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DNA identifica doença que dizimou 15 milhões de Astecas

DNA identifica doença que dizimou 15 milhões de Astecas

Exames encontraram a bactéria salmonela nos corpos de indígenas mortos

Publicado em 16 de janeiro de 2018 às 12:41

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Quando Hernán Cortés chegou ao México, em 1519, existiam entre 15 milhões e 30 milhões de indígenas na região mesoameicana. No fim daquele século restavam menos de dois milhões. As guerras provocaram muitas mortes, mas foram epidemias trazidas pelos invasores que dizimaram a população. Em 1545, o povo da nação Asteca começou a adoecer com febres altas, dores de cabeça e sangramento nos olhos, boca e nariz. A morte vinha em três ou quatro dias. A epidemia ficou conhecida entre os nativos como “cocoliztli”, mas somente agora, quase meio século depois, o culpado foi conhecido: a salmonela.

Relatos históricos indicam que a “cocoliztli” — “pestilência”, na língua asteca — matou cerca de 15 milhões de astecas, cerca de 80% da população total. Por anos, cientistas tentaram identificar a doença causadora da epidemia, a segunda maior da história da Humanidade, atrás apenas da peste negra, que matou 25 milhões de pessoas apenas na Europa Ocidental no século XIV.

— A “cocoliztli” de 1545-50 foi uma das muitas epidemias que afetaram o México após a chegada dos europeus, mas foi especificamente a segunda de três epidemias a mais devastadora — explicou Ashild Vagene, da Universidade de Tuebingen, na Alemanha, à AFP. — A causa dessa epidemia tem sido debatida por mais de um século por historiadores e agora nós temos como fornecer evidência direta pelo uso do DNA para resolver esta antiga questão.

Os colonizadores europeus trouxeram para a América novas doenças, como varíola, sarampo, tifo e caxumba. Sem defesas, os organismos dos indígenas sucumbiam rapidamente. Duas décadas antes da “cocoliztli” de 1545, uma epidemia de sarampo matou entre 5 milhões e 8 milhões de indígenas, logo após o desembarque dos europeus. Uma segunda epidemia, entre 1576 e 1578, matou metade da população restante, estimada em apenas 4 milhões.

“Nas cidades e grandes vilas, valas foram escavadas. E da manhã ao pôr-do-Sol, os sacerdotes nada fazem além de carregar cadáveres e jogá-los nas valas”, escreveu o cronista Frei Juan de Torquemada.

Até mesmo na época, médicos apontavam que os sintomas não se encaixavam com os das doenças mais conhecidas, como sarampo e malária. Para responder a essa questão centenária, arqueólogos analisaram 29 corpos enterrados no sítio de Yucundaa-Teposcolula, em Oaxaca, no México. Datações por carbono indicam que os indígenas morreram na época da epidemia, e em seus dentes guardaram provas do patógeno culpado. Exames de DNA indicaram a presença da bactéria Salmonella enterica, Paratyphi C.

— Nós testamos para todas as bactérias patógenas e vírus com dados genéticos disponíveis — disse Alexander Herbig, também da Tuebingen, coautor da pesquisa publicada na revista “ Nature Ecology and Evolution”. — E a Salmonella enterica foi o único germe detectado.

Este subtipo da salmonela provoca febres entéricas, dentre as quais a febre tifoide é a mais conhecida. Hoje, esta variedade da salmonela é muito rara, e os poucos casos de infecção são registrados na Ásia e na África, não nas Américas.

Agora, resta saber se a salmonela foi trazida para o Novo Mundo pelos conquistadores espanhois, como outras doenças. A tese dos pesquisadores é que a bactéria tenha viajado com animais domésticos trazidos pelos europeus e se espalhado entre os indígenas por meio de água e alimentos contaminados.

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— Com os dados que temos não podemos saber geneticamente se a salmonela veio da Europa ou já existia no México antes da chegada dos europeus — pontuou Ashild, ao “El País”. — O que sabemos é que esta bactéria já existia na Europa muito tempo antes da epidemia de “cocoliztli”.

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