> >
Em desfile de Dia da República, Bolsonaro exalta poderio militar indiano

Em desfile de Dia da República, Bolsonaro exalta poderio militar indiano

Presidente ressalta que, por ser um país nuclear, Índia 'ajuda a decidir futuro da humanidade'

Publicado em 27 de janeiro de 2020 às 12:02

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Presidente da República Jair Bolsonaro, durante Cerimônia de Apresentação de Altos Dignitários. (Alan Santos/PR)

Sentado ao lado do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e de várias autoridades do país, o presidente Jair Bolsonaro assistiu na manhã deste domingo (26), como convidado de honra, ao desfile do Dia da República da Índia, uma demonstração anual da força militar do país.

Tanques T-90, com armamentos que conseguem atingir alvos à noite a 5 km, caças russos Sukoi e Mig e franceses Rafale, helicópteros americanos Chinook e Apache, aviões C-130 Hércules da Embraer e mísseis antissatélite, além de camelos adornados com 76 adereços diferentes, parte no regimento que combate terroristas e contrabandistas, estavam em exibição durante os 90 minutos de desfile, que sai do palácio presidencial em Déli e percorre a esplanada Raj Path até o Portal da Índia e o Red Fort. 

"A Índia é um país nuclear, e, graças ao seu poderio, é um pais que ajuda a decidir o futuro da humanidade", disse Bolsonaro, após voltar do desfile, acrescentando que havia gostado muito, mas que estava cansado devido ao fuso horário --a Índia está oito horas e meia à frente do Brasil.

"Queremos aumentar nossa cooperação em defesa, o ministro não pôde vir, mas virá na próxima oportunidade."

O Brasil vai assinar em breve dois acordos de cooperação em defesa com a Índia. Um deles prevê um fundo bilateral para expandir a capacidade de produção de itens de defesa, enquanto o outro abrirá espaço para cooperação no desenvolvimento e comercialização de armamentos.

Desde que a Índia foi dividida e deu origem à Índia e ao Paquistão, em 1947, os países tiveram diversos conflitos. A maioria das tensões é relacionada à disputa pela Caxemira e a atos de terrorismo de extremistas paquistaneses na Índia. Os dois países desenvolveram armas nucleares. 

"Não há dúvida [de que os indianos possuem mais armamentos que o Brasil], é um país nuclear, inclusive por causa dos problemas que existem na região, mas eles não chegam às últimas consequências justamente pelo poderio bélico que têm", disse Bolsonaro. 

O convite para assistir ao desfile do Dia da República foi o ápice da visita oficial de três dias que o presidente brasileiro faz à Índia. O dia 26 de janeiro celebra a data em que a Constituição indiana, marco da transição completa do país para uma democracia após a independência do Reino Unido, foi promulgada, em 1950. 

Além de mostrar a capacidade da Força Aérea, da Marinha e do Exército indianos, o desfile também teve carros alegóricos de cada um dos estados do país, apresentação de ioga e de muçulmanos sufis entoando poemas do vencedor do Nobel Rabindranath Tagore.

O esquema de segurança é draconiano. Há 10 mil soldados policiando o local, além de helicópteros e caças sobrevoando a área. Todos os voos que saem e chegam a Déli ficam suspensos durante o evento. 

Os convidados --é preciso comprar ingressos para entrar na área do desfile, ou receber convites VIP-- passam por uma revista detalhada, e os celulares ficam bloqueados. 

As entradas são muito disputadas e acabam rapidamente. Pelo menos uma família que gostaria de assistir pessoalmente à parada desistiu de tentar conseguir ingressos. 

"O governo nunca venderia ingresso para a gente, porque nós somos da Caxemira", disse à Folha a obstetra Muna, que estava perto do India Gate com os dois filhos, de 8 e 10 anos, e o marido, que é engenheiro. 

Eles vieram passar alguns dias em Déli, onde têm parentes, e pediram que seus nomes fossem trocados, pois temem retaliação.

Em agosto, Modi revogou a autonomia constitucional da Caxemira, única região de maioria muçulmana na Índia.

Desde então, o estado, que foi dividido em dois --Jammu e Caxemira-- passa por pesada vigilância. 

Muitos líderes foram presos e, desde 5 de agosto, a internet foi suspensa e ninguém tem contato com o mundo exterior. Os telefones também foram bloqueados por cerca de dois meses.

"Nós estamos acostumados a isso, mas nunca foi tão pesado. Da última vez ficamos um mês sem internet, agora já são seis meses", disse. "Eles não querem que o mundo saiba o que está acontecendo na Caxemira."

A Suprema Corte indiana determinou no dia 10 de janeiro que o governo desbloqueie o acesso à internet na região, mas a conexão só começou a ser restabelecida no sábado (25).

Este vídeo pode te interessar

Os filhos de Muna ficaram sem aulas por três meses, e o hospital onde a obstetra trabalha ficou sem suprimentos por meses.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais