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Terroristas de Paris teriam fugido se alguém tivesse armas, diz Trump

Terroristas de Paris teriam fugido se alguém tivesse armas, diz Trump

Em discurso na convenção anual do lobby pró-armamento da NRA, presidente defende reeleição de candidatos pró-Segunda Emenda e agradece apoio de Kanye West

Publicado em 4 de maio de 2018 às 19:41

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Trump, que ao embarcar para o evento em Dallas (Texas) chamou a NRA de "uma verdadeira grande organização que ama o país". (White House|Reprodução)

Afastando-se da crescente pressão pelo inquérito sobre a interferência russa nas eleições de 2016 e pela admissão de que pagou pelo silêncio da atriz pornográfica Stormy Daniels para não comentar um suposto caso sexual, o presidente Donald Trump jogou para sua base política com um comício à convenção da Associação Nacional do Rifle (NRA), maior lobby a favor das armas nos EUA.

Trump, que ao embarcar para o evento em Dallas (Texas) chamou a NRA de "uma verdadeira grande organização que ama o país", foi enfático no apoio ao direito de autodefesa, diante de milhares de orgulhosos portadores de armas no evento, mesmo que tenha se confundido ao se expressar:

— Os direitos da Segunda Emenda estão sob cerco, mas eles nunca - nunca - estarão sob cerco enquanto eu for presidente — prometeu o presidente à plateia, citando a emenda da Constituição que garante o direito ao porte de armas.

Após atacar a rede CNN e os rivais democratas; dar apoio à reeleição do senador Ted Cruz — seu adversário na agressiva campanha republicana à Presidência em 2016 — e à de outros candidatos pró-armas; atribuir ao apoio do rapper Kanye West o aumento de sua popularidade entre a população negra (de 11% a 22%); exaltar seus esforços pela paz entre as Coreias; e dizer que a imigração ilegal precisa acabar, defendeu o porte de armas de cidadãos comuns.

— Se nos atentados de Paris (novembro de 2015) alguém tivesse uma arma, os terroristas teriam fugido ou sido baleados — garantiu, sem mencionar o fato de que a França possui policiais e soldados armados no contexto da luta ao terror. — Ninguém em Paris tem uma arma.

A relação de Trump com a NRA é boa: após sua campanha presidencial ter recebido US$ 30 milhões da organização, o presidente repetiu na Casa Branca o discurso dos lobistas, comprometendo-se a iniciativas para afrouxar regulações sobre o comércio de armas e justificando o direito de portar armamento sem "pré-condições excessivas".

Após o massacre que deixou 17 mortos numa escola de Parkland, na Flórida, em fevereiro, Trump deu sinais trocados: prometeu trabalhar com a NRA para aplicar medidas de maior controle à compra de armas e proibiu dispositivos que transformam armas em automáticas, enquanto defendeu o porte de armas por professores. Em uma reunião com congressistas, chegou a dizer que eles "tinham medo" da NRA, mas ele mesmo deixou de promover mudanças que prometeu.

— É hipócrita da parte dele dizer que políticos se curvam à NRA e pertencem a ela. Isto prova que seu coração e carteira estão no mesmo lugar — disse um dos sobreviventes do massacre em Parkland, David Hogg, que se tornou uma das lideranças por maior controle de armas no país.

BOICOTE NA INTERNET POR EMPRESAS

A NRA vai muito além de uma simples organização pela defesa de os americanos portarem e comercializarem armas. Com cerca de 5 milhões de associados pagantes, é um conglomerado econômico com revistas, lojas e até um canal de TV on-line, e financia campanhas por todo o país pelo relaxamento de regulações às armas.

Desde o massacre de Parkland, petições circularam na internet mirando companhias que oferecem descontos a membros da NRA. Os lobistas sofreram a perda de vários apoios corporativos de companhias, em parcerias e investimentos. As gigantes empresas de aviação Delta e United anunciaram a ruptura dos laços com a organização, assim como a companhia de seguros MetLife, as empresas de locação de veículos Hertz e Enterprise e ainda Symantec, que produz o antivírus Norton.

O First National Bank of Omaha, um dos maiores bancos privados dos EUA, anunciou que não renovaria o cartão de crédito que oferece em parceria com a NRA. Outras empresas, como as redes de hotéis Wyndham e Best Western, deixaram claro que não são mais afiliadas à NRA, mas sem informar quando a parceria foi encerrada.

Enquanto isso, diferentes estados e empresas avançaram medidas para aumentar a idade mínima para a compra de armas, além de impor mais limitações ao acesso a armamento de alto potencial letal.

Enquanto isso, o "Washington Post" fez um levantamento mostrando que, de 25 medidas a favor do armamento de professores (bandeira de Trump) lançadas por parlamentares nos EUA desde Parkland, só uma passou: justamente na Flórida, um projeto de lei que permite que funcionários de escolas poderiam ter armas, mas que professores não estariam elegíveis para serem treinados e portá-las em sala de aula.

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— É hora de a imprensa dar a nossos muitos heróis a atenção que dão aos vilões — disse à plateia da NRA o vice-presidente Mike Pence, minutos antes do discurso de Trump.

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