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Facebook suspende empresa da campanha de Trump por roubo de dados

Facebook suspende empresa da campanha de Trump por roubo de dados

Informações de 50 milhões de usuários foram coletados e utilizados indevidamente, diz jornal

Publicado em 17 de março de 2018 às 20:08

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A Cambridge Analytica, empresa londrina de mineração e análise de dados para campanhas políticas, tem no currículo a improvável eleição de Donald Trump à Presidência americana. Mas, nesta sexta-feira, a companhia sofreu seu primeiro grande revés, num duro golpe que pode inviabilizar as suas operações. Em comunicado, o Facebook informou a suspensão da rede “Strategic Communication Laboratories, incluindo sua firma de análise de dados políticos, Cambridge Analytica”. Isso significa que a Cambridge não poderá manter páginas nem comprar anúncios na redes social.

De acordo com o Facebook, em 2015 o professor de psicologia Aleksandr Kogan, da Universidade de Cambridge, violou as políticas da plataforma ao fornecer a terceiros (Cambridge Analytica e Christopher Wylie, da Eunoia Technologies) dados coletados por seu aplicativo, “thisisyourdigitallife“, que oferecia aos usuários previsões do futuro segundo informações de personalidade publicadas na rede social. Quando o Facebook soube da violação, removeu o aplicativo e exigiu que todos os dados coletados dos usuários fossem destruídos.

O aplicativo registrou apenas 270 mil downloads, mas reportagem do “New York Times” informa que dados de 50 milhões de perfis foram coletados sem permissão e comercializados para a Cambridge Analytica, segundo depoimento de Wylie, que ajudou na fundação da firma.

"As regras não importam para eles. Isso é uma guerra e tudo é justo" afirmou Wylie, sobre a Cambridge Analytica, onde trabalhou até 2014. "Eles querem lutar uma guerra cultural na América. A Cambridge Analytica deveria ser o arsenal de armas para lutar esta guerra."

‘Isso é uma fraude’

As informações obtidas pelo “Times” foram encaminhadas ao Facebook, comprovando que Kogan, Wylie e a Cambridge Analytica não destruíram os dados coletados dos usuários, conforme prometido. Por esse motivo, os três estão suspensos da rede social até que investigações concluam se as informações foram ou não destruídas.

“Isso é uma fraude”, apontou em comunicado Paul Grewal, vice-presidente da rede social. “Nós tomaremos todas as medidas necessárias para verificar se os dados em questão foram excluídos de uma vez por todas. E tomar as medidas contra todas as partes envolvidas”.

Pela suspensão, a Cambridge Analytica não pode mais comprar anúncios na rede social ou administrar páginas, explicou Andrew Bosworth, vice-presidente do Facebook, em texto publicado no Twitter.

Alexander Nix, diretor-executivo da Cambridge Analytica, negou reiteradamente, inclusive em audiências no Congresso, ter obtido ou utilizado dados coletados de usuários no Facebook. Contudo, em comunicado ao “Times”, reconheceu ter adquirido os dados de Kogan, mas culpou o pesquisador pela violação das regras da rede social e afirmou ter destruído todas as informações há dois anos, quando soube do problema.

Wylie contou que seu contato com Nix aconteceu em 2013, quando era um jovem interessado em usar traços de personalidade inerentes da psicologia para influenciar os votos em eleições. Na época, realizava experimentos em países do Caribe e da África, onde regras de privacidade são menos duras e políticos ficavam felizes em fornecer dados em mãos dos governos. Mas a migração para o mercado americano não foi fácil. A primeira campanha a contratar a Cambridge Analytica foi a do republicano Ted Cruz ao Senado, em 2014, que acabou derrotada.

Na época, Wylie e seus colegas tinham um desafio técnico: como criar perfis psicológicos de eleitores em escala nacional? Apenas a coleta dos dados teria custos inviáveis. Tradicionalmente, firmas de análise de dados usavam registros de votos e histórico de compras para tentar prever a posição política dos eleitores. Primeiro, Wylie tentou se aproximar de um grupo de pesquisadores na Universidade de Cambridge que haviam desenvolvido uma técnica para mapear os traços de personalidade segundo as “curtidas” no Facebook, mas o contato foi negado pelos cientistas.

Então surgiu Kogan, um professor na universidade que conhecia as técnicas. Ele criou o “thisisyourdigitallife“em junho de 2014 e começou a coletar dados para a Cambridge Analytica. A empresa cobriu os custos, de aproximadamente US$ 800 mil, e permitiu ao pesquisador manter uma cópia dos dados coletados para suas pesquisas. Tudo o que Kogan informava aos usuários e ao Facebook era que as informações seriam coletadas para propósitos acadêmicos.

Segundo Wylie, Kogan entregou dados de 50 milhões de perfis, sendo que aproximadamente 30 milhões continham informações suficientes para a análise psicológica, além do local que residência, importante para a localização dos eleitores. Mas apenas 270 mil haviam feito o download do aplicativo e consentido em fornecer informações.

Investigações nos EUA e Reino Unido

Em 2016, a Cambridge Analytica prestou diversos serviços para a campanha de Trump, incluindo a seleção de públicos alvo para anúncios digitais e pedidos de doações, modelagem da participação dos eleitores, a compra de US$ 5 milhões em anúncios de televisão e a escolha dos locais a serem visitados pelo candidato.

No Reino Unido, a Cambridge Analytica está sendo investigada pelo Parlamento e órgãos reguladores sobre possíveis serviços ilegais realizados durante a campanha em favor do “Brexit”. Após a publicação da reportagem do “Times”, neste sábado, a comissária de informação do país, Elizabeth Denham, afirmou que irá “investigar as circunstâncias em que dados do Facebook possam ter sido obtidos e usados ilegalmente”.

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Nos EUA, investigadores do Congresso questionaram Nix sobre o papel da companhia na campanha de Trump. E no Departamento de Justiça, Robert Mueller determinou a apresentação de e-mails de funcionários da firma que trabalharam na campanha como parte da investigação sobre a interferência russa no pleito. Documentos obtidos pelo “Times” indicam que a firma trabalhou na Rússia e da Ucrânia.

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