O Parlamento de Portugal aprovou, na tarde desta quinta-feira (20), a legalização da eutanásia no país.
A aprovação do projeto pelos deputados portugueses, no entanto, ainda não é garantia de que a interrupção voluntária da vida venha a ser efetivamente implementada.
Para entrar em vigor, a lei da eutanásia precisa ser sancionada pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Por ser católico praticante e publicamente defensor de medidas pró-vida, há especulações de que o chefe de Estado poderia vetar a lei.
Os deputados têm votos suficientes para derrubar um eventual veto político do presidente, mas ainda há margem na Justiça para impedir a eutanásia.
O presidente ou um deputado da oposição poderiam pedir que a lei recém-aprovada seja apreciada pelo Tribunal Constitucional, colegiado superior que tem poder de declarar o projeto como inconstitucional, inviabilizando então sua implementação.
Embora os juízes do TC sejam considerados com uma inclinação mais à esquerda, uma eventual avaliação da lei da eutanásia é considerada como imprevisível por especialistas.
Os deputados ainda precisam consolidar o que foi aprovado. Em linhas gerais, foram descriminalizados no país a eutanásia e o suicídio assistido para cidadãos portugueses e estrangeiros residentes no país.
É preciso ser maior de idade e estar consciente e lúcido para fazer o pedido de morte assistido. Estão englobadas doenças e lesões incuráveis e definitivas, que causem sofrimento duradouro e insuportável. Doenças mentais não estão incluídas entre as moléstias aptas aos pedidos de eutanásia.
Os casos precisam ser avaliados por pelo menos dois médicos, incluindo um especialista na doença que justifica o pedido de eutanásia. Se houver um parecer favorável, o caso avança para uma comissão de verificação e bioética.
Os pacientes também são obrigados a reiterar, mais de uma vez, o desejo pela morte assistida.
Desde que a Assembleia da República iniciou as discussões sobre a eutanásia -um projeto de lei sobre o tema havia sido reprovado em 2018 por apenas cinco votos de diferença-, diversos movimentos a favor e contra a medida se formaram no país.
Contrária a eutanásia, a Federação Portuguesa pela Vida está organizando uma petição virtual de um referendo sobre o tema. Segundo a organização, o grupo já reuniu mais de 40 mil assinaturas a favor da medida.
A Igreja Católica, muito influente no país, também tem se mobilizado para pressionar os deputados a proporem um referendo. Nas últimas semanas, o tema foi recorrente nas igrejas e diversas autoridades eclesiásticas se manifestaram publicamente -e em reunião com políticos- sobre o tema.
Uma pesquisa de opinião feita pelo jornal português Expresso, em 2017, afirmava que 67,7% dos portugueses eram a favor da eutanásia.
Apesar da aprovação no Parlamento, a eutanásia recebeu uma série de pareceres desfavoráveis em Portugal.
A Ordem dos Médicos -entidade que regular os profissionais no país- manifestou-se contra a morte assistida. Na avaliação do bastonário da ordem, Miguel Guimarães, a descriminalização da eutanásia e do suicídio assistido viola a ética médica e o código deontológico da profissão, uma vez que os profissionais de saúde "estão preparados para salvar vidas."
O CNECV (Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida) também deu parecer negativo aos projetos de descriminalização da eutanásia votados nesta quinta-feira no Parlamento português, "por entender que não constituem uma resposta eticamente aceitável para a salvaguarda dos direitos de todos e das decisões de cada um em final da vida, não considerando nem valorizando os diferentes princípios, direitos e interesses em presença, que devem ser protegidos e reafirmados", justifica o órgão.
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