Publicado em 25 de junho de 2025 às 09:39
Reza Pahlavi estava destinado a governar o Irã, mas faz quase meio século que ele não vive lá. Agora, com a atual tensão entre Irã, Estados Unidos e Israel, ele voltou a aparecer, apresentando-se como uma alternativa caso haja uma mudança de regime. >
Nascido em Teerã, é o filho mais velho do último líder da dinastia Pahlavi, o xá (rei) Mohamed Reza Pahlavi, que governou o país com o respaldo dos Estados Unidos de 1941 até 1979, quando foi derrubado pela Revolução Islâmica, que atualmente governa o Irã. >
Desde então, Pahlavi, o herdeiro, se tornou um dos críticos mais conhecidos do líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que está no poder desde 1989.>
Durante a atual crise causada pela guerra entre Israel e Irã, além dos ataques dos EUA às instalações nucleares iranianas, Pahlavi afirmou que esta é uma oportunidade única para avançar com uma "mudança de regime" em Teerã. >
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Ele considera que a República Islâmica está em sua posição mais fraca depois dos ataques sofridos, e que essa é uma "oportunidade sem precedentes" para derrotar Khamenei.>
"A raiz do problema é o regime e sua natureza. A única solução é que esse regime deixe de existir", disse à BBC no domingo (22/06) durante uma entrevista em sua casa, em um subúrbio perto de Washington, nos EUA. >
"A República Islâmica está desmoronando", reiterou na segunda-feira (23/06) durante uma coletiva de imprensa que compartilhou em suas redes sociais. >
Para Pahlavi, o "culpado" do momento atual que vive o Irã é Khamenei "e sua facção corrupta e destrutiva", a quem ele exige a renúncia do cargo. >
Pahlavi fez um apelo às forças armadas iranianas, aos membros do exército e da polícia para que se afastem do regime e "se unam ao povo" para combater a enfraquecida República Islâmica. >
Ele deixou claro que não busca restaurar a monarquia, mas quer um Irã "secular e democrático", pelo qual se oferece a ter um papel simbólico dentro da comunidade iraniana no exterior. >
"Me apresento para liderar essa transição nacional, não por interesse pessoal, e sim como servidor do povo iraniano", afirmou. >
"Não se trata de restaurar o passado. Trata-se de assegurar um futuro democrático para todos os iranianos.">
Mas, quem é Pahlavi?>
Reza Pahlavi tinha apenas 7 anos quando, em 1967, participou da cerimônia em que seu pai, Mohamed Reza Pahlavi, recebeu o título de "rei dos reis", reforçando sua posição de liderança. >
Ainda criança, sentado à esquerda do pai, foi nomeado oficialmente como príncipe herdeiro do Irã. >
Nascido em 31 de outubro de 1960, Reza Pahlavi foi educado em um colégio particular localizado dentro do Palácio Real, e reservado exclusivamente para membros da família do xá.>
Na juventude, estudou aviação e se formou como piloto de combate. Em 1978, com 17 anos, viajou aos Estados Unidos para continuar seu treinamento militar em aviação no Texas. >
Mas, antes que pudesse voltar ao serviço, a Revolução Islâmica derrubou o regime de seu pai. >
Diante de uma onda de protestos no Irã, o xá foi obrigado a abandonar o país em janeiro de 1979. Mohamed Reza Pahlavi saiu com sua família rumo ao Egito, logo depois para o Marrocos, Bahamas e México, antes de chegar aos Estados Unidos, onde recebeu tratamento médico para um câncer. >
A repentina perda de poder deixou o jovem príncipe herdeiro e sua família apátridas, dependendo de um círculo cada vez mais reduzido de simpatizantes da monarquia no exílio. >
Nas décadas seguintes, a tragédia atingiu a família em mais de uma ocasião. Sua irmã e seu irmão mais novos tiraram a própria vida, deixando Reza como líder simbólico de uma dinastia que muitos já consideravam parte do passado.>
Em julho de 1980, o xá morreu de câncer. >
Desde então, Pahlavi vive nos Estados Unidos. Estudou Ciências Políticas, se casou com Yasmine, uma advogada irano-americana, e teve três filhas: Noor, Iman e Farah.>
Mas, como caiu o reino que supostamente iria herdar?>
Mohamed Reza Pahlavi reinou como monarca do Irã durante 37 anos. >
Nesse período, o país experimentou um processo de ocidentalização e crescimento econômico, enquanto buscava recuperar o orgulho nacional e a história pré-islâmica do Irã, segundo descreve o jornalista Ali Hamedani, do serviço persa da BBC.>
Na década de 1960, as mulheres conquistaram o direito ao voto e passaram a ter direitos relativamente semelhantes aos dos homens, mas, ao mesmo tempo, o xá enfrentava duras críticas pelo seu estilo autocrático e pela falta de democracia. >
Muitos se recordam da era Pahlavi como uma época de rápida modernização e vínculos mais estreitos com o Ocidente. Outros, no entanto, se lembram de uma época marcada pela censura e pela temida polícia secreta Savak, o serviço de inteligência e segurança interna do Irã entre 1957 e 1979.>
O clero muçulmano xiita acusava o xá de ir contra os valores islâmicos, enquanto os grupos de esquerda, influenciados pela extinta União Soviética, pediam por mais igualdade dentro do país. >
Até meados de 1978, poucos podiam imaginar uma revolução capaz de transformar profundamente o Irã. >
Mas, em poucos meses, os protestos envolveram intelectuais de esquerda, nacionalistas, secularistas e islamistas, no que ficou conhecido como a Revolução Iraniana de 1979.>
Ao longo de 1978, os manifestantes contrários ao xá passaram a expressar, cada vez mais fortemente, suas reivindicações em termos religiosos. Até que, no final daquele ano, a retórica islamista começou a ganhar força nas ruas.>
Nesse contexto, o aiatolá Ruhollah Khomeini voltou ao Irã depois de 14 anos de exílio no Iraque e na França por se opor ao regime, posicionando-se como o único capaz de unificar as diversas correntes em torno de um eventual governo islâmico. >
A Revolução Iraniana terminou com a queda da monarquia e abriu espaço para a inauguração da atual República Islâmica.>
Os EUA haviam sido um aliado indiscutível do xá. Por isso, em novembro de 1979, um grupo de estudantes e militantes islamistas, contrários à monarquia, tomou a Embaixada dos EUA em Teerã em apoio à Revolução Iraniana e manteve reféns cerca de 50 americanos durante 444 dias.>
Dez anos depois, em 1989, o aiatolá Khomeini morreu, e o então presidente do Irã, Ali Khamenei, foi designado como novo líder supremo. >
Khamenei, a quem Reza Pahlavi questiona, governa o país desde então, e cumpre o papel de chefe de Estado, além de controlar o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, entre outras funções. >
Após seu pai ter sido derrubado, Reza Pahlavi abandonou o treinamento no Texas e se reuniu com sua família no Cairo em março de 1980. >
Em 31 de outubro do mesmo ano, meses depois da morte do xá, Reza Pahlavi, que tinha 20 anos, se declarou como o novo rei do Irã, chamando a si mesmo de "Reza Xá 2º". Do exílio, ele afirmou que era o herdeiro legítimo do trono da dinastia Pahlavi. >
No entanto, o governo dos Estados Unidos anunciou que não o apoiava. >
Era 1980, último ano da presidência do democrata Jimmy Carter, que estava na Casa Branca desde 1977, e o ano em que o republicano Ronald Reagan ganhou as eleições em novembro. >
Em março de 1981, por ocasião do Ano Novo persa, Pahlavi fez uma declaração pedindo a todos os opositores do governo iraniano que se unissem, e lançou um chamado para "a resistência nacional". >
A partir desse momento, ele se manteve ativo na política do exílio, confiando em seu legado familiar, redes de apoio na Europa e nos Estados Unidos, além do respaldo de algumas correntes iranianas que se opõem ao sistema islâmico. >
Depois de viver por vários anos no Egito e no Marrocos, Reza Pahalvi se mudou, em 1984, para Maryland, nos Estados Unidos, e fixou residência em um subúrbio da capital americana, onde ainda vive com a esposa. >
Pahlavi afirma que o Irã deve ser um estado democrático e secular, e que a religião deve ser separada do Estado. >
"Acredito que o Irã deveria ser uma democracia parlamentar secular, e o povo decidir a forma final do Estado", disse em 2018, durante uma conferência no The Washington Institute for Near East Policy, onde pediu apoio aos iranianos que tentam substituir o regime atual por uma democracia secular. >
Em fevereiro de 2023, Pahlavi falou ao jornal britânico Daily Telegraph e reiterou que a decisão sobre qual forma de governo o Irã deveria adotar diante de uma eventual queda do aiatolá Khamenei, cabe ao povo iraniano, e que ele não pretende se candidatar a nenhum cargo político. >
Em março de 2023, ele enfatizou que o secularismo é necessário para a democracia e defendeu meios não violentos para derrubar o governo iraniano.>
Pouco depois, Reza Pahlavi e sua esposa, Yasmine, visitaram Israel em uma tentativa de reconstruir as relações históricas entre Irã e Israel. Ali, ele visitou o Muro das Lamentações e o Museu Yad Vashem (museu do Holocausto), e se reuniu com o presidente israelense Isaac Herzog e com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.>
Após os bombardeios de Israel ao Irã e o ataque dos Estados Unidos às suas instalações nucleares, Pahlavi acredita que o momento político para pôr fim ao sistema de governo da República Islâmica está se aproximando. >
"Este é o nosso momento Muro de Berlim", disse em um comunicado que compartilhou nas redes sociais. >
Em declaração à imprensa, afirmou que o que parecia impossível há cinco anos agora é possível, citando como exemplo o colapso inesperado da União Soviética, que aconteceu em poucos dias. >
Os Estados Unidos, contudo, negam estar por trás de um possível plano para mudança de governo no Irã, apesar de o presidente Donald Trump ter mencionado isso em uma mensagem nas redes sociais.>
Pahlavi enfatiza que já existem planos prontos para transformar o Irã em um sistema democrático, caso o aiatolá Khamenei caia.>
Para o herdeiro do xá, a crise econômica e política que o país vive, além da pressão internacional e o crescente isolamento, fazem com que o regime se encontre em uma situação frágil e instável. >
Nas últimas quatro décadas, Pahlavi tem tentado se apresentar como uma terceira via entre o regime da República Islâmica e o caos ou golpes militares. No entanto, ele enfrenta grandes desafios. >
Entre eles, a ausência de uma base popular real dentro do Irã e as profundas divisões entre as correntes de oposição no exterior.>
Além disso, a imagem negativa associada ao governo de seu pai — devido às violações de direitos humanos e o domínio do aparato de segurança — ainda pesa contra ele. >
Vários analistas acreditam que sua aproximação com Israel pode levá-lo a perder apoio popular dentro do país, especialmente entre grupos conservadores ou nacionalistas que veem Israel como um inimigo estratégico. >
Outras correntes da oposição iraniana rejeitam a ideia de que Pahlavi recupere o poder ou até mesmo que lidere uma transição, destacando que lhe falta carisma político e capacidade para liderar uma ampla aliança. >
Por outro lado, seus apoiadores entendem que sua imagem moderada, seus vínculos com o exterior e seus antecedentes seculares o colocam em uma posição favorável para liderar uma eventual transição para um novo governo, evitando, assim, cenários sangrentos como nas transições de países como Síria, Líbia e Iraque.>
Com informações de Waleed Badran, do serviço persa e do serviço árabe da BBC.>
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