Publicado em 17 de novembro de 2025 às 17:23
Os jogadores da bela e minúscula ilha caribenha de Curaçao estão a 90 minutos de fazer história na Copa do Mundo.>
Basta um empate com a Jamaica, na terça-feira (18/11) às 22 horas (Brasília), para que a seleção de Curaçao se classifique para a Copa pela primeira vez.>
O técnico da seleção da ilha, o holandês Dick Advocaat, tem 78 anos de idade. Ele já dirigiu, entre outras, a seleção da Holanda.>
Advocaat chegou no final de semana à capital jamaicana, Kingston, mas precisou voltar quase imediatamente por "razões familiares", segundo a federação de futebol de Curaçao.>
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"É uma decisão muito difícil precisar deixar os meninos aqui", afirmou Advocaat, em declaração por escrito. "Precisei tomar esta decisão com dor no coração, mas a família é mais importante que o futebol.">
"Da Holanda, ficarei em contato próximo com a equipe e tenho total confiança neste grupo de jogadores.">
"É uma má notícia para nós, mas entendemos que a família é sempre prioridade", declarou à TV pública holandesa NOS o goleiro Eloy Room, um dos 22 jogadores nascidos na Holanda que jogam pela seleção de Curaçao.>
"O técnico não precisa se preocupar, daremos tudo contra a Jamaica.">
Se conseguir a classificação, Curaçao se tornará o menor país a disputar uma Copa do Mundo.>
O recorde atual é da Islândia, que disputou em 2018, na Rússia. Mas Curaçao é muito menor.>
A ilha tem pouco mais de 150 mil habitantes — uma população equivalente, por exemplo, às cidades de Rio das Ostras (RJ) ou Santana de Parnaíba, vizinha à capital paulista — que moram em uma área do tamanho de Curitiba (PR).>
"É uma loucura e seria um dos maiores feitos da história de Curaçao", segundo o meio-campista Juninho Bacuna — que nasceu em Groningen, na Holanda, e já jogou nos clubes britânicos Huddersfield Town, Birmingham e Glasgow Rangers.>
Em entrevista à BBC Rádio 5 Live, ele destacou que "é maravilhoso e inacreditável. Ainda poucos anos atrás, você nem imaginaria isso, mas agora estamos muito próximos".>
"Certamente, queremos dar o melhor para nos classificarmos para a Copa do Mundo. Seria incrível fazer este sonho se tornar realidade.">
Curaçao fica a 60 km do litoral da Venezuela. O país só passou a existir como parte do Reino dos Países Baixos em 2010, após a dissolução das Antilhas Holandesas.>
Dez anos atrás, Curaçao estava em 150° lugar no ranking mundial da Fifa. Agora, é o 82°.>
O formato ampliado da Copa do Mundo de 2026, com 48 nações em vez de 32, e a classificação automática dos três países anfitriões (Canadá, México e Estados Unidos) ofereceram a Curaçao uma possibilidade muito maior de classificação.>
Em nove partidas pelas eliminatórias, a seleção de Curaçao venceu sete. A vitória contra a Jamaica em casa por 2 x 0 em outubro, um empate por 1 x 1 com Trinidad e Tobago e uma goleada de 7 x 0 sobre Bermuda, na sexta-feira passada (14/11), deixaram a ilha no primeiro lugar do grupo, faltando uma rodada para o final.>
No último jogo, Curaçao joga fora de casa contra a Jamaica, que está um ponto atrás e só se classificará com a vitória.>
O homem que levou Curaçao à beira da Copa do Mundo é um dos técnicos mais experientes do planeta.>
Desde janeiro de 2024, o holandês Advocaat dirige pela oitava vez uma seleção nacional, após três passagens como técnico da Holanda, além dos Emirados Árabes Unidos, Coreia do Sul, Bélgica, Rússia, Sérvia e Iraque.>
Ele ajudou a Holanda a chegar às quartas de final da Copa de 1994, nos Estados Unidos. Já a seleção sul-coreana dirigida por ele foi desclassificada na fase de grupos em 2006, na Alemanha.>
Advocaat também foi técnico de diversos clubes europeus, incluindo os holandeses Feyenoord e PSV Eindhoven, o Glasgow Rangers, da Escócia, o Zenit São Petersburgo, da Rússia, e o Sunderland, da Inglaterra.>
Ele só passou a ser o técnico de Curaçao após a resolução de uma disputa sobre pagamentos entre os jogadores e a associação de futebol do país. E, imediatamente, ele começou a preparação rumo à Copa do Mundo de 2026.>
Se Curaçao se classificar e ele continuar como técnico, Advocaat passará a ser o técnico mais idoso a atuar em uma Copa do Mundo masculina, superando o recorde do alemão Otto Rehhagel, que dirigiu a Grécia aos 71 anos de idade em 2010, na África do Sul.>
"Todos sabem que Dick Advocaat é um grande nome", destaca Bacuna. "É um grande técnico e todos respeitam suas decisões e a forma como ele trabalha.">
"Sua presença é muito importante para nós como equipe e também para o país. Ele tem sido realmente uma grande influência.">
"Começamos a trabalhar com ele na classificação para a Liga das Nações e observamos o crescimento da equipe, na forma em que trabalhamos e disputamos os jogos", segundo o jogador.>
Mas Advocaat não estará presente no próximo jogo, já que ele deixou a concentração por "circunstâncias particulares" no sábado (15/11).>
Na ausência do titular, a equipe de Curaçao deve ser dirigida pelos técnicos assistentes Dean Gorre e Cor Pot. Advocaat permanecerá em comunicação com seus assistentes sobre a preparação tática da equipe.>
Além do técnico holandês, a maioria dos jogadores da seleção de Curaçao nasceu na Holanda. Mas seus laços familiares permitiram que eles jogassem no time de Advocaat.>
A equipe conta com um lateral do time escocês Livingston, Joshua Brenet, e vários jogadores de times ingleses. Eles incluem o meio-campista do Rotherham Ar'jany Martha, o atacante do Middlesbrough Sontje Hansen e o meio-campista do Sheffield United Tahith Chong, que nasceu em Curaçao e já jogou na Premier League, pelo Manchester United.>
Para Bacuna, a seleção de Curaçao também ofereceu a chance de jogar partidas internacionais com seu irmão mais velho, Leandro, o capitão da equipe. Este foi um importante incentivo para ele, depois de ter jogado pela seleção holandesa sub-21.>
"Comecei a jogar por Curaçao em 2019 e foi uma grande decisão para mim", afirma Juninho Bacuna. "Na época, eu tinha apenas 21 anos e muito tempo pela frente, para jogar pela seleção nacional holandesa.">
"Mas tomei logo a decisão de jogar por Curaçao. Um dos motivos foi que posso jogar no mesmo time do meu irmão e a família pode nos ver jogar juntos.">
"A outra razão foi que, realisticamente falando, eu não tive chance de jogar pela seleção nacional holandesa na época", ele conta.>
"Vi muitos jogadores da minha idade jogarem pela seleção nacional da Holanda, mas eu não tive a chance de ser convocado. Por isso, decidi rapidamente jogar por Curaçao.">
Bacuna sente que o recente progresso futebolístico da ilha pode inspirar outros jogadores nascidos na Holanda a representar a equipe conhecida como A Família Azul.>
"Estamos observando mais jogadores ainda jovens, capazes de jogar pela Holanda, vindo jogar por Curaçao — fortalecendo ainda mais a equipe", destaca Bacuna.>
Curaçao joga pelo empate, mas a Jamaica do ex-técnico da Inglaterra, Steve McClaren, é a favorita para conseguir a vitória em casa, liderar o grupo e se classificar para a Copa do Mundo pela segunda vez (a Jamaica participou da Copa de 1998, na França, dirigida pelo técnico brasileiro René Simões).>
"O futebol talvez seja o esporte mais popular da Jamaica", segundo a jornalista esportiva jamaicana Karen Madden. "Mas esta é uma época muito difícil para o país, pois estamos lutando contra a devastação causada pelo furacão Melissa".>
"O que estamos vendo é uma força mobilizadora e tivemos imensa ajuda dos nossos parceiros internacionais e de muitos países que vieram ao nosso resgate, além de indivíduos que estão reunindo os jamaicanos e oferecendo apoio.">
"Quando conversamos com o técnico Steve McClaren, ele disse que os jogadores estão sob certa pressão", conta Madden. "A classificação para a Copa do Mundo seria de extraordinária importância e, realmente, levantaria o nosso ânimo.">
Quem perder entre Curaçao e a Jamaica ainda terá uma segunda chance de se classificar para a Copa do Mundo. O perdedor deverá enfrentar a repescagem intercontinental em março, que classificará apenas duas das seis nações participantes.>
Madden sentiu que os jogadores jamaicanos estão ansiosos para uma revanche contra Curaçao, depois da derrota sofrida em outubro passado.>
"Eu me lembro de assistir à partida pela televisão e o estádio estava repleto de torcedores de Curaçao", ela conta. "A Jamaica e a comunidade jamaicana de futebol ficaram surpresos e abalados pela derrota por 2 x 0.">
"Agora, com os papéis invertidos e Curaçao vindo jogar na Jamaica, no estádio nacional, a sensação é que a vitória será da Jamaica e ninguém imagina que possa acontecer o contrário", conclui Madden.>
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