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'Tite é conservador e precisa abrir um pouco mais a cabeça'

"Tite é conservador e precisa abrir um pouco mais a cabeça"

Comentarista do canal SporTV, Ana Thais Matos, analisa os principais desafios do técnico nesse ano que se inicia

Publicado em 2 de janeiro de 2019 às 17:14

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Tite transformou a maneira da Seleção Brasileira jogar, mas acabou não alcançando os resultados esperados. Comentarista do SporTV, Ana Thais Matos dá um panorama do treinador no comando do Brasil.

O início de Tite na Seleção empolgou, mas veio a Copa, o Brasil apresentou um futebol aquém do esperado e acabamos eliminados precocemente. Em qual momento analisa que o time talvez tenha desandado entre a campanha nas Eliminatórias até a queda no Mundial?

"Não acho que o Brasil desandou na Copa do Mundo. O Brasil jogou no limite do que uma preparação feita em solo sul-americano permite. O Brasil não fez grandes desafios fora do continente porque disputava as Eliminatórias, tinha pouco tempo e precisava se classificar à Copa. Ele (Tite) assumiu a Seleção em sexto lugar e depois fez uma campanha brilhante, mas em um cenário onde o Brasil domina, pois é a melhor equipe do continente. Isso ficou provado nas disputa das Eliminatórias e na forma como foi montado o time. Agora na Copa do Mundo elevou muito o patamar de desafio para o Brasil. Acho que aí foi o grande problema. Para um técnico novato em solo internacional, mesmo com todo estudo e preparação que foram feitos, ficou nítido nos jogos contra o México e na eliminação diante da Bélgica, que o Brasil não estava preparado, que de fato a preparação para enfrentar um europeu de bom nível, e até mesmo o time mexicano, pareceu evidente que faltou o ajuste de alguns detalhes, principalmente porque o Brasil teve um pouco de dificuldades em montar o time que foi para a Copa. Além disso, vimos nosso principal craque jogando no sufoco, praticamente lesionado. O Neymar se recuperou da lesão no pé durante o Mundial. Foi nítido que ele ainda sentia incômodo no local. Na medida do possível ele até foi bem. A questão para mim toda foi a preparação."

Ana Thais Matos é comentarista do canal SporTV. (Divulgação/Sportv)

Acredita que Tite talvez tenha acabado de certa forma refém das próprias convicções?

"O Tite levou aqueles que foram com ele nas Eliminatórias, jogadores que ele confiava desde quando era técnico de clubes. O Brasil quando precisou elevar o nível não conseguiu pela falta de experiência dele e principalmente por ser fiel às próprias convicções, refém do que se viu durante as Eliminatórias. Isso acabou refletido na Copa do Mundo. O Brasil ainda é muito refém das atuações do Neymar, concentrado demais na liderança técnica dele. Acho que esse é o principal desafio do Tite. Encontrar outras referências e permitir que o Brasil não seja refém das boas ou más atuações do Neymar. Ele ainda não conseguiu encontrar uma forma do time jogar sem depender do Neymar. Infelizmente acredito que se o Brasil perder a Copa América, mais do que perder, a forma como vai ser disputada a Copa América, em questão de performance, vai dizer muito sobre o trabalho e a continuidade do Tite".

Em 2019 teremos a Copa América no Brasil. O técnico deve focar em conquistar essa competição como forma de recuperar um pouco do prestígio arranhado ou é mais necessário pautar na reformulação e evolução do padrão de jogo?

"O Brasil não tem nada a reformular. A zaga já era reformulada. Foi o Tite que deu um voto de confiança ao Thiago Silva na Copa do Mundo, mas já era uma zaga que tinha o Marquinhos titular durante toda a Eliminatória. O goleiro, assim como o meio de campo são jovens, apesar dele ter optado pelo Paulinho e Fernandinho no Mundial, hoje ele tem o Coutinho, o Casemiro, agora ainda vimos a chegada do Arthur. O ataque também vai nessa linha. O Neymar, o próprio Gabriel Jesus, que não foi tão bem na Copa por culpa do próprio Tite. Tem ainda o Firmino e outros nomes que estão surgindo. A Copa América não é um campeonato para reformulação. Essa palavra, aliás, tem que ser esquecida do vocabulário da Seleção. O que ela precisa é ter alternativas de jogo, algo que não tínhamos na Copa. A coisa mais diferente que o Brasil apresentou na Rússia foi o William flutuando contra o México. Depois disso não conseguiu mais."

Por fim, acredita que Tite conseguirá entregar o que dele esperamos na Seleção nesse novo ciclo de Copa do Mundo?

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"Eu contesto muitas coisas no trabalho do Tite, apesar dele ser o mais preparado ou um dos mais em solo brasileiro, acho que o fato dele ser refém das convicções dele, dos jogadores que chegam junto dele, de certa forma prejudica um pouco o trabalho da evolução da Seleção. Ele tenta a todo momento demonstrar que ele divide o trabalho com os auxiliares, que observa os jogos, tenta amistosos contra rivais melhores até a Copa América, mas na escolha de jogadores o Tite precisa abrir um pouco mais a cabeça. Ele é um técnico conservador e não espero nada muito diferente dele nesse sentido, mas a Seleção pede um pouquinho mais de ousadia, principalmente na hora de cortar e escolher jogador. Se voltarmos ao passado, já vimos Romário sendo cortado, outros nomes incríveis como o próprio Djalminha ficando de fora de uma Copa do Mundo. Acho que falta isso ao Tite. E não é fechando o treino como ele tem feito, esconder a escalação, que vão fazer o Tite ser diferente. Eu espero dele é que seja um pouco mais ousado. E a ousadia diz muito dele sobre a atitude dele como técnico e gestor de pessoas. Talvez seja necessário deixar de ser amigo e passar a ser técnico dos jogadores. Técnico de futebol exige um pouco mais de "sangue nos olhos". E isso não é quando você corre ali ao lado dos atletas ou com um gol, é quando você mostra ali nos bastidores, no dia a dia que você está acompanhando, por exemplo, um problema de comportamento como o caso do Douglas Costa, que cuspiu no rosto de um adversário, e pouco temo depois já estava de volta à Seleção. Acho que o Tite tem que mostrar qual o recado que ele quer dar a esse grupo de jogadores, muito mais do que para nós. Ele tem que demonstrar ter total controle sobre esse jogadores e que a qualquer momento ele pode cortar um deles caso não corresponda às expectativas fora de campo também."

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