceria com a NRA. Outras empresas, como as redes de hotéis Wyndham e Best Western, deixaram claro que não são mais afiliadas à NRA, mas sem informar quando a parceria foi encerrada.
Enquanto isso, diferentes estados e empresas avançaram medidas para aumentar a idade mínima para a compra de armas, além de impor mais limitações ao acesso a armamento de alto potencial letal.
Enquanto isso, o "Washington Post" fez um levantamento mostrando que, de 25 medidas a favor do armamento de professores (bandeira de Trump) lançadas por parlamentares nos EUA desde Parkland, só uma passou: justamente na Flórida, um projeto de lei que permite que funcionários de escolas poderiam ter armas, mas que professores não estariam elegíveis para serem treinados e portá-las em sala de aula.
É hora de a imprensa dar a nossos muitos heróis a atenção que dão aos vilões disse à plateia da NRA o vice-presidente Mike Pence, minutos antes do discurso de Trump.
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