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Contra novo coronavírus, Kim Jong-un deve bloquear país por um ano

Contra novo coronavírus, Kim Jong-un deve bloquear país por um ano

O governo de Kim Jong-un afirma que o país é uma zona livre de contaminação, informação difícil de endossar, segundo O'Carroll. Obter informação confiável do país ficou mais difícil desde janeiro, quando a Coreia do Norte se trancou para o mundo exterior

Publicado em 3 de abril de 2020 às 14:45

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Kim Jong-un
Kim Jong-un. (Wikipedia)

O país mais fechado do mundo vai se fechar ainda mais por causa do coronavírus, prevê Chad O'Carroll, principal executivo do Grupo Korea Risk (GKR), consultoria e serviço de informação especializado na Coreia do Norte.

"Viagens devem ficar proibidas e fronteiras fechadas por pelo menos um ano", diz. O governo de Kim Jong-un afirma que o país é uma zona livre de contaminação, informação difícil de endossar, segundo O'Carroll. Obter informação confiável do país ficou mais difícil desde janeiro, quando a Coreia do Norte se trancou para o mundo exterior. Além disso, o país tem recursos limitados para diagnosticar a doença, diz o executivo.

O que é possível afirmar é que Kim Jong-un teve sucesso em bloquear a Coreia do Norte em fevereiro e março, segundo ele. Imagens de satélites e dados de transporte marítimo usados pelo GKR para acompanhar a economia coreana mostram que o movimento caiu a praticamente zero.

Segundo O'Carroll, mesmo que consiga barrar a entrada do coronavírus ou controlar sua disseminação, a Coreia do Norte deve ver agravada sua situação de saúde principalmente no norte do país, região mais vulnerável.

Nesta semana, o GKR colocou no ar um site que congrega informações sobre a pandemia no país de Kim Jong-un, para atender a uma procura crescente por parte de técnicos e pesquisadores da área de saúde pública.

PERGUNTA - A pandemia tornou mais difícil conseguir informação confiável sobre a Coreia do Norte?

CHAD O'CARROLL - Sempre foi preciso cuidado com informações que vêm de dentro do país: rechecá-las e confrontá-las com imagens de satélites, dados de comércio, fontes secundárias. Algumas fontes de dentro do país são muito confiáveis, outras não. O efeito da pandemia foi escassear ainda mais o acesso, aumentando o desafio para os jornalistas.

P - A Coreia do Norte está livre do coronavírus, como diz o governo?

CC - É verdade que muito cedo, por volta de 20 de janeiro, eles tomaram medidas para fechar o país. Baniram o turismo, barraram todos os estrangeiros, impuseram quarentena, fecharam fronteiras. Isso deve ter reduzido o risco. Mas o sistema de saúde norte-coreano está longe de ser dos mais sofisticados do mundo, então é alta a chance de que não tenham capacidade para o diagnóstico.

Deve estar ocorrendo lá um fenômeno parecido com o que vemos em Mianmar, em que o número divulgado de infectados é baixo, mas reflete a carência de recursos para verificá-los. Fontes não oficiais dizem que há lugares com muitos casos de coronavírus, mas francamente não temos como verificar esses relatos.

P - Pyongyang fechou as fronteiras, mas desde os anos 1990 o governo tolera o comércio privado. Ele também foi afetado?

CC - As imagens de satélite mostram que praticamente não há movimento nos lugares em que esse comércio é mais intenso, então tudo indica que em fevereiro e boa parte de março até o comércio privado foi suspenso.

Algo que corrobora essa informação é que até mesmo a imprensa oficial publicou artigos avisando os altos funcionários públicos de que as restrições valem para todos. Nas últimas semanas, começamos a observar movimento maior nos portos, mas a aviação continua totalmente suspensa.

P - O país depende da importação de grãos da China. Como estão lidando com a necessidade de importar comida e o risco de que ela traga contaminação?

CC - Segundo as fontes oficiais, todas as importações ficam dez dias em quarentena e são depois desinfetadas. Pode haver exagero, mas eles intensificaram os cuidados para evitar a transmissão por contato.

P - A Coreia do Sul conseguiu reduzir a velocidade de transmissão e controlar a pandemia. Vê alguma chance de colaboração entre os países?

CC - No curto prazo, não, porque a Coreia do Sul é vista como zona de alto risco, e há uma desconfiança forte de que qualquer contato trará contaminação. Talvez no médio prazo, quando as relações começarem a se normalizar, possa haver algum intercâmbio.

P - O norte do país já era vulnerável, por causa da desnutrição e da tuberculose. Organizações humanitárias estão conseguindo prevenir um desastre maior?

CC - Não. Essa é uma questão desoladora. ONGs não podem sair de Pyongyang nem entrar no país, todas as operações de ajuda nas regiões mais vulneráveis estão suspensas. São tempos muito perigosos. Entidades procuram enviar testes, medicamentos e equipamentos de segurança, mas pouco está sendo entregue.

P - Kim Jong-un vinha fazendo alguns testes para implantar algo mais próximo de uma economia de mercado. A pandemia altera isso?

CC - Vimos alguns ensaios de liberalização nos últimos dois ou três anos, que não devem ser afetados.

Muitos analistas dizem que a Covid-19 está catalisando mudanças que levariam décadas, e o que pode ocorrer é que autoridades norte-coreanas fiquem mais propensas a aumentar o isolamento do país. E que medidas implantadas para lidar com a crise, como o fechamento do país, acabem persistindo por muito mais tempo.

P - Quais suas previsões para a Coreia do Norte no curto e médio prazo?

CC - O governo vai continuar afirmando que há zero casos, e as restrições a viagens devem durar um ano ou mais. Não vão abrir as fronteiras em nenhum momento no futuro próximo, o que trará problemas para muitas empresas.

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