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Nadadora capixaba cai em doping e pode ficar de fora das Olimpíadas

Nadadora capixaba cai em doping e pode ficar de fora das Olimpíadas

Patrícia Pereira testou positivo para duas substâncias no Parapan de Lima, no Peru, em agosto, onde conquistou uma prata e também um bronze

Publicado em 11 de setembro de 2019 às 01:37

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Patrícia Pereira está suspensa preventivamente após ser flagrada no antidoping no Parapan de Lima. (Cezar Loureiro/MPIX/CPB)

O Espírito Santo e o restante da delegação brasileira podem ir enfraquecidos para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, no Japão, no ano que vem. Isso porque a nadadora capixaba Patrícia Pereira testou positivo para duas substâncias durante a realização dos Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru, em agosto. A atleta voltou do país andino com uma prata nos 50m nado livre na classe S4 e um bronze nos 100m nado livre classe S5. Caso seja punida por doping, Patrícia pode perder as medalhas e também a vaga que tinha assegurada nos Jogos. 

Nadadora capixaba cai em doping e pode ficar de fora das Olimpíadas

Muito abalada e consternada com a situação, Patrícia optou por focar no recurso que fará e se manterá reservada até que tudo seja esclarecido. A atleta divulgou uma nota dando sua versão dos fatos. Até o momento, não foram divulgadas as substâncias que constaram no teste da nadadora. Em contato com a reportagem, o treinador de Patrícia, Léo Miglinas, que acompanha a atleta desde o início dela na natação, mostrou-se chateado com a suspensão prévia e disse acreditar na inocência da mesma.

"Para ser bem sincero, ainda estamos abalados com tudo. Tanto eu como a Patrícia. Temos uma relação de confiança muito grande e ela sempre foi muito atenta e responsável com tudo o que consome. Essa notícia foi devastadora, pois ela conseguiu ir ao primeiro Parapan dela, a única grande competição que faltava no currículo e ainda conseguiu dois pódios", detalhou.

POSSÍVEL CONTAMINAÇÃO

Ainda na Vila Parapan-Americana, em Lima, os responsáveis pelo controle antidopagem do evento comunicaram Patrícia e Léo sobre o teste positivo da nadadora. O treinador, então, questionou a atleta em busca de explicações e ouviu dela que não havia ingerido nenhuma medicação atípica, porém contou ter sido submetida a um procedimento estético, dias antes do embarque.

Além da prata, Patrícia ainda conquistou uma medalha de bronze em Lima. (Enrique Cuneo / Lima 2019)

"Tive uma conversa muito franca com ela logo após tomarmos ciência do fato. Ela me explicou que fez uma drenagem linfática cinco dias antes de seguirmos para o Peru em uma clínica, e nesse procedimento foram usados cremes corporais relaxantes. Além disso, ela contou ter ingerido duas cápsulas de chá-verde oferecidos na sessão, pois eram parte desse procedimento. Acredito que possa ter ocorrido uma contaminação dessas cápsulas ou até mesmo o corpo dela ter absorvido alguma substância proibida e que apareceu no teste de urina", explicou Miglinas.

PRÓXIMOS PASSOS

Treinador e atleta já estão se movimentando para recorrer de uma provável punição e evitar que Patrícia fique de fora dos Jogos Paralímpicos. No currículo ela tem uma prata conquistada nos Jogos do Rio-2016.

Patrícia Pereira é treinada há anos pelo técnico Leonardo Miglinas. (Arquivo Pessoal)

"Já estamos em contato com um advogado para entrarmos com um recurso para evitar que haja uma punição injusta. É muito difícil que não haja uma punição, pois no entendimento deles, o atleta é responsável por aquilo que ingere. Vamos tentar elucidar o que aconteceu, já pedimos uma amostra dos produtos utilizados e também das cápsulas para anexarmos à defesa. Confio na inocência da Patrícia. Caso não, ela jamais seria treinada por mim. Conheço a história de vida e sei da boa índole que tem.

Patrícia está suspensa preventivamente até que seja julgada e por conta desse impedimento, ela foi cortada da delegação brasileira que vai disputar o Mundial de Natação em Londres, na Inglaterra. Ainda no Pan, Patrícia não pode competir em uma das provas que estava qualificada.

CONFIRA A NOTA OFICIAL

"Sou atleta paralímpica desde 2009, quando iniciei minha carreira de maneira modesta na natação, porém já buscando desde o início me dedicar ao máximo aquilo que eu havia escolhido. Conquistei degrau a degrau muitas vitórias e em 2016, atingi o ápice da vida de um atleta de alto rendimento ao conquistar uma medalha de prata nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Com essa conquista, muitas competições e convocações para a Seleção Brasileira começaram a ocorrer e, também, o aumento da exigência no nível de treinamento.

Faltando apenas um ano para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, estava preparada para disputar duas importantes competições seguidas: Jogos Para-Panamericanos de Lima 2019 e o Mundial de Londres. Contudo, no dia 29 de agosto, ainda em Lima, fui notificada com a pior notícia que um atleta poderia receber: constataram que o meu exame antidoping possuía duas substâncias proibidas.

Minha primeira reação ao saber foi de total descrença, tendo em vista meu zelo de não aceitar qualquer comprimido ou líquido que não fosse os prescritos pela equipe multidisciplinar. E outra, porque meu tempos na competição foram longe dos meus recordes pessoais, mostrando que não estou sob efeito de nada que possa me beneficiar.

Sou uma pessoa tetraplégica, com limitações físicas, faço uso contínuo de medicamentos prescritos e sempre fui muito preocupada com meu corpo, minha imagem e, principalmente, sempre fui muito bem orientada pelo meu treinador e equipe multidisciplinar. Estou sempre alerta sobre o cuidado que eu deveria ter com as demais atividades que fazia fora do treinos específicos de natação, contudo, para manutenção da minha performance. Tenho uma série de outras atividades, procedimentos e orientações de profissionais nos quais tenho muita confiança.

Sempre prezei pela idoneidade e, nesse período como atleta no nível que atingi, já passei por aproximadamente cinco exames antidoping em mundiais, Jogos Paralímpicos e competições internacionais. Sempre fiz isso de maneira tranquila, por saber da minha honestidade e das pessoas que me cercam. Fiquei inconformada e ao buscar os motivos dessa impactante notícia que caiu sobre mim às vésperas de disputar a minha principal prova no Parapan de Lima, lembrei que fiz, de maneira ingênua, impensada e particular, com uma esteticista que não compõe minha equipe de profissionais, um procedimento de drenagem linfática dias antes de meu embarque para o Peru. Procedimento nada invasivo que para qualquer outra pessoa seria apenas um procedimento estético, mas para mim provavelmente tenha sido o motivo desse contratempo devido ao uso de chás, óleos e outras substâncias de uso tópico.

Estamos analisando criteriosamente cada componente usado e de maneira preliminar, tudo aponta para essas substâncias usadas pela esteticista, e ou uma reação associada aos medicamentos que utilizo em função da minha deficiência. Essa pode ser a explicação das substâncias encontradas no teste. Mas agora não é hora de procurar culpados e sim respostas.

Peço desculpas a todos que torceram por mim: família, amigos, toda minha equipe, treinador, meu clube, patrocinadores e aos outros profissionais que me assistem de maneira tão cuidadosa. Mas acima de tudo, peço um voto de confiança. A Patrícia que aqui assina jamais faria algo para levar vantagem de maneira desonesta.

Não utilizei e jamais concordarei em utilizar de maneira proposital qualquer substância que possa me beneficiar ilegalmente. Neste momento, estou muito abalada e buscando os caminhos legais para que as respostas sejam encontradas e para que eu consiga provar que os componentes ilegais eram de baixíssimos níveis e comprovar que não houve má fé. Vou continuar firme e forte em busca da tão sonhada medalha nos Jogos de Tóquio 2020.

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Não desistirei enquanto a verdade não aparecer e minha credibilidade seja reconquistada. Peço a compreensão de todos em respeitar minha privacidade, pois só haverá qualquer tipo de pronunciamento de minha parte e equipe técnica, assim que o processo for concluído”.

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