Publicado em 18 de junho de 2025 às 04:39
Os comentários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o conflito entre Israel e Irã têm variado entre o apoio total aos ataques de Israel e o forte distanciamento deles, e vice-versa.>
Após afirmar inicialmente que os EUA não tinham nenhuma relação com os ataques de Israel ao Irã, Trump fez postagens nos últimos dias pedindo que moradores deixassem a capital iraniana, Teerã, exigindo "rendição incondicional" do Irã e afirmando que os EUA conheciam a localização do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, mas que não o matariam "por enquanto".>
A ambiguidade dele aumentou a sensação de incerteza à medida que o conflito se intensifica — e ele deixou mais cedo a cúpula do G7 no Canadá, dizendo simplesmente que tinha "coisas importantes" para fazer em Washington. >
A Casa Branca afirmou que a partida do presidente americano tinha a ver com "o que está acontecendo no Oriente Médio", enquanto mais tarde, na plataforma Truth Social, ele escreveu que não tinha "nada a ver com um cessar-fogo".>
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Mais cedo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que os ataques foram "totalmente coordenados" com os EUA.>
Mas, afinal, que fatores estão pesando sobre Trump e, sobretudo, quais são suas opções agora?>
Quando os mísseis israelenses atingiram Teerã na quinta-feira (12/6), Trump ameaçou os líderes do Irã com ataques "ainda mais brutais" por parte de seu aliado israelense armado com bombas americanas.>
Sabemos qual é o objetivo final de Trump. Ele afirma, assim como Netanyahu, que o Irã não pode ter uma bomba nuclear. Basicamente, ele disse que sua opção preferida (diferentemente de Netanyahu) é por meio de um acordo entre os EUA e o Irã (essa rota também reflete sua autoproclamada imagem de negociador de alto nível).>
Mas ele tem sido vago sobre como chegar lá, às vezes recorrendo à ameaça do uso da força, outras vezes insistindo na diplomacia. Na semana passada, ele chegou a se contradizer na mesma frase, ao dizer que um ataque israelense ao Irã ajudaria a fechar um acordo ou "arruinaria tudo".>
Sua imprevisibilidade é, às vezes, retratada por seus apoiadores como estratégica — a chamada teoria do "louco" das relações internacionais. Essa teoria já foi usada anteriormente para descrever as táticas de negociação de Trump, e sugere que a incerteza deliberada ou a imprevisibilidade sobre a escalada funciona para coagir os adversários (ou até mesmo os aliados, no caso de Trump) a cooperar. Isso foi notoriamente atribuído a algumas das práticas do presidente Richard Nixon durante a Guerra Fria.>
Alguns dos conselheiros e apoiadores de Trump defendem o lado da "pressão máxima" da teoria do louco quando se trata da abordagem em relação ao Irã. Eles acreditam que as ameaças vão acabar prevalecendo porque, segundo eles, o Irã não leva a sério as negociações (embora em 2015 o país tenha assinado um acordo nuclear liderado por Obama, do qual Trump se retirou posteriormente).>
Netanyahu tem exercido pressão constante sobre Trump para que ele siga a via militar, e não diplomática, e o presidente dos EUA — apesar de seu desejo frequentemente declarado de ganhar o Prêmio Nobel da Paz — pode, no fim das contas, ver a necessidade de cumprir suas ameaças mais beligerantes à liderança de Teerã.>
Israel também pode pressionar mais nos bastidores para que os EUA intervenham, na sua opinião, para concluir o trabalho. Os EUA têm bombas antibunker que Israel acredita que podem destruir a instalação subterrânea de enriquecimento de urânio do Irã em Fordow.>
À medida que o conflito se intensifica, aumenta também a pressão sobre Trump por parte da ala mais belicista de republicanos do Congresso, que há muito tempo pedem uma mudança de regime no Irã.>
Trump também vai se deparar com o argumento de que isso poderia forçar os iranianos a negociar com ele com menos vantagem. Mas o fato é que os iranianos já estavam nesta mesa de negociação, à medida que uma sexta rodada havia sido marcada para domingo, em Omã, com o enviado de Trump, Steve Witkoff.>
As negociações foram abandonadas.>
Até o momento, Trump reiterou que os EUA não estão envolvidos nos ataques de Israel.>
A escalada traz riscos significativos e potencialmente definidores em termos de legado para Trump. Os destróieres navais americanos e as baterias de mísseis terrestres já estão ajudando na defesa de Israel contra a retaliação iraniana.>
É provável que alguns dos conselheiros de Trump no Conselho de Segurança Nacional estejam alertando contra a possibilidade de ele fazer qualquer coisa que possa aumentar a intensidade dos ataques de Israel contra o Irã nos próximos dias, especialmente com alguns mísseis iranianos rompendo as defesas israelenses e americanas com efeitos mortais.>
Netanyahu agora argumenta que atacar o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, acabaria com o conflito, e não o agravaria.>
Mas uma autoridade anônima dos EUA informou a algumas agências de notícias no fim de semana que Trump deixou claro que era contra essa medida.>
Um dos grandes fatores políticos que influenciam a mente de Trump é seu apoio interno.>
A maioria dos republicanos no Congresso ainda apoia firmemente Israel, incluindo a continuidade do fornecimento de armas americanas ao país. Muitos deles apoiaram abertamente os ataques de Israel ao Irã.>
Mas há vozes importantes dentro do movimento Make America Great Again (Maga) de Trump que agora rejeitam totalmente esse tradicional apoio "irrefutável" a Israel.>
Nos últimos dias, elas se perguntaram por que os EUA estão correndo o risco de serem arrastados para uma guerra no Oriente Médio, dada a promessa de America First da política externa de Trump.>
O jornalista pró-Trump Tucker Carlson escreveu uma crítica contundente na sexta-feira, dizendo que as alegações do governo de não estar envolvido não eram verdadeiras, e que os EUA deveriam "abandonar Israel".>
Ele sugeriu que Netanyahu "e seu governo ávido por guerra" estavam agindo de forma a arrastar tropas americanas para lutar em seu nome.>
"Se envolver nisso seria mostrar o dedo do meio para milhões de eleitores que votaram na esperança de criar um governo que finalmente colocaria os EUA em primeiro lugar", escreveu Carlson.>
Da mesma forma, a parlamentar Marjorie Taylor Greene, fiel escudeira de Trump, postou no X (antigo Twitter) que: "Qualquer pessoa que esteja almejando que os EUA se envolvam totalmente na guerra entre Israel e Irã não é America First/Maga".>
Isso representa uma vulnerabilidade considerável para Trump.>
E aumenta a pressão sobre ele para distanciar os EUA da ofensiva de Israel, e há sinais, pelo menos em público, de que ele respondeu a isso.>
A polêmica do Maga no fim de semana coincidiu com a publicação dele nas redes sociais de que havia se juntado ao presidente russo, Vladimir Putin, para pedir o fim da guerra. No domingo, ele disse que o Irã e Israel deveriam fazer um acordo, acrescentando: "Os EUA não tiveram nada a ver com o ataque ao Irã".>
O Irã já ameaçou atacar as bases dos EUA na região se, como está acontecendo agora, Washington ajudar na defesa de Israel.>
O risco de qualquer vítima americana provavelmente faria com que o argumento isolacionista do Maga crescesse exponencialmente, o que, por sua vez, poderia aumentar a pressão sobre Trump para que ele recuasse, e pedisse a Netanyahu que encerrasse a ofensiva mais rápido.>
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