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Flamengo bate recorde e escancara debate sobre futebol no streaming

Flamengo bate recorde e escancara debate sobre futebol no streaming

O duelo entre o time rubro-negro e o Boavista, válido pela quinta rodada da Taça Rio (segundo turno da competição), foi exibido no canal Fla TV em várias plataformas

Publicado em 2 de julho de 2020 às 18:21

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Flamengo venceu o Bangu no retorno do Carioca em um triste Maracanã
Flamengo venceu o Bangu no retorno do Carioca em um triste Maracanã. (Alexandre Vidal/Flamengo)

O Flamengo comemorou nesta quinta-feira (2) o desempenho obtido com a transmissão da sua partida pelo Estadual do Rio de Janeiro na noite de quarta (1º).

O duelo entre o time rubro-negro e o Boavista, válido pela quinta rodada da Taça Rio (segundo turno da competição), foi exibido no canal Fla TV em várias plataformas (YouTube, Facebook, Twitter e MyCujoo) e atingiu pico de 2,2 milhões de espectadores simultâneos, recorde para um jogo de futebol no streaming brasileiro. Ainda não foi divulgado o alcance total da transmissão.

Até então, essa marca pertencia ao Gre-Nal da Libertadores, em março, transmitido com exclusividade pelo Facebook e que atingiu pico de 2,1 milhões de visualizações durante uma briga generalizada entre os jogadores dos rivais no gramado.

A rede social possui os direitos do torneio sul-americano e, até a pandemia interrompê-lo, exibia com exclusividade no Brasil os jogos disputados às quintas-feiras.

No caso do Flamengo, a possibilidade de mostrar a partida ao vivo em um canal oficial surgiu a partir de uma mudança legal conduzida há duas semanas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O clube fez valer a Medida Provisória 984, publicada no Diário Oficial do último dia 18 e que dá ao time mandante -no caso de quarta-feira, o Flamengo- a prerrogativa de comercializar seus direitos de transmissão. Até então, o texto da Lei Pelé previa que esse direito pertencia às duas partes envolvidas.

A MP precisa ser aprovada ou rejeitada pelo Congresso em até 60 dias da sua publicação, renováveis pelo mesmo período. Até que isso aconteça, ela tem poder de lei.

O Flamengo é o único, entre os principais clubes do país, que poderia se beneficiar imediatamente do novo texto da lei. Isso porque o clube não assinou contrato com a Globo para as transmissões do Estadual deste ano.

A emissora tentou impedir a transmissão do jogo por ter contrato com as outras 11 equipes da competição, mas não obteve êxito. A Justiça do Rio de Janeiro indeferiu pedido de liminar da empresa no início da semana. Nesta quinta, a Globo comunicou o rompimento do contrato com a competição.

Enquanto isso, o Flamengo projeta os próximos passos da sua estratégia digital na exibição de partidas.

O jogo contra o Boavista tinha pouca importância esportiva, com o time rubro-negro já garantido nas semifinais da Taça Rio. No próximo sábado (4), o time fará a semifinal do segundo turno, em partida que deverá novamente contar com a transmissão da Fla TV.

Durante o jogo de quarta, torcedores puderam colaborar com pagamentos em dinheiro, como se fossem "ingressos virtuais" (contribuições espontâneas), por meio de um QR Code na tela, assim como fizeram músicos para arrecadar doações nas suas lives. Os números do faturamento ainda não foram divulgados.

Apesar de o clube demonstrar empolgação com o novo formato de transmissão e arrecadação, especialistas o veem com cautela, diante de uma demanda reprimida por eventos esportivos causada pela pandemia.

José Colagrossi, diretor-executivo do Ibope Repucom, diz que essa arrecadação com os "ingressos" pode não ser sustentável. "Os números [no Youtube] são menores que os de audiência na televisão, por mais que o streaming tenha um ótimo potencial. É o primeiro jogo do Flamengo [no formato], que tem a maior torcida do país e vive o seu melhor momento desde 1980", afirma.

Para Luis Padilha, da North Business Acceleration, que mede o impacto de audiência nos canais digitais, o modelo ainda é uma incógnita para todos os clubes. "Houve uma quebra de contrato, o que não é bom para nenhuma das partes do mercado, e existe uma demanda reprimida sem nenhuma transmissão, seja esporte ou até mesmo novela na televisão. Vamos ter que esperar para saber qual vai ser o efeito."

De qualquer forma, o tema provocou impacto no ambiente digital. O youtuber e empresário Felipe Neto, botafoguense declarado e que já patrocinou o clube do coração, escreveu em seu Twitter sobre o assunto. Para ele, o fato de a transmissão do Flamengo numa plataforma online ter atingido quase 25% da audiência da Globo no mesmo período é "absolutamente assustador".

"Se os especialistas do Flamengo forem minimamente inteligentes, montarão uma estrutura própria e irão revolucionar a forma de se fazer dinheiro com transmissão no futebol. O Flamengo já percebeu isso. A Globo já percebeu isso. Os outros clubes também. E está todo mundo embasbacado", afirmou.

Guilherme Bellintani, presidente do Bahia, também se manifestou no Twitter. Na sua opinião, o número de espectadores não surpreende e o principal desafio está na monetização: "Quanto os patrocinadores vão pagar por esse tipo de produto? Será uma nova TV aberta ou um novo pay-per-view? Ou uma mistura dos dois modelos, tipo um pay-per-view bem barato com ganho de escala?".

"Está enterrada a fase da preguiça no futebol brasileiro. Sejamos inovadores, audaciosos, trabalhadores. De marca própria de uniformes a canais próprios de streaming. Os clubes brasileiros que ficarem sentados em breve estarão deitados", completou o dirigente.

Em geral, a qualidade técnica da transmissão recebeu elogios dos torcedores que a acompanharam.

"Os replays foram reproduzidos de forma bem rápida após os lances e em nenhum momento houve problemas nas questão de travar as imagens por problemas de internet ou estrutura", afirmou o coordenador comercial Fernando Bozza Filho, 33.

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